‘Centrão’ começa a cobrar por apoio dado em votação
Em discursos tímidos, lideranças do PP, PR, PTB e PSB, que trabalharam a favor do afastamento, ressaltaram importância dos votos que “deram a Temer” e cobraram reconhecimento
atualizado
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Aprovado o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, partidos do “centrão” que votaram majoritariamente a favor do impedimento da petista no domingo (17/4) começaram a emitir sinais de cobrança ao vice-presidente Michel Temer.
Em discursos ainda tímidos, lideranças do PP, PR, PTB e PSB que trabalharam a favor do afastamento ressaltaram nessa segunda-feira (18) a importância dos votos que “deram a Temer”, classificados pela maioria deles como decisivos, e cobraram reconhecimento. “O PP é o partido que decidiu o processo e hoje tem uma força muito grande na Câmara e não tem como ser ignorado por quem quer que seja”, disse o líder da legenda na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). Dos 45 votos do PP, 38 (88,4%) foram a favor do impeachment.
No PP, as negociações com Temer estão sendo tocadas pelo presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), até duas semanas considerado “aliado” do governo Dilma. Em um eventual governo peemedebista, a legenda quer “manter” o Ministério da Integração Nacional e ganhar outra pasta “de Orçamento”, como Saúde ou Educação.
No PR, que deu 26 votos contra o governo da petista e apenas 14 a favor, a “prioridade” é manter o Ministério dos Transportes, atualmente ocupado por Antônio Carlos Rodrigues. A ala pró-Temer, contudo, ainda precisa convencer o comando do partido a apoiar o peemedebista.
Atualmente, o PR é comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, que cumpre prisão domiciliar por condenação no processo do mensalão. Neto tem se mantido fiel a Dilma, o que levou o deputado Alfredo Nascimento a renunciar, no domingo, à presidência da legenda, que ocupava oficialmente, para votar a favor do impeachment.
“O PR foi decisivo e poderia ter virado o jogo com os 26 votos que deu a favor do impeachment”, afirmou um influente deputado da legenda, sob condição de anonimato. No partido, as negociações com Temer estão sendo tocadas pelo ex-líder do partido, deputado Maurício Quintella (AL).
No PSB, as conversas com o vice-presidente são feitos pelo presidente do partido, Carlos Siqueira. Ele admite que Temer sinalizou a ele sobre a “possibilidade” de dar espaço à legenda em seu eventual governo. “Mas o mais importante que número é a qualidade do ministério e o que ele pode fazer para ajudar a sair da crise”, disse.
Na linha de outras lideranças que também negociam com Temer, Siqueira ressalta que o resultado da votação do impeachment “poderia ser outro” se não fossem os 29 votos a favor do impedimento que a bancada do PSB deu. Apenas três deputados da sigla votaram contra o impeachment.
Com 14 votos pró-impeachment e seis contra, o PTB sinaliza querer assumir alguma pasta ligada ao empresariado e à indústria “Temos um programa de reformas nessas áreas para entregar para ele”, disse a deputada Cristiane Brasil (RJ), que passou a presidência da sigla nesta semana a seu pai, Roberto Jefferson.
Agenda emergencial
O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, começou na segunda um ciclo de consultas a integrantes do partido sobre a participação em um eventual governo Michel Temer. A intenção é dar caráter institucional à aproximação e apresentar ao peemedebista uma plataforma que venha com o selo da “unidade partidária”.
O movimento ocorre no momento em que aliados de Temer ventilam a informação de que o senador José Serra (SP) é “cotado” para assumir o Ministério da Saúde, pasta da qual foi titular no governo Fernando Henrique Cardoso.
Aécio se reuniu na segunda em São Paulo com o ex-presidente tucano e apresentou a FHC uma lista de demandas genéricas que os tucanos apresentarão a Temer, caso o Senado confirme a decisão tomada pela Câmara no domingo e veja indícios de crime de responsabilidade suficientes para afastar do cargo a presidente Dilma Rousseff. Aécio divulgou uma imagem do encontro em sua conta no Twitter e mencionou a “agenda emergencial” planejada pelo PSDB.
O documento, que foi elaborado pelo senador tucano Tasso Jereissati (CE), defende a simplificação do sistema tributário, compromisso com programas sociais, reforma política e blindagem da Operação Lava Jato.
Na semana depois do feriado, Aécio se reunirá com a bancada do PSDB na Câmara e, em seguida, vai procurar os governadores do partido. O senador, que é contra a indicação de tucanos para cargos, dirá a Temer que o PSDB defende a montagem de um “ministério de notáveis”.
Entre as propostas que os tucanos apresentarão a Temer estão, ainda, a profissionalização das empresas públicas, dos fundos de pensão e das agências reguladoras, acabar com o “impasse” da legislação trabalhista e uma reforma política que inclua a cláusula de barreiras e o fim da reeleição.
Nas últimas semanas, Aécio tem repetido um bordão – “O PSDB não é beneficiário do impeachment” – e dito que, se houver a participação de tucanos em algum ministério, ela será em caráter individual.
O senador mineiro, candidato derrotado na disputa presidencial de 2014, enfrenta outra questão nas conversas sobre uma eventual aproximação com Temer. Aécio foi o principal fiador da ação que o PSDB move no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que virou um fator de constrangimento, já que poderia provocar também a cassação do peemedebista – a ação não pode ser retirada da pauta do colegiado.
No ano passado, já diante do desgaste da imagem de Dilma mas sem o avanço da mobilização pelo impeachment, o questionamento da chapa que elegeu Dilma e Temer foi o “foco” prioritário do PSDB. “A ação continua tramitando, mas não nos pertence mais”, diz o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PA).
A expectativa do jurista Miguel Reale Jr., autor do pedido de impeachment de Dilma, é que o processo se arraste até 2018, quando perderia objeto devido às novas eleições.
Discreto
Para evitar dar munição ao discurso de “golpe” do PT, Aécio decidiu ficar fora da comissão do impeachment no Senado e ceder a relatoria à senadora Ana Amélia (PP-RS). Ao indicar o aliado Antonio Anastasia (PSDB-MG) para a presidência do colegiado, o dirigente do PSDB espera dar um caráter “acadêmico e jurídico” ao debate no Senado.
Ex-governador de Minas Gerais, Anastasia é advogado constitucionalista e foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).