metropoles.com

Casamento, aborto e parto: ações federais abraçam pautas conservadoras

Reinserção dos temas em programas federais faz parte da estratégia da campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL)

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Igo Estrela/Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro acompanhado de Damares Alves Cristiane Britto, nova ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos participam da cerimônia “Brasil pela Vida e pela Família 2
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro acompanhado de Damares Alves Cristiane Britto, nova ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos participam da cerimônia “Brasil pela Vida e pela Família 2 - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Com a proximidade das eleições de outubro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sido aconselhado pelo grupo que trabalha pela sua reeleição a focar pautas conservadoras. Com isso, o governo federal tem investido na estratégia de propagandear a chamada “pauta de costumes”, como casamento, aborto, ideologia de gênero e família.

Nas últimas semanas, o chefe do Executivo federal voltou a citar pautas mais conservadoras após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter defendido a descriminalização do aborto. Aliados tanto de Bolsonaro quanto do petista viram a fala de Lula como um “palanque” para o atual mandatário da República, que tem aproveitado da oportunidade para polarizar ainda mais o clima eleitoral.

Na última terça-feira (7/6), o governo federal realizou o evento “Brasil pela vida e pela família”, no Palácio do Planalto, com o objetivo de “reforçar ações para a proteção da vida desde a concepção, além da promoção dos direitos da família e das mulheres”.

Em discursos oficiais, Bolsonaro tem feito declarações que evidenciam a oposição entre as pautas da direita e da esquerda. “O outro lado fala de aborto, isso de forma escancarada. Ataca os valores familiares o tempo todo, como no Decreto [nº 7.037] de 2009, do PNDH-3 [Política Nacional de Direitos Humanos], cujo capítulo mais importante é a desconstrução da heteronormatividade”, pregou o presidente durante o evento de terça.

Entre as medidas anunciadas na ocasião, está o curso “Casar é legal”, promovido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Com carga horária de 10 horas, a formação aborda temas como parentalidade, deveres dos cônjuges, regime de bens, família, diálogo e prevenção da violência doméstica.

Em uma das inserções partidárias do PL, sigla à qual o presidente é filiado, Bolsonaro apareceu em meio a jovens, falando sobre a importância da família. Na peça, o chefe do Executivo federal diz que “a família é a base da sociedade”, voltando a uma das bandeiras de sua gestão da “família tradicional brasileira”.

Em maio, o Ministério da Saúde publicou a nova Caderneta da Gestante, por meio da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, coordenada pelo ginecologista Raphael Câmara Medeiros Parente. Durante o lançamento do guia, o secretário minimizou a utilização do termo violência obstétrica, como são chamadas algumas práticas abusivas cometidas por médicos durante o parto, que não respeitam e violentam as gestantes.

“Vamos parar de usar termos que não levam a nada, como violência obstétrica, que só provoca desagregação, coloca a culpa no profissional único, o que não tem o menor sentido”, disse Câmara, durante o evento. O secretário também defendeu a realização da manobra de Kristeller — quando se empurra a barriga da mãe para expulsar o bebê. Condenada por profissionais, a prática é considerada violência obstétrica.

Bolsonarista, Câmara está no atual cargo desde 2020. Ele é defensor das cesarianas e um dos apoiadores do projeto de abstinência sexual como prevenção da gravidez, encampado pela ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves.

“É importante eu, como obstetra, falar que, dependendo da situação, e, concordo, em casos excepcionais, eles podem e devem ser feitos, e quem define isso é o médico. Não são leigos, não são militantes, não são ativistas”, pontuou. Câmara chegou a dizer que a manobra de Kristeller é “extremamente suave”.

“Todo aborto é crime”

O Ministério da Saúde publicou, nesta semana, o guia Avaliação Técnica para Prevenção, Avaliação e Conduta nos Casos de Abortamento, também assinado pela secretaria de Raphael Câmara. O documento reúne orientações atualizadas para garantir “acolhimento humanizado e atenção qualificada” às mulheres vítimas de aborto, de acordo com a pasta.

Chama atenção, porém, a defesa do argumento postulado no documento de que “todo aborto é um crime”, e as situações previstas em lei que permitem a adoção do procedimento são “excludentes de ilicitude”, em que a punição não é aplicada.

Veja o trecho completo:

“Não existe aborto legal, como é costumeiramente citado, inclusive em textos técnicos. O que existe é o aborto com excludente de ilicitude. Todo aborto é um crime, mas, quando comprovadas as situações de excludente de ilicitude após investigação policial, ele deixa de ser punido, como a interrupção da gravidez por risco materno. O acolhimento da pessoa em situação de aborto previsto em lei deve ser realizado por profissionais habilitados.”

O capítulo 3, intitulado Aspectos ético-profissionais e jurídicos do abortamento, finaliza com a afirmação de que o Estado brasileiro concorda, há mais de 30 anos, com acordos globais que recomendam a “prevenção de abortos de qualquer forma, com o intuito de fortalecer famílias e crianças, protegendo a saúde de mulheres e meninas”.

A atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto, tem se esforçado para reunir novos signatários ao Consenso de Genebra, tratado internacional “pela proteção da família e contra o aborto”.

Em maio, ela liderou uma delegação que esteve na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), junto aos outros países-membros, para incentivar uma espécie de busca ativa por novos signatários. Iniciado em parceria com o governo de Donald Trump, os Estados Unidos saíram do acordo quando Joe Biden assumiu a Casa Branca.

Na ocasião, entre os parceiros presentes na empreitada, estavam representantes do Egito e do Bahrein, locais que registram grandes restrições aos direitos das mulheres. Outros países autoritários assinam o documento, como Arábia Saudita, Congo, Sudão, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Belarus e Hungria.

Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?