Centrão desaparece das falas de principais influenciadores bolsonaristas
A aliança com partidos que foram acusados de fisiologismo pelo bolsonarismo é assunto inexistente nas redes de apoio ao presidente
atualizado
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A troca de cargos em órgãos públicos por apoio no Congresso não pega bem para os militantes bolsonaristas mais extremados. Entretanto, a prática está sendo adotada pela gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para romper o isolamento político do Palácio do Planalto. A maneira encontrada pelos influenciadores digitais de direita para lidar com esse problema, até agora, é fazer de conta que ele não existe.
Em grupos de WhatsApp, canais de youtubers direitistas e sites de apoio ao governo, as citações ao centrão e as críticas ao “toma-lá-dá-cá” praticamente desapareceram nas últimas semanas.
Considerado o principal modelo intelectual dessa ala mais radical, o escritor Olavo de Carvalho é um bom exemplo. Muito prolixo nas redes sociais, ele faz dezenas de postagens por dia, sobretudo no Facebook. E a última vez que ele dirigiu suas críticas ao presidencialismo de coalizão foi no último dia 20 de abril, quando disse que colocar o governo entre o acordo com o Congresso e a “ilusão positivista” de um governo técnico é escolha “entre o crime e a loucura”.
Logo depois, afirmou no Facebook, que para obter apoio parlamentar não era preciso dar cargo a ninguém. “Bastava ter um processo judicial montado contra cada um”. Desde então, os únicos congressistas na mira de Carvalho são os presidentes das Casas: Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do DEM. No mais, o professor de filosofia on-line tem se dedicado a bater no STF, nos governadores, na imprensa, no papa Francisco…
Veja as últimas postagens críticas à política agora adotada por Bolsonaro.
No jornal virtual bolsonarista Brasil sem Medo, a última vez que a palavra “centrão” apareceu em um texto foi em 13 de março. Era uma crítica a uma votação que, com o apoio do Centrão, concedia reajuste ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), com impacto anual de R$20 bilhões aos cofres públicos.
Desde então, a publicação se concentrou em inimigos como comunismo e globalismo.
Já o site Terça Livre, de Allan dos Santos e com linha editorial também fortemente alinhada ao governo, não ignora o tema completamente. A negociação com o Centrão não é tema de destaque no veículo, mas há um esforço para explicar o assunto sob uma ótica mais palatável.
Em podcast transmitido pelo Terça Livre no último dia 23 de abril, cujo título é “Bolsonaro se vendeu para o Centrão?“, Santos e um convidado, o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) conversam sobre o tema avaliando que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, estaria cada vez mais “queimado” e perdendo poder, de forma que alguns deputados que ficavam em sua órbita perceberam isso e estão abandonando o barco.
Esses deputados (que eles evitam tratar como sendo do Centrão) estariam, então, indo apoiar Bolsonaro por conta própria, e não a pedido de Bolsonaro e em troca de cargos.
“Ele inclusive disse que até pode indicar alguém, mas diz que não pode ser qualquer nome, tem que ter currículo técnico”, afirma Silveira.
Veja mais exemplos das últimas vezes que influenciadores bolsonaristas criticaram o Centrão: