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Campeão de casos no Conselho de Ética, Boca Aberta intimida servidores

Na última sexta-feira (20/9) policiais legislativos foram chamados após denúncia de que o deputado estaria quebrando objetos no seu gabinete

atualizado

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Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
Boca Aberta
1 de 1 Boca Aberta - Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados

Depois de uma semana marcada por intensos debates em comissões e votações no plenário da Câmara dos Deputados, a sexta-feira (20/09/2019) da semana passada terminou como de costume: poucos parlamentares na Casa e servidores que davam expediente se preparando para ir embora. No Anexo 3, porém, o gabinete do deputado Boca Aberta (Pros-PR) destoava das demais alas do parlamento. Havia uma concentração de policiais legislativos, acionados por uma denúncia anônima de que o político paranaense estaria descontrolado a ponto de quebrar objetos do seu gabinete.

Com a chegada dos policiais, Boca Aberta contrastou com o comportamento que marcou a sua carreira e rendeu o apelido com o qual foi eleito. Ele estava tranquilo e amável. Se queixava, apenas, de um mal-estar. Ele foi encaminhado ao posto médico e liberado em seguida.

Essa foi a história que ele contou aos que procuraram por ele. Mas o Metrópoles esteve no local naquele dia e presenciou uma situação diferente. Uma servidora de um gabinete vizinho, que pediu para manter-se no anonimato por medo de represálias, foi a responsável pela denúncia. Ela relatou que ouviu gritos e xingamentos proferidos pelo parlamentar aos servidores de seu gabinete – algo que ela diz ser recorrente. “Sinto pena dos servidores do gabinete”, limitou-se a dizer.

E não é apenas a servidora vizinha que narra a história. No corredor, à esquerda do gabinete de Boca Aberta, novamente sob condição de anonimato, uma mulher de pele morena, magra e estatura baixa saiu chorando da sala do parlamentar. Em conversa com a reportagem, desabafou: “Não aguento mais esse cara. Ele está descontrolado. É um monstro”.

Outra servidora, essa encarregada da limpeza, que presenciou a cena, narrou a mesma versão. Sem querer se identificar, ela contou que não entra mais no gabinete de Boca Aberta porque tem medo. “Ele é grosso. Xinga os funcionários. Já presenciei várias vezes isso. Tenho medo dele”, diz a mulher.

Na segunda-feira (23/09/2019), os alvos foram dois servidores do Conselho de Ética da Câmara, que foram entregar um ofício ao deputado do grupo de trabalho que analisa processo por quebra de decoro parlamentar. A missão da dupla era colher a assinatura do político. Mas ele determinou que uma servidora de seu gabinete gravasse os servidores. Fabiano Lins, que trabalha no colegiado, tentou argumentar com o parlamentar, pedindo a ele que firmasse os papéis para voltar ao conselho. “O senhor não tem autorização para me filmar. Se fizer isso, vou lhe processar”, disse o servidor diante das tentativas do estafe de filmá-los.

Esses foram alguns dos momentos que têm marcado a curta e turbulenta passagem do deputado de primeiro mandato por Brasília. Com duas das sete representações levadas ao Conselho de Ética, ele é o campeão nesse quesito entre os 513 deputados. Um dos processos refere-se à invasão do Hospital São Camilo, em Londrina. Ao receber denúncia de demora no atendimento, o parlamentar entrou no dormitório dos médicos e começou a filmá-los para um quadro que intitula “Blitz da Saúde”. O autor da representação foi o PP.

Em outro episódio que também está no Conselho de Ética, o Ministério Público Eleitoral (MPE) encaminhou, no dia 12 de março de 2019, ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Jorge Mussi, parecer em que recomenda a cassação do mandato do deputado federal Emerson Miguel Petriv – nome de batismo de Boca Aberta. O autor da ação é Valdir Rossoni (PSDB), primeiro suplente de deputado.

Ele recorda que Boca Aberta teve mandato de vereador em Londrina cassado em 2017 depois de fazer arrecadação virtual para pagar uma multa eleitoral em razão da realização de campanha eleitoral em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) durante as eleições de 2016. No entendimento do TSE, Boca Aberta estaria inelegível, visto que disputou as eleições com liminar.

Reportagem presa 
O deputado foi procurado pelo Metrópoles nessa terça-feira (24/09/2019) para se posicionar a respeito das representações e dos relatos dos servidores. Por volta das 19h, ele pediu que a reportagem fosse ao seu gabinete. Inicialmente, foi cordial e não colocou objeções para que a conversa fosse gravada. Tão logo o celular foi colocado em cima da mesa, entretanto, o parlamentar pegou o aparelho e pediu que a única servidora presente no gabinete se posicionasse em frente à porta, impedindo a saída.

Ao ouvir o anúncio de que a entrevista, que mal tinha começado, havia acabado devido ao confisco, ele revoltou-se e chamou a Polícia Legislativa, que levou o repórter até a sede do agrupamento. Do caso, foram registrados dois boletins de ocorrência: um pelo parlamentar junto à Polícia Legislativa e outro pela reportagem, na 5ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal (Asa Norte).

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