Com troca, Bolsonaro insiste em abrir “caixa-preta” do BNDES
No dia seguinte à demissão do ex-presidente do banco Joaquim Levy, o economista Gustavo Montezano foi indicado para a vaga
atualizado
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Depois que Joaquim Levy — ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) — pediu demissão da presidência do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou que insiste na apuração do destino dos recursos do banco. Com a indicação do então secretário do Ministério da Economia Gustavo Montezano, na noite desta segunda-feira (17/06/2019), a expectativa é de que o banco acelere a devolução de recursos para o Tesouro Nacional e aumente investimentos em infraestrutura e saneamento.
Segundo o porta-voz do Palácio do Planalto, Otávio do Rêgo Barros, Bolsonaro quer “abrir a caixa-preta do passado, apontando para onde foram investidos recursos em Cuba e na Venezuela, por exemplo” – tema sobre o qual o presidente insiste desde a campanha eleitoral.
Questionado, Rêgo Barros negou que haja perseguição a pessoas que integraram governos anteriores. “O presidente entende que eventuais pessoas que tenham participado de governos que colocaram o Brasil na situação catastrófica em que se encontra não devem compartir conosco a melhoria do Brasil. É nesse contexto que o presidente trabalha”, disse.
Para chegar ao nome de Gustavo Montezano, Bolsonaro se reuniu nesta segunda-feira com o ministro da Economia, Paulo Guedes, por duas vezes no Palácio do Planalto. “A substituição de um titular de qualquer órgão federal é considerada normal pelo senhor presidente em função do interesse público e da capacidade de colocar os projetos em andamento”, limitou-se a dizer o porta-voz.
Montezano já fazia parte do governo Bolsonaro, como secretário especial adjunto de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, por indicação do ministro. O economista estava fora do Brasil e voltou ao país para assumir o cargo.
Engenheiro mecânico pelo Instituto Militar de Engenharia e mestre em economia pela Ibmec, ele trabalhava diretamente com Salim Mattar. Aos 38 anos, foi sócio do BTG Pactual e atuava em Londres na ECTP (Ex- BTG Pactual Commodities).
Demissão de Joaquim Levy
Levy pediu demissão do cargo após Bolsonaro afirmar, no último sábado (15/06/2019), que o agora ex-presidente do banco estava com a “cabeça a prêmio”. Por ter sido ministro de Dilma, Guedes relutou em aceitar o nome de Levy para o BNDES, mas acabou cedendo devido à articulação política e à experiência do economista.
O racha entre Bolsonaro e Levy começou quando o chefe do Palácio do Planalto pediu que Levy demitisse o novo diretor de Mercado de Capitais da instituição financeira, Marcos Pinto.
“O Levy nomeou Marcos Pinto para o BNDES, e eu já estou por aqui com o Levy. Falei pra ele: ‘Demite esse cara ou eu demito você segunda, sem falar com o Guedes’”, contou. Pinto trabalhou como assessor do banco no governo PT.
No último domingo (16/06/2019), Levy divulgou uma carta pedindo desligamento do banco. “Solicitei ao ministro da Economia, Paulo Guedes, meu desligamento do BNDES. Minha expectativa é que ele aceda. Agradeço ao ministro o convite para servir ao país e desejo sucesso nas reformas”, escreveu.