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Ciro Nogueira enfrenta desafio de ser “amortecedor” sem parar Bolsonaro

Aliados avaliam que o senador licenciado entrou no governo em um mau momento e enfrentou derrotas, mas ainda está “organizando a casa”

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Nomeado para o estratégico cargo de ministro-chefe da Casa Civil em 28 de julho, Ciro Nogueira (PP-PI) entrou no segundo mês à frente da pasta com desafios ainda maiores do que aqueles que encontrou quando assumiu. Autointitulado “amortecedor”, em razão do papel conciliatório que se propôs a adotar, Ciro não conseguiu frear os arroubos autoritários do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Discreto e de atuação nos bastidores, o trabalho de Ciro Nogueira é bem avaliado por apoiadores do mandatário do país, que o veem ainda “organizando a casa” e tentam descolá-lo das derrotas recentemente impostas ao governo federal pelo Congresso. A análise é de que o novo ministro chegou ao Palácio do Planalto em um mau momento, marcado pelo acirramento dos embates entre o presidente Bolsonaro e o Judiciário.

A ida de Ciro Nogueira para a Casa Civil foi bem recebida por senadores, que se queixavam de estarem relegados a segundo plano pelo Planalto e até então sem representantes na Esplanada dos Ministérios. Ele abriu as portas da pasta federal para parlamentares, o que foi considerado um avanço em relação a seu antecessor, o general Luiz Eduardo Ramos, que tinha menos traquejo político.

“Ciro é um parlamentar muito respeitado, reconhecido como um homem que cumpre acordos, que tem palavra. Ciro é um cara experiente”, pontua o vice-líder do governo na Câmara e correligionário do ministro, deputado Evair de Melo (PP-ES). “Ele tem conseguido uma boa interlocução com os outros ministros, que é o papel dele, o da Casa Civil. Está dando muito fluxo às tramitações internas, aos trâmites internos, àquelas questões burocráticas. Ele tem melhorado muito a relação dos ministros com os parlamentares.”

Por outro lado, críticos do governo dizem que Ciro não foi capaz de frear o mandatário da República. “Ele tentou domar o Bolsonaro e não conseguiu. O presidente intensificou ainda mais os ataques contra as instituições e vem afrontando sistematicamente a democracia”, avalia o deputado Junior Bozzella (PSL-SP), ex-aliado do chefe do Executivo federal.

“O Ciro torce para o governo dar certo. Agora, o que eu vejo é o seguinte: tem algumas coisas em que o Bolsonaro é irredutível, eu acho que ele fica limitado. Eu tenho certeza que o senador Ciro Nogueira é totalmente contra. Eu acho que ele entrou lá, de certa forma, para tentar governabilidade”, diz o deputado Fausto Pinato (PP-SP). “O problema do Bolsonaro é que ninguém controla, ele não escuta ninguém”.

“Amortecedor”

Em sua cerimônia de posse, realizada em 4 de agosto no Palácio do Planalto, há exato um mês, Ciro Nogueira disse que seria o amortecedor do presidente. Detentora do prestígio de uma das principais lideranças do Centrão, a posse contou com número grande de autoridades e convidados no Palácio do Planalto, em uma das cerimônias mais cheias desde o início da pandemia.

“Eu gostaria que, toda vez que vossa excelência me visse, lembrasse de um amortecedor. Acho que é assim que posso ser mais útil ao Brasil, ao governo de vossa excelência, à política e às instituições, neste momento de grandes trepidações”, declarou o ministro na ocasião.

A fala foi repetida em outros momentos, inclusive quando Ciro recebeu de presente um amortecedor verde e amarelo de um amigo.

“Ciro tem esse perfil de moderação e agregador. Eu acho que ele lamenta por dentro algumas atitudes”, diz ele sobre ataques à democracia. “Mas ele tem atendido todo mundo”, pondera o correligionário Fausto Pinato.

Vitórias e derrotas

Além da questão do voto impresso, cuja rejeição ocorreu nos primeiros dias de Nogueira na Casa Civil, nesta semana a articulação do governo fracassou na negociação da minirreforma trabalhista, que previa a criação de novas modalidades de contratações (com menos direitos) e mudanças em normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A Medida Provisória (MP) sobre o assunto foi rejeitada pelo Senado, o que gerou críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que os senadores teriam se equivocado ao derrubar a proposta.

“O governo não opera com a lógica de vitória ou derrota”, diz o vice-líder do governo Evair de Melo. Na questão da minirreforma trabalhista, o parlamentar considera que o Senado foi movido por ideologia: “Tenho certeza de que o senador Ciro fez o melhor diálogo, levou os melhores argumentos, mas, por questões ideológicas, o Senado tomou uma outra postura. Não foi derrota do governo, foi derrota do Brasil”.

A interlocução com o Congresso segue difícil, o que se deve também à postura combativa do próprio presidente, que insiste em aumentar a tensão entre os Poderes.

O piauiense também falhou em impedir a apresentação do pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Entregue ao Senado por um funcionário do Planalto, o documento foi rejeitado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), menos de uma semana depois de apresentado.

“Ciro Nogueira falhou na missão de conter o agravamento da crise política e institucional que vem sendo causada pelo governo Bolsonaro”, analisa Bozzella.

Por outro lado, parlamentares reconhecem os esforços do novo ministro para atendê-los, o que se reflete em sua agenda, sempre recheada de encontros com deputados, senadores e também presidentes de partidos.

Além disso, há quem avalie que ele ajudou a conter os desgastes promovidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que acabou desidratada neste segundo semestre.

Próximo de Bolsonaro, o deputado estadual Frederico D’Ávila (PSL-SP) avalia que ainda não houve tempo para Ciro mostrar a que veio.

“Eu acho que ele faz esse papel de regulador de tensões. Ele não vai brigar com ninguém, vai sempre tentar compor”, defende D’Ávila. “Eu acho que agora que ele vai estar engrenando, até porque a gente estava vindo do recesso [parlamentar]”, observa.

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Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assina o termo de posse de Ciro Nogueira, em 4 de agosto
Bolsonaro disse esperar uma melhora na interlocução com o Congresso
Realizada em 4 de agosto no Palácio do Planalto, a cerimônia de posse de Ciro Nogueira foi uma das mais prestigiadas da atual gestão
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, também se reuniu com Fux para apaziguar os ânimos e defender harmonia entre os Poderes
Ciro Nogueira e Nelsinho Trad
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O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira

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Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assina o termo de posse de Ciro Nogueira, em 4 de agosto

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Bolsonaro disse esperar uma melhora na interlocução com o Congresso

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Realizada em 4 de agosto no Palácio do Planalto, a cerimônia de posse de Ciro Nogueira foi uma das mais prestigiadas da atual gestão

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O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, também se reuniu com Fux para apaziguar os ânimos e defender harmonia entre os Poderes

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Eliane Nogueira assume como titular no Senado

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Posso veio depois que Ciro Nogueira aceitou cargo na Casa Civil

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Natural de Teresina, Ciro Nogueira tem 52 anos e longa trajetória política, iniciada em 1995, quando tinha ainda 26 anos. Em Brasília, é considerado um “político profissional”. Foi deputado federal por quatro mandatos e está no segundo de senador. No PP desde 2002, foi presidente nacional do partido por oito anos e se licenciou do posto quando assumiu a Casa Civil.

Nas últimas eleições, declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 23,3 milhões em bens. É casado com a deputada federal Iracema Portela, filha do ex-governador do Piauí Lucídio Portella.

No passado, já apoiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Em 2017, durante entrevista à TV Meio Norte, Ciro afirmou que Bolsonaro “tem um caráter fascista”.

Rotatividade na Casa Civil

Ciro Nogueira é o quarto comandante da pasta em dois anos e meio de governo. Já passaram pela Casa Civil nomes como Onyx Lorenzoni, Walter Souza Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos.

Desde a mais recente troca no comando da pasta, o presidente Jair Bolsonaro tem afirmado que o antecessor de Ciro, Ramos, tinha “dificuldade” no “linguajar com o Parlamento”. Segundo Bolsonaro, Nogueira fará um “brilhante trabalho de aproximação” com o Congresso Nacional.

Ramos é amigo pessoal do presidente Bolsonaro. O general assumiu a Secretaria de Governo em meados de 2019. Como o militar não tinha experiência política, o seu fraco desempenho o levou a ser substituído pela deputada federal Flávia Arruda (PL-DF). Em março de 2021, ele foi para a Casa Civil, até voltar para a Secretaria-Geral com a chegada do senador do PP.

Entre as atribuições da pasta, está o assessoramento direto ao chefe do Poder Executivo. Por essa função, a pasta é tida como uma das mais importantes dentro do governo. O ministro despacha no próprio Palácio do Planalto, no quarto andar, um acima do gabinete presidencial.

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