Com críticas a deputados e manifestação na rua, governo segue sem base
MP que reduz ministérios será votada, mas sem que Bolsonaro avance no diálogo com parlamentares. Moro deve perder Coaf
atualizado
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Embora os líderes de partidos da Câmara tenham concordado em votar nesta semana a Medida Provisória (MP-870) que trata da estrutura administrativa do Executivo federal, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) segue sem construir uma base no Congresso e com um diálogo cada vez mais truncado com lideranças do chamado Centrão, decisivos para a aprovação de qualquer matéria de interesse do Planalto na Câmara.
Além dessas lideranças, o próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que abandonou meses atrás as articulações em nome do governo para tentar aprovar a reforma da Previdência, não esconde a irritação com o discurso que taxa os parlamentares de fisiologistas.
Os partidos de centro querem reagir a esta ideia e, por isso, desistiram de impor ao Planalto a dissolução do Ministério do Desenvolvimento Regional e seu desmembramento nas pastas de Cidades e Integração Nacional, ponto acertado na comissão especial e com os qual o presidente havia concordado.
A indisposição pública de Maia com o líder do governo, Major Vitor Hugo (PSL-GO), também faz pate desta reação. Maia deixou claro que concorda com os demais líderes e que não deverá tolerar insinuações que atentem contra os parlamentares. Na discussão na frente de todos os demais líderes, Maia citou mensagens trocadas pelo líder e verbalizou: “Se o deputado considera que diálogo é um pacote de dinheiro, me desculpe”.
Lavando roupa em público
Com quase cinco meses, o governo conta somente com a fidelidade de seu partido, muitas vezes envolto em embates internos e em lavagens de roupa em público, e com o Novo, somando cerca de 70 votos.
O rompimento anunciado por Maia coloca o líder do governo ainda mais isolado. Vitor Hugo não tem podido contar nem com seu próprio partido que o acusa de não conseguir angariar apoios. A posição de Maia reforça ainda a postura da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP, foto em destaque), líder do governo no Congresso, que não esconde críticas ao líder.
Ao falar sobre a votação da MP 870, Hasselmann disse que acredita em sua votação, antes de expirar o prazo, o que ocorre no dia 3 de junho.
“Se ninguém atrapalhar“, condicionou a líder, que tem tentado se destacar com uma postura mais aberta ao diálogo com os deputados. Nós não vamos conseguir aliados atacando aqueles que podem votar na gente, votar conosco, votar nos textos que são importantes para o governo”, ressaltou.
Não se consegue aliados atacando pessoas.
Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso Nacional
Temor exagerado
O acordo costurado por Maia acata reivindicações da oposição e do Centrão como a de tirar do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, o Controle de Atividades Financeiras (Coaf), instrumento que voltará para a pasta da Economia, comandada por Paulo Guedes.
Há cerca de duas semanas, a líder do governo chegou a insinuar um “temor” exagerado dos deputados em deixar o órgão nas mãos de Moro.
Em resposta, o próprio líder do PP, Artur Lira (AL) propôs que a votação fosse feita nominalmente, uma forma de demonstrar que não aceitarão constrangimentos impostos pelo palácio do Planalto.