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Precatórios: comissão aprova PEC com mudança no teto de gastos

Relator Hugo Motta apresentou novo relatório 20 minutos antes da sessão, mantendo teto de pagamento, mas alteração do período de cálculo

atualizado

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1 de 1 comissão_especial_precatórios - Foto: Marcelo Montanini/Metrópoles

A comissão especial da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 23/21, conhecida como PEC dos Precatórios, aprovou nesta quinta-feira (21/10), por 23 votos a favor e 11 contrários, o parecer do relator, deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB).

A votação foi concluída após a aprovação do texto-base e a rejeição dos oito destaques apresentados. A proposta prevê mudança no teto de gastos, junto com a restrição ao pagamento de precatórios (dívidas judiciais). Segundo Motta, abrirá um espaço fiscal de R$ 83 bilhões em 2022.

Vencida a etapa da comissão, o texto segue para o Plenário da Câmara, onde precisa de no mínimo 308 votos, em dois turnos, para ser aprovado. Depois disso, ainda terá que passar pelo Senado.

Entre as mudanças, está a data no intervalo de tempo para a medição do teto. Hoje, o montante é corrigido pela inflação de julho a junho. A correção proposta é que essa medição seja feita de janeiro a dezembro. O objetivo é permitir que o governo aumente o valor do Auxílio Brasil para R$ 400.

O governo enviará o projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) com base nas estimativas da inflação de junho, medida pelo IPCA, corrigindo os percentuais mês a mês e informando-os à Comissão Mista de Orçamento do Congresso.

Ao final da votação, o relator disse que a decisão de abrir espaço para pagar o Auxílio Brasil tem caráter político e que as repercussões disso no mercado não podem suplantar a necessidade de se ajudar, nesse momento, famílias mais necessitadas. Ele rechaçou as críticas de que a proposta tem objetivo de sustentar projetos eleitorais do presidente da República.

“As críticas fazem parte da democracia. É decisão política da Casa. Nós construímos esse texto a quatro mãos, não só na Câmara, mas também no Senado. A decisão é que nós tínhamos que fazer alguma coisa para cuidar dessas famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social. É uma decisão política. A consequências daquilo que o mercado interpreta, cabem ao mercado”, disse o deputado, após a votação.

Discussão

Durante a discussão da matéria, que durou mais de 6 horas, deputados ainda apontaram a crise no Ministério da Economia, com a demissão de quatro secretários que não concordaram com a disposição do governo de suplantar o limite de gastos.

“Os secretários de Guedes pediram demissão no dia em que a bolsa de valores fechou com queda e o dólar disparou. Não que o dólar disparar seja um problema para o governo, porque o patrimônio de alguns está protegido em dólar no exterior”, ironizou o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara.

“O governo se beneficia da inflação porque poderá gastar em ano eleitoral. O ministro da Economia se beneficia da alta do dólar, porque seus recursos estão protegidos em offshore”, continuou.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a ir à comissão em apoio ao relator. Ele tem articulado pela aprovação da proposta e disse que levará o texto ao plenário o mais breve possível.

Antes, deputados tentaram obstruir os trabalhos e reclamaram da falta de tempo para analisar o novo relatório apresentado pelo deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). O texto foi apresentado minutos antes do início da sessão. Três requerimentos de retirada de pauta e de adiamento foram rejeitados.

“Não é possível que a gente receba um relatório e em 20 minutos estejamos aqui votando ele, sem podermos analisá-lo”, criticou a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

O deputado Gilson Marques (Novo-SC) destacou que as alterações no relatório não foram esclarecidas e também pediu mais tempo para análise.

Hugo Motta, por sua vez, defendeu a proposta e rechaçou a ideia de “pedalada contábil” nos gastos públicos.

“O teto continuará a ser corrigido pelo IPCA, estamos mudando apenas o período”, defendeu. O parecer também propõe revogar a possibilidade de revisão do teto de gastos em 2026 por lei complementar, prevista desde a criação do arcabouço fiscal em 2016. Para outras alterações antes do fim da regra do teto, em 2036, seria necessária uma nova PEC, portanto.

“Estamos antecipando a revisão do teto de gastos para agora em razão da pandemia. Se o Congresso quiser revisar de novo, revogar o teto, terá que ser por emenda constitucional”, afirmou.

Relatório

O novo relatório de Motta mantém o teto de gastos para pagamento dos precatórios – que são dívidas judiciais da União com pessoas físicas e empresas e de pagamento obrigatório –, mas muda o período de cálculo da inflação.

O texto anterior corrigia o teto pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até junho do ano anterior ao de sua vigência. Na nova versão, a correção da inflação será de janeiro a dezembro, retroativamente a 2016.

A medida ajudará a abrir espaço fiscal para que o governo consiga pagar os R$ 400 do Auxílio Brasil, novo programa social que substituirá o Bolsa Família, anunciado nessa quarta-feira (20/10), sem indicar a origem dos recursos.

“Texto eu me esforcei para ele ser justo com quem precisa e responsável para o nosso país”, disse o relator. “A cada que perdemos estaremos tardando das pessoas carentes estarem recebendo ao novo Auxílio Brasil de R$ 400 que o nosso texto permite que o governo pague”, acrescentou.

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Grupo protesta contra o "calote" nos precatórios do Fundef
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A nova versão mantém diversos pontos já trazido no relatório anterior, como a possibilidade de parcelamento dos débitos de dívidas previdenciárias dos municípios, incluídas autarquias e fundações, com vencimentos até 30 de setembro de 2021, em fase de execução fiscal, e os parcelamentos anteriores, no prazo de 240 prestações mensais.

O texto prevê ainda negociação com o setor privado, com o uso do precatório para quitação de débito inscrito na dívida ativa, destinação de imóveis públicos na integralização de cotas em fundo privado de investimento em que a União seja única cotista.

A proposta estabelece que até 2029 os precatórios com valor acima de 60 mil salários mínimos poderão ser quitados com entrada de 15% e nove parcelas anuais, em ordem decrescente de valor.

Motta apresentou o primeiro relatório no último dia 7 de outubro e, após pedido de vista, a votação ocorreria na última terça-feira (19/10), mas foi adiada por dois dias consecutivos nesta semana por causa do anúncio do Auxílio Brasil por parte do governo.

Atualmente, o governo federal possui cerca de R$ 89 bilhões em precatórios que deverão ser pagos no próximo ano. O Ministério da Economia quer flexibilizar o parcelamento dessas dívidas judiciais para conseguir abrir espaço fiscal e criar o Auxílio Brasil, programa social que deve substituir o Bolsa Família em 2022, ano eleitoral.

Protesto

Um grupo com seis pessoas de entidades ligadas à educação, com UNE e UBES, levaram uma faixa com a mensagem “tira a tesoura da mão: contra o calote nos precatórios do Fundef” e a imagem do presidente Jair Bolsonaro com uma tesoura para acompanhar a sessão.

O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) cobrou o relator sobre o pagamento dos precatórios relacionados à Educação. O relator respondeu que a proposta não trataaobre o assunto. Motta conversou com o grupo, que se desmobilizou.

“Não estamos alterando vinculação de precatórios ou tratando sobre o direito dos professores, estamos priorizando os RPVs [Requisições de Pequeno Valor] de até R$ 66 mil. Depois de pagar estes, seguirá até o teto e todos os precatórios serão pagos – do Fundef e de outras naturezas. [O pagamento] vai obedecer uma ordem cronológica e, se o precatório for acima do teto, será pago no ano seguinte com valor corrigido”, explicou.

 

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