Confira os principais pontos da entrevista de Lula ao Metrópoles
O ex-presidente criticou os manifestos pela democracia, disse que quer um debate com Moro e que não é “chucro”como Bolsonaro
atualizado
Compartilhar notícia
Em entrevista ao Metrópoles, nesta quinta-feira (04/06), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o governo Bolsonaro inexiste para dar conta dos problemas nacionais e reagiu às comparações entre ele e o atual presidente no sentido de que os dois teriam votos com motivações mais personalistas e pouco críticas: “Eu não sou ogro. Não sou chucro, não sou como o Bolsonaro”, disse Lula aos que apontam a polaridade entre os dois líderes.
O ex-presidente criticou manifestos lançados no último fim de semana e disse não ter sido convidado a assinar o documento. Também criticou o fato de não haver a citação do nome de Bolsonaro, nem referência a direitos dos trabalhadores nos movimentos. “Toda a vez que a sociedade começa a se mobilizar, uma parte da elite tenta tomar conta desse processo. As pessoas precisam entender que o Bolsonaro nesse governo é um bobo da corte”, disse o presidente.
Pandemia
Ao falar sobre a pandemia do coronavírus, Lula se solidarizou com pessoas que perderam parentes. “Há uma coisa que é de importância a gente começar expressando nossa solidariedade ao povo brasileiro. A todos os que estão contaminados e aos familiares das vítimas. Estamos vivendo um momento muito difícil. Ele é muito mais difícil quando a gente percebe que o governo não está agindo com a responsabilidade e o carinho que tem que agir”, avaliou.
O ex-presidente defendeu o isolamento social como forma de minimizar os efeitos da pandemia. “Até agora, só tem um jeito: a gente ficar isolado. Para isso, a gente precisa exigir que o governo dê muita pressa para o recurso que foi aprovado pela Câmara dos Deputados”, destacou o presidente.
O governo federal completa 70 dias que está prometendo dar dinheiro para os governadores e não repassa o dinheiro“, reclamou Lula da inércia do governo Bolsonanro perante a pandemia.
“Governo mesmo inexiste”
Para Lula, o grande desafio é o fato de Bolsonaro não ter se preparado para governar o Brasil. “Ele faz questão de colocar nos lugares errados, pessoas erradas. Você não coloca na educação alguém que quer desmontar e educação”, comentou
“Os filhos deles se intrometem demais nas decisões. Não tem ministério de indústria e comércio. O que é mais grave é que ele não dá nenhuma importância à gravidade do surgimento do vírus. O papel do presidente não é saber de tudo, é se cercar de gente que saiba e que possa orientá-lo”, defendeu.
O ex-presidente questionou a existência do atual governo. “A nossa sorte é que nós temos vários governadores preocupados. E temos uma rede como o SUS que finalmente está sendo valorizada e reconhecida. Também tem uma rede privada qualificada para cuidar de quem pode pagar, mas o governo mesmo inexiste”.
Manifestos
Lula criticou o manifesto Estamos Juntos, lançado no último fim de semana, por não fazer referências diretas ao governo de Bolsonaro e provocou: “Coisa interessante é que esse manifesto ganhou mais importância pelo fato de eu não ter assinado”.
“Toda a vez que a sociedade começa a se mobilizar, uma parte da elite tenta tomar conta desse processo”, disse o presidente que ainda apontou a falta de crítica à política econômica do governo no documento. “As pessoas precisam entender que Bolsonaro nesse governo é um bobo da corte. O Guedes [Paulo Guedes, ministro da Economia] é que corta salários, corta direitos. Ele disse naquela reunião: ‘Eu vou continuar fazendo reformas e vamos gerar emprego'”.
Aliança na esquerda
Lula disse ainda que não vai mais procurar aproximação com o ex-candidato pelo PDT, Ciro Gomes, e com a ex-ministra Marina Silva: “Eu fui durante muito tempo ‘Lulinha paz e amor”, contou. “A Marina foi fundadora do PT, saiu quando quis do governo e decidiu entrar em outro partido. Eu nunca a incomodei. Foi candidata três vezes, votou com Aécio [Neves], não votou na Dilma [Rousseff]. É muito grave isso”, lamentou. “Por mais que você goste de uma pessoa, se ela te dá muito coice, chega uma hora que você recua”, completou.
Ao falar de Ciro, Lula lembrou falas do cearense que ele considerou ofensivas. “O passado do Ciro Gomes no Ceará é muito grave. Ele já chamou candidata do PT de puta. Já bateu com a bandeira do PT na cabeça de petistas”, lembrou o ex-presidente.
Lula recordou o contexto de 2018, no qual ele gostaria de ter sido candidato do PT, caso não tivesse sido preso. “Se eu tivesse sido candidato. Se o Barroso [ministro Luís Roberto Barroso, do STF] não tivesse feito a patacoada de me colocar na Lei da Ficha Limpa, eu obviamente teria ganhado as eleições no primeiro turno”.
“Ninguém é mais compreensível do que eu para fazer política. As pessoas se esquecem que aliança política é uma coisa que nós sabemos fazer há muito tempo. O PT tem 220 vice-prefeitos. Significa que nós temos 220 cidades que o PT fez aliança com partidos políticos. O PT nasceu sob o dogma de que era ‘divisionista'”, disse.
Busca pelo Centrão
Lula não condenou a busca de Bolsonaro pelo Centrão como forma de tentar formar uma base no Congresso. Para o ex-presidente, a relação com o Parlamento jamais deveria ter sido criminalizada no país e que o presidente está sendo vítima da própria “língua despolitizada”.
“O ideal seria que ele conseguisse fazer isso com o seu partido, com os seus aliados. Mas não conseguiu, precisa de 250 votos. Agora, nem partido ele tem. Ou ele cria algum mecanismo dos deputados terem medo dele ou vai fazer o que todo mundo tem que fazer: conversar. Qualquer presidente pode conversar com um partido e oferecer cargo. É assim na democracia de todo o planeta terra”, argumentou.
Segundo Lula, Bolsonaro sempre falou que governaria sozinho, mas está “percebendo que rapadura é doce, mas é dura”. “Ele pode fazer acordo com os partidos. Necessariamente não tem que ter corrupção. Ele é mais vítima porque ele falou muita merda. E ele continua”, disse o presidente.
Ameaças à democracia
O petista ainda disse não acreditar que Bolsonaro poderia dar um golpe com apoio das Forças Armadas. Para ele, as corriqueiras ameaças não passam de “rompantes” do atual presidente e dos “generais de pijama” que o acompanham.
“Eu não vejo, a não ser os rompantes do Bolsonaro, clima pra você imaginar que as Forças Armadas entrariam em uma aventura e dariam um golpe. A coisa mais fácil seria dar o golpe, mas a coisa mais difícil seria administrar o golpe”, disse Lula.
Sergio Moro
Ao falar sobre o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio moro, o ex-presidente apontou que sonha em fazer um debate político com ele e o procurador da República Deltan Dallagnol. Os dois atuaram na Operação Lava Jato e foram responsáveis pela condenação de Lula no caso do apartamento do Guarujá, que levou o petista à prisão.
“Eu toparia fazer um debate com o Moro ao vivo. Eu, sozinho, sem nenhum diploma universitário, contra o Moro e o Deltan Dallagnol. Se eu pudesse ter um tête-à-tête com eles. É como eu posso me defender”, disse o ex-presidente.
Racismo
Em meio a uma onda protestos contra o racismo em todo mundo, o presidente se disse estarrecido com as declarações recentes feitas pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.
“O que tá acontecendo é muito grave, há muito tempo, e se agravou muito com a quantidade de jovens negros mortos na periferia. Eu fiquei pasmo com o presidente da Fundação Palmares. Ofender o povo negro como ele ofendeu, deveria ter sido exonerado ontem”, defendeu. “Ele deveria transitar na Esplanada dos Ministérios para o povo olhar bem pra cara dele e perceber que não tem moral, não tem ética para ser ministro e cuidar da igualdade social”, atacou.
“O negro era atração animal dos ricos desse Brasil. Eu não consigo imaginar o transporte dos navios negreiros. Fico imaginando um desdém daqueles, quatro policiais americanos sufocando até o cara morrer. Eu espero que aquilo que aconteceu nos Estados Unidos aconteça no mundo inteiro [protestos]. Ninguém é superior a ninguém”, completou Lula, em referência à morte de George Floyd, homem negro norte-americano morto por policiais.