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Com pandemia, agendas públicas de Bolsonaro diminuíram 37% em 3 anos

Desde 2019, compromissos públicos do presidente caíram de forma considerável. Aliados dizem que ele ganhou direito de terceirizar atividades

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Jair Bolsonaro
1 de 1 Jair Bolsonaro - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em três anos de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reduziu consideravelmente o número de compromissos oficiais. É o que mostra um levantamento feito pelo Metrópoles com base na agenda divulgada pelo Palácio do Planalto. A pesquisa levou em conta todos os compromissos divulgados pela Presidência de 2019 a 2021 e não considerou o tempo gasto em deslocamentos do presidente.

O ano de 2019, que marcou a estreia de Bolsonaro no comando do Executivo federal, foi o que o presidente mais cumpriu agendas públicas. Naquele ano, foram 2.002 compromissos oficiais.

No ano seguinte, a agenda de Bolsonaro sofreu uma redução de 19% em relação ao primeiro ano de mandato. No total, o presidente teve 1.610 compromissos públicos. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia de coronavírus, o que forçou o chefe do Executivo a dar uma pausa em viagens nacionais e internacionais.

Já o ano passado foi o que menos teve registros de agendas públicas de Bolsonaro. Enquanto o primeiro ano de governo somou mais de 2 mil compromissos, em 2021, foram publicadas 1.247 agendas. O número representa uma redução de 37,7% em três anos de governo.

Bolsonaro diminuiu agendas com Mourão em 85% desde o início do mandato

Aspectos secundários e pandemia

De acordo com o especialista em gestão pública e advogado Philipe Benoni, a redução das agendas públicas pode ter ocorrido pela priorização, por parte do mandatário do país, de compromissos pessoais ou que o beneficiassem em aspectos secundários.

Benoni explica que a agenda governamental envolve decisões sobre quais políticas públicas devem ser formuladas e quais devem ser deixadas de lado, como o relacionamento entre os Poderes e demais interesses da Administração Pública.

“Um dos critérios para se fixar a agenda é o fluxo de problemas – que são as necessidades ou descontentamentos da população para o qual a ação governamental é solicitada. Quando há uma expressiva redução dos compromissos oficiais, o que pode estar por trás é o negacionismo quanto à existência de um problema; o descrédito em relação ao assunto ou ao grupo que o defende; ou o governo pode ainda usar de recursos como o adiamento da resolução da questão”, diz o advogado.

Já Rodolfo Tamahana, professor e especialista em Ciências Políticas do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de Brasília, afirma que a diminuição pode ter ocorrido pela pandemia, somada aos encargos políticos que a questão sanitária trouxe consigo.

“Tendo o tema da pandemia com o plano de fundo, essa diminuição pode ter como origem uma decisão do presidente de se expor menos em dois fatores correlatos: a pandemia e todas as questões que surgiram, até a própria politização da questão sanitária – o que acabou gerando uma série de discussões, nas quais o presidente acabou se envolvendo. Não só o presidente, como também seus auxiliares diretos”, afirma Tamahana.

Tudo isso, segundo o cientista político, pode ter feito com o que o presidente Jair Bolsonaro tenha optado por se apresentar menos em eventos públicos de forma geral e escolhendo áreas estratégicas que chamam atenção de sua base eleitoral, como a área de segurança pública, por exemplo.

“Com o instinto de preservação, eventos públicos relacionados às forças de segurança, as forças policiais, ele teve uma participação mais presente, já para outras iniciativas, ele acabou optando por não participar, no instinto de preservação da sua figura e do que defende”, pontua.

A redução dos compromissos presidenciais também tem relação com o movimento que aliados definem como a “terceirização” da ala política do governo. Com a entrada do Centrão no primeiro escalão do Executivo, Bolsonaro “ganhou o direito de delegar” ao bloco a articulação política do Planalto com o Congresso Nacional.

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A nomeação de João Roma (Republicanos-BA) para o Ministério da Cidadania, em fevereiro de 2021, simbolizou o início do "noivado" de Bolsonaro com o Centrão
No mês seguinte, em março, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), também do Centrão, assumiu a Secretaria de Governo da Presidência, responsável pela articulação do Executivo com o Congresso Nacional e também pela liberação de emendas parlamentares
A consolidação do "casamento" do presidente com o Centrão ocorreu quando Bolsonaro entregou a "alma do governo" ao bloco, fazendo com que Ciro Nogueira (PP-PI) assumisse a Casa Civil, em julho de 2021
Na época, o governo era alvo da CPI da Covid-19, na qual senadores investigaram omissões do Executivo durante a pandemia de coronavírus. Em busca de apoio, o presidente concedeu a primeira e, até o momento, a única pasta titularizada por um senador
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A nomeação de João Roma (Republicanos-BA) para o Ministério da Cidadania, em fevereiro de 2021, simbolizou o início do "noivado" de Bolsonaro com o Centrão

Marcos Corrêa/PR
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No mês seguinte, em março, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), também do Centrão, assumiu a Secretaria de Governo da Presidência, responsável pela articulação do Executivo com o Congresso Nacional e também pela liberação de emendas parlamentares

Gustavo Moreno/ Especial para o Metrópoles
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A consolidação do "casamento" do presidente com o Centrão ocorreu quando Bolsonaro entregou a "alma do governo" ao bloco, fazendo com que Ciro Nogueira (PP-PI) assumisse a Casa Civil, em julho de 2021

Presidência da República
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Na época, o governo era alvo da CPI da Covid-19, na qual senadores investigaram omissões do Executivo durante a pandemia de coronavírus. Em busca de apoio, o presidente concedeu a primeira e, até o momento, a única pasta titularizada por um senador

Agência Senado

A agenda do presidente para 2022

As agendas cumpridas pelo presidente Jair Bolsonaro também têm diminuído nos primeiros dias do ano, quando o Legislativo e o Judiciário ainda estão no esquema de recesso. Até 21 de janeiro, por exemplo, o chefe do Executivo teve 62 agendas públicas.

Logo na primeira semana deste ano, Bolsonaro foi internado após uma nova obstrução intestinal, mas seu estado de saúde não evitou que o presidente fosse a um jogo de futebol horas depois de receber alta hospitalar. Nos dias seguintes à recuperação, ele concedeu entrevista para uma rádio do Rio Grande do Norte e participou de um culto da Fundação Neopentecostal e Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.

O número de agendas registradas nos primeiros dias de janeiro de 2022 é 44,6% menor se comparado ao mesmo período de 2019, quando foram cumpridas 112 agendas públicas. No mesmo período de 2020, foram 85 compromissos. No ano seguinte, em 2021, o número foi ainda menor: 63 agendas em 21 dias.

A expectativa para 2022 é que o presidente dispute a reeleição ao Palácio do Planalto. Nesse sentido, ele terá de seguir uma série de regras eleitorais que restringem quaisquer aparições e participações em eventos públicos na condição de pré-candidato.

Rodolfo Tamahana acredita que se continuar, a diminuição de agendas públicas podem, sim, afetar o desempenho da candidatura, mas ao mesmo tempo poupará o candidato de eventuais sanções da Justiça Eleitoral.

Por outro lado, o agente público no exercício do cargo tem uma vantagem em relação aos demais, uma vez que está à frente da máquina pública, o que gera exposição e maior relevância nos comentários que são feitos, segundo o cientista político.

“Uma diminuição das agendas pode impactar o desempenho do candidato, porque ele deixa de contar com o espaço de exposição, mas por outro lado, essa diminuição pode ser entendida como estratégia para que ele se concentre nas iniciativas que façam sentido para o fortalecimento da figura dele”, explica o especialista.

Abaixo, veja a comparação de agendas mês a mês ao longo do mandato do presidente Jair Bolsonaro.

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