Confira os 10 atropelos de Bolsonaro e sua equipe de transição
Presidente eleito e futuros auxiliares protagonizam atos e declarações que demonstram improviso e inexperiência com o governo federal
atualizado
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A estreia do presidente eleito, Jair Bolsonaro, na transição de governo em Brasília evidenciou a inexperiência e a incontinência verbal de uma equipe em formação. Em uma sequência de atos e declarações desastradas, o ex-capitão e seus futuros ministros provocaram confusão na área externa, trombaram com o Congresso e produziram atritos entre aliados.
Também ficou patente a distância entre as promessas de campanha e a realidade do país. Antes mesmo da posse no dia 1º de janeiro, propostas defendidas pelo candidato do PSL mostraram-se inviáveis para o próximo governo.
Na profusão de improvisos e trapalhadas, o economista Paulo Guedes, escolhido para comandar a área econômica, teve desempenho destacado. Os movimentos erráticos do guru de Bolsonaro nesse setor chamaram a atenção, particularmente, por envolver o destino financeiro do país.
Se uma das funções de um ministro da economia é criar expectativa de estabilidade, Guedes começou mal. Para o mercado, ficaram demonstrações de incertezas e improvisos.
O Metrópoles selecionou 10 episódios em que, depois de eleito, Bolsonaro e seus escolhidos mostraram pouca intimidade com os assuntos de governo. Confiram.
Orçamento – O caso mais grave de desconhecimento da administração pública teve Paulo Guedes como protagonista. Em conversa com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), na terça-feira (6/11), o futuro ministro revelou interesse em, depois de empossado, mexer no orçamento aprovado até dezembro. Estupefato, o senador explicou que não será possível fazer mudanças, pois as estimativas de receitas e gastos, segundo a legislação, são fixadas no ano anterior. Essa é uma regra elementar para o funcionamento da máquina federal.
Prensa no Congresso – O distanciamento de Guedes em relação aos assuntos de Brasília ficou demonstrado também na política. Durante entrevista concedida na terça-feira (6/11), ao falar sobre reforma da previdência, ele sugeriu uma “prensa” no Congresso para votar os projetos. A declaração pegou mal entre parlamentares, ciosos de suas prerrogativas e sensíveis em relação a ingerências externas. Como sinal de poder, no dia seguinte, o Senado aprovou o reajuste salarial de 16,38% para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), decisão que afeta as contas públicas e cria problemas para o próximo governo.
Embaixada em Jerusalém – Promessa de campanha, a transferência da Embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém foi anunciada pelo presidente eleito na primeira semana depois do segundo turno da eleição. A intenção de Bolsonaro provocou reação dos países árabes, grandes importadores de carne brasileira. A primeira retaliação partiu do Egito: foi cancelada uma reunião agendada com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, que iria ao Cairo com uma comitiva de empresários exportadores. Em consequência, o presidente eleito recuou e afirmou que a decisão ainda não está tomada. Com isso, ele deixa de atender uma reivindicação dos eleitores evangélicos, que tiveram grande peso em sua eleição.
Meio ambiente – Bolsonaro também mudou de ideia, pelo menos por enquanto, em relação à fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente. Além de desagradar aos ambientalistas, a intenção do presidente eleito, mais uma vez, chocou-se com a realidade dos exportadores. O crivo ecológico tem peso no comércio internacional e, sem essa chancela, o Brasil perde mercado no exterior.
Desemprego – Em entrevista à TV Band, Bolsonaro criticou a metodologia de cálculo dos números de desemprego no Brasil, em particular, o fato de beneficiários do Bolsa Família serem considerados entre os que têm postos de trabalho. Defendeu, como alternativa, a criação de uma “taxa de empregados” e, não, de desempregados. Responsável por esses levantamentos, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) rebateu o presidente eleito em uma nota com a informação de que o órgão segue os padrões internacionais.
Primeira baixa – O empresário Marcos Aurélio Carvalho foi afastado da equipe de transição depois de dizer, em entrevista, que era responsável pela comunicação do grupo durante a passagem de governo. Afirmou também que trabalhara como marqueteiro da campanha digital de Bolsonaro. Sem citar o nome de Carvalho, Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito, ironizou as declarações do empresário, a quem apontou como alguém que quer “se dar bem de algum jeito”.
Pavão e espanador – Presidente da União Democrática Ruralista (UDR), o empresário Nabhan Garcia é amigo de Bolsonaro. Ele tinha expectativa de ser nomeado ou indicar alguém de sua confiança para o Ministério da Agricultura. Ao perceber que perdia espaço na equipe de transição, irritou-se com Onyx Lorenzoni, indicado para a Casa Civil do futuro governo. Em mensagem para um grupo de WhatsApp, Garcia escreveu que já viu “muito pavão virar espanador”. Foi uma referência indireta à suposta vaidade de Lorenzoni com a relevância de seu papel no futuro governo. Na quarta-feira (7/11), o presidente eleito anunciou o nome da deputada Tereza Cristina (DEM-MS) para o cargo.
Alberto Fraga – Logo depois de eleito, Bolsonaro recebeu integrantes da “bancada da bala” para uma reunião. Na saída, adulou o amigo Alberto Fraga (DEM), deputado pelo DF: “Já anuncio aqui que quem vai coordenar a bancada no Planalto vai ser o Fraga”. A decisão teve imediata repercussão negativa nas redes sociais devido à condenação sofrida pelo parlamentar por recebimento de propina. Como o presidente eleito afirmara que não aceitaria condenados em sua equipe, o deputado foi desconvidado. Pelo menos por enquanto.
O caixa 2 de Lorenzoni – Indicado para o Ministério da Justiça, o juiz Sérgio Moro foi perguntado por repórteres sobre o fato de Onyx Lorenzoni ter recebido dinheiro de caixa 2 da empresa JBS, envolvida em vários escândalos. Moro respondeu que tem “grande admiração” por Lorenzoni, que teria assumido seus erros e se desculpado. Como Moro sempre considerou crime a prática de caixa 2, ficou clara a sua mudança de posição depois de escolhido para o ministério.
Moro, armas e movimentos sociais – As promessas de campanha de Bolsonaro também trombaram no perfil de Sérgio Moro. Conhecido pelo rigor com os investigados da Lava Jato, o futuro ministro da Justiça mostrou alguns pontos de divergência com as ideias do presidente eleito. Moro é contra, por exemplo, a criminalização dos movimentos sociais e a flexibilização do porte de armas. Ele também discorda da instituição do “excludente de ilicitude”, prerrogativa que permite a agentes estatais matar durante operações policiais sem sofrer punições. Nesses pontos, os próximos meses vão mostrar se vai valer a opinião do chefe ou a do subordinado.