metropoles.com

Advogados criticam “trâmite relâmpago” da PEC da imunidade parlamentar

Especialistas acreditam que a proposta não é inconstitucional, mas devido à recente prisão de Silveira, passa o recado errado à população

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Fábio Vieira/Metrópoles
O deputado federal e candidato à presidência da Câmara Arthur Lira (PP), durante coletiva de imprensa na Associação Comercial de São Paulo, na região central, nesta tarde de quinta-feira (21).
1 de 1 O deputado federal e candidato à presidência da Câmara Arthur Lira (PP), durante coletiva de imprensa na Associação Comercial de São Paulo, na região central, nesta tarde de quinta-feira (21). - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

A Câmara dos Deputados deve votar, ainda nesta quarta-feira (24/2), uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para restringir a eventual prisão e processos contra deputados e senadores. A proposta, defendida pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), quer alterar diversos pontos da Constituição. O tema foi pautado às pressas no plenário da Casa, sem que houvesse discussão.

Segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, é incomum que a matéria seja discutida em plenário antes de ter passado por alguma comissão ou discussão de admissibilidade constitucional. Eles não entendem que o texto seja inconstitucional, mas, sim, que a medida foi tomada de forma rápida demais, o que leva ao entendimento de que tem a ver com a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).

“Uma temática importante como essa merece debate sereno dentro do Congresso Nacional. A tramitação relâmpago da matéria no calor do momento em que os deputados Flordelis e Daniel Silveira encontram-se em situação delicada será certamente compreendida pela maior parte da população brasileira como resposta corporativista e que pode significar, na prática, aumento da sensação de impunidade”, disse o advogado Renato Ribeiro de Almeida, doutor em direito do Estado pela USP.

A PEC restringe a prisão, prevendo que deputados ou senadores sejam enviados para a custódia do Congresso após o flagrante. Com isso, a Câmara ou o Senado poderiam decidir onde manter o parlamentar, incluindo em sua própria casa, antes de uma audiência na Justiça para analisar a prisão.

Nesse caso, a audiência só poderia ocorrer após o plenário da Câmara ou do Senado analisarem a prisão. Na prática, se já estivesse em vigor, a medida impediria o que ocorreu no caso do deputado Daniel Silveira, em que um juiz auxiliar do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu sobre manter a prisão antes de ela ter sido analisada pelos deputados.

Reação ao Supremo

Nos bastidores, o entendimento do Judiciário é de que a PEC, encabeçada por Lira, é uma reação à decisão do Supremo sobre a prisão de Silveira. Procurado pelo Metrópoles, o ministro Marco Aurélio, do STF, afirmou que “vai aguardar” o andamento da medida antes de se manifestar.

De acordo com o advogado especialista em direito constitucional e sócio da Gomes, Almeida e Caldas Advocacia, Camilo Onoda Caldas, “claramente, o movimento do Congresso foi uma reação à prisão do deputado Daniel Silveira”.

“O que causa e estranhamento é que realmente foi a toque de caixa. Não é comum levar à votação uma PEC dessa envergadura. O certo seria passar por comissões, haver um certo debate em torno disso. Mas não existe ilegalidade no que eles estão fazendo. É o fato de eles levarem isso tão rápido para deliberação que deixa claro que a decisão tem o sabor do momento que o Congresso está vivendo e daquilo que ele pode viver mais adiante”, disse.

Constituição

Em resumo, a proposta altera, entre outros dispositivos, o artigo 53 da Constituição sobre inviolabilidade parlamentar que prevê que o político no exercício do mandato será julgado pelo STF. O texto determina que a prisão em flagrante só pode ocorrer se for inafiançável, e que a responsabilização por eventuais opiniões e votos ocorra em processo ético-disciplinar por quebra de decoro parlamentar.

Atualmente, a Constituição determina que parlamentares, quando assumem o cargo, serão julgados pelo STF. A PEC acrescenta que esse julgamento perante o Supremo será “em processos relativos a crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções parlamentares”.

Para os especialistas, a intenção da proposta é esclarecer o entendimento sobre a imunidade parlamentar.

“Já havia uma polêmica, entre os criminalistas, se era possível prisão nesta hipótese, porque a visão mais restritiva do direito penal entende que só poderia haver prisão nos crime que a Constituição considera inafiançável (como racismo, terrorismo). O que os deputados querem fazer é deixar mais claro, restringir essa possibilidade de interpretação. Porque o raciocínio e a construção do STF não são tecnicamente absurdos, há quem defenda essa posição”, disse Caldas.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?