Ciro Gomes diz que ida de Bolsonaro à Rússia é “desejo por exibição”
Ex-ministro acredita que o presidente pode colocar o Brasil em uma posição delicada com parceiros comerciais importantes
atualizado
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Se juntando ao coro de críticos da ida do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) disse que a viagem em um dos momentos mais delicados da geopolítica mundial “não passará de um indecente turismo com recursos públicos”.
Na visão dele, a agenda representa um “desejo por exibição e autopromoção” de Bolsonaro. As opiniões foram manifestadas pelo ex-ministro em publicações no Twitter feitas nesta segunda-feira (14/2), data em que o mandatário brasileiro embarca para Moscou.
Se Bolsonaro falar o que não deve, como é corriqueiro, colocará o Brasil em uma posição delicada com parceiros comerciais importantes. Seu desejo por exibição e autopromoção pode custar muito caro ao nosso país.
— Ciro Gomes (@cirogomes) February 14, 2022
A viagem ocorre em meio à escalada das tensões com a Ucrânia após a movimentação de tropas na fronteira no fim da semana passada.
Mais cedo, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (Podemos) também havia criticado Bolsonaro, a quem chamou de “trapalhão” que tem “a incrível capacidade de estar no lugar errado e na hora errada”. Na visão do ex-auxiliar do presidente, a viagem é um “constrangimento” para a diplomacia brasileira.
Convidado pelo presidente russo, Vladimir Putin, em dezembro de 2021, Bolsonaro viaja ao país no momento mais crítico da crise na região. Preocupada com o estreitamento de laços dos ucranianos com países ocidentais — devido à possível adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança ocidental de 30 países liderada pelos Estados Unidos —, a Rússia mantém 100 mil soldados perto da fronteira.
Na prática, Moscou vê essa eventual adesão da Ucrânia à aliança ocidental como uma ameaça à sua segurança. Os russos consideram fundamental manter a influência sobre o país em razão da localização estratégica. Posicionada entre a porção oriental da Europa e a Rússia, a nação tem sido uma espécie de zona de segurança ou grande muro usado pelos russos para resistirem a investidas militares.
A Rússia nega planos para invadir a Ucrânia, mas os Estados Unidos têm alertado para o que chamam de “intensificação” da atividade militar russa na fronteira com o país vizinho.
Na tentativa de evitar a invasão da Ucrânia, o presidente dos EUA, Joe Biden, ameaçou o presidente russo com “sanções severas”. Biden e Putin conversaram no sábado (12/2) por telefone por cerca de uma hora.
Agenda de Bolsonaro na Rússia
Bolsonaro vai se reunir com Putin na sede do Kremlin na próxima quarta-feira (16/2). Após, haverá um pronunciamento à imprensa seguido de almoço.
O chefe de Estado brasileiro ainda vai se encontrar com o presidente da Duma de Estado, Câmara Baixa do Parlamento russo, similar à Câmara dos Deputados brasileira. Também participará da entrega da oferenda floral no Túmulo do Soldado Desconhecido.
Na agenda, há ainda um encontro do presidente com empresários. A reunião deve ocorrer no Four Seasons, hotel cinco estrelas localizado na Praça Vermelha, principal cartão postal de Moscou. É nesse hotel onde Bolsonaro e boa parte da comitiva ficarão hospedados.
As agendas de Bolsonaro e dos ministros com autoridades russas e empresários serão relacionadas principalmente às áreas de defesa e de fertilizantes. Justamente as áreas nas quais Brasil e Rússia têm relação comercial mais robusta.
Na quinta-feira (17/2), o mandatário brasileiro vai a Budapeste se reunir com o primeiro-ministro da Hungria, o líder da extrema-direita Viktor Orbán. Não estão previstas agendas na Ucrânia.