“Capaz de matar”, diz ex de Eduardo Bolsonaro xingada de “vagabunda”
Filho do presidente eleito, deputado foi intimado a se manifestar sobre acusação de ameaça contra Patrícia Lélis, acusada de ser mitomaníaca
atualizado
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O deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) recebeu na terça-feira (30/10) mandado de intimação para se manifestar sobre a acusação de ameaça contra Patrícia Lélis, 24 anos, com quem o filho do presidente eleito Jair Bolsonaro teria se relacionado por três anos e oito meses. A informação é da plataforma Universa, que entrevistou a jornalista e detalhou a acusação.
Na época do relacionamento, terminado, segundo ela, no meio de 2016, Patrícia era assessora e líder do núcleo jovem do PSC, antigo partido da família Bolsonaro (hoje, eles são do PSL). Patrícia diz que o namoro foi conturbado. “O Eduardo é terrível. Chama as mulheres de gostosas, pega na bunda das pessoas. Eu vivia uma relação baseada no medo do que ele poderia fazer.”
Ao Universa, ela alegou que a relação terminou depois de o deputado federal Marco Feliciano (na época, também do PSC) ter tentado estuprá-la. Feliciano acabou inocentado da acusação e sempre negou qualquer envolvimento com a jornalista. “Pedi ajuda para o Eduardo e para o Jair, mas eles me mandaram ficar calada”, disse a mulher. Em julho de 2017, ela e Eduardo travaram uma briga por mensagens de celular, quando o parlamentar a teria ameaçado de morte. “Mais uma palavra e eu acabo com você”, teria dito o ex-namorado, chamando-a de “puta”, “vagabunda”, “otária” e disparado “enfia a justiça no c.”, quando ela ameaçou denunciá-lo. A intimação a Eduardo diz respeito a essa suposta ameaça. Ele nega as acusações e diz que nunca namorou Patrícia.
Denunciante foi desacreditada
Em agosto de 2016, a Polícia Civil de São Paulo (PCSP) revelou, baseada em laudo de psicóloga, que Patrícia Lélis é “mitomaníaca”. Ou seja, sofre de um transtorno de personalidade que faz a pessoa afetada mentir compulsivamente. Dias antes, a ainda estudante de jornalismo havia sido indiciada pela PCSP por denunciação caluniosa e extorsão. Ela dizia ter sido vítima de sequestro e cárcere privado supostamente cometidos por um assessor do deputado Feliciano que é policial civil aposentado e à época chefiava o gabinete do parlamentar.
Segundo o delegado Luiz Roberto Hellmeister, titular do 3º Distrito Policial (DP) paulista e responsável pela investigação, a jovem é uma “mentirosa compulsiva”. A polícia paulista também investigava Patrícia por ameaça. Em gravação obtida pela PCSP, a jovem ordenava que Talma Bauer, assessora de Feliciano, matasse um amigo dela. De acordo com a apuração, o assessor acusado de sequestro e cárcere privado também teria se recusado a obedecer a Patrícia e, por isso, acabou denunciado falsamente por ela.
Segundo o delegado, Talma Bauer admitiu em depoimento ter pagado R$ 20 mil a um amigo de Patrícia para que, em troca, ela parasse de acusar o deputado de tentativa de estupro. O rapaz que recebeu o dinheiro, o qual foi apreendido pela polícia, confirmou essa versão. Para a equipe do 3º Departamento de Polícia de São Paulo, a jornalista teria cobrado no total R$ 300 mil para ficar em silêncio.
Se somadas, as penas dos crimes de denunciação caluniosa e extorsão podem variar de 6 a 20 anos de prisão. A defesa de Lélis disse, à época, por meio de nota, que o indiciamento foi precipitado porque nem todas as testemunhas foram ouvidas e nem as provas da jornalista foram apresentadas.
No entanto, em abril de 2017, o Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou a acusação e tornou Patrícia ré por falsa comunicação de crime e extorsão de Talma Bauer.
Processo contra Eduardo continua
Em abril deste ano, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou o deputado Eduardo Bolsonaro por ameaça. A procuradora pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação do parlamentar, além do pagamento de R$ 50 mil de indenização. No início deste mês, o relator do caso no Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, enviou notificação para que Eduardo responda se aceita uma transação penal – benefício proposto pela PGR pelo qual ele se compromete a pagar 25% do seu salário de deputado, cerca de R$ 10 mil, a uma instituição de caridade, além de prestar serviços comunitários por 120 horas. Eduardo Bolsonaro tem 15 dias corridos para responder.
Segundo o advogado do deputado, Alexandre Dumaes, afirmou à Universa, Eduardo deverá se apresentar ao Ministério Público Federal nos próximos dias, informando que não aceitará a proposta de transação penal. Dumaes alega que a acusação se trata de “notícia falsa”. Segundo a defesa, as mensagens são uma montagem e Eduardo Bolsonaro “nunca namorou Patrícia”.
“Temos provas concretas de que o fato não ocorreu e esperamos a instrução criminal para provar que o que ela está falando é uma mentira. São mensagens que qualquer um pode montar. Na verdade, ela [Patrícia] está praticando crime de denunciação caluniosa”, diz Dumaes.
O advogado afirma ainda que, “dependendo da nossa estratégia”, pedirá uma perícia em ambos os celulares. De acordo com ele, não houve exame nos telefones que comprovem a veracidade das mensagens. Em nota, a PGR confirma que os aparelhos não passaram por perícia, “mas nada impede que eles possam ser periciados no decorrer da instrução processual”.