Cenário para Lula é desfavorável no Congresso mesmo com União Brasil
Caso União Brasil decida integrar base de Lula, novo governo teria apoio de ao menos 232 deputados e 31 senadores
atualizado
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Os recentes acenos do presidente eleito neste ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a lideranças do Centrão inflamaram as articulações no Congresso Nacional para construção de uma base sólida de apoio ao governo petista a partir de 2023. É fato que o futuro mandatário não será capaz de governar sem o auxílio de partidos do centro político, e que o obstáculo à nova gestão é enorme.
Se, de um lado, Jair Bolsonaro (PL) perdeu as eleições presidenciais, do outro, o bolsonarismo saiu vencedor na composição do Parlamento. Não à toa o atual titular do Planalto alavancou a eleição das maiores bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Foi o bom desempenho do PL nas urnas que acendeu, no partido, a vontade de comandar uma das Casas do Legislativo.
Lula sabe que terá de enfrentar uma oposição numerosa e barulhenta. Diante disso, trabalha nos bastidores com acenos ao Centrão na expectativa de conseguir demover a rejeição enfrentada dentro do Parlamento. Para isso, o petista decidiu incluir legendas, como PSD e MDB, na equipe de transição de governo; indicou apoio a Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a Presidência do Senado e deixou em aberto a possibilidade de endossar a reeleição de Lira para o comando da Câmara.
Ainda durante as tratativas, houve um primeiro contato frustrado entre PT e Progressistas. Em paralelo, os petistas tentam avançar nas negociações com Luciano Bivar (PE) para angariar o apoio do União Brasil na composição da base governista para o próximo ano. O deputado federal por Pernambuco já afirmou que não será “de jeito nenhum” oposição a Lula.
Mesmo se convencer o partido a integrar o governo, o petista não terá unanimidade dos filiados. Grande parte dos correligionários, inclusive Bivar, saiu do PSL – sigla que elegeu Bolsonaro presidente e fundiu com o Democratas para criação da atual legenda.
Hoje é grande a relutância de parlamentares eleitos em apoiarem o governo petista – em outros casos, essa cooperação é dada como impossível. Vale lembrar que entre os eleitos pela legenda está Sergio Moro (PR), algoz de Lula e responsável pela sua prisão no âmbito da Operação Lava Jato.
Quantos parlamentares teria a base aliada?
Considerando o apoio hipotético do União Brasil ao novo governo, Lula teria, a partir do próximo ano, ao menos 232 dos 531 deputados e 31 dos 81 senadores, conforme levantamento feito pelo Metrópoles.
O cálculo leva em conta todos os parlamentares eleitos filiados às legendas que já apoiam o atual presidente e desconsidera, entre os partidos do Centrão alinhados ao petista, os congressistas que se declaram opositores ao petista.
Lula, portanto, está longe de ter a maioria do Congresso. Ele enfrentará cenário adverso e tem conhecimento do obstáculo à sua frente. Nesta semana, em sua primeira agenda em Brasília, o presidente eleito voltou a defender o diálogo com opositores.
“Seria importante se a gente pudesse lidar só com as pessoas que a gente gosta, mas a gente tem que lidar com pessoas que pensam diferente da gente. A nossa obrigação é tentar convencê-las das coisas que nós queremos que aconteça neste país”, disse o petista na quarta (9/11).
“Congresso não vai criar problema”
O presidente eleito também tem ciência de que o Centrão será, novamente, determinante para a governabilidade. “O Centrão é uma composição de vários partidos políticos com quem o PT tem de aprender a conversar, eu e o Alckmin temos que aprender a conversar e tentar convencê-los da nossa proposta. Isso nós vamos fazer com muita competência, porque o Brasil não tem tempo de mais briga, de ficar essa turma se batendo, se xingando, se odiando”, completou.
“Eu estou convencido de que o Congresso não vai criar problema. Vai ter gente contra, vai ter gente favorável, vai ter gente que não gosta de nós. Não cabe ao presidente da República interferir no funcionamento da Câmara e do Senado. Nós somos poderes autônomos, nem eles interferem no nosso comportamento, nem nós no deles, e a sociedade vai viver tranquila e democraticamente, e as coisas vão acontecer”, assegurou o petista a jornalistas.