Bumlai diz que ex-assessor de Lula pediu para “deixar a obra” do sítio
A declaração foi feita à Polícia Federal. Bumlai cumpre prisão domiciliar e fez declarações que sinalizam a dúvida de quem é o real proprietário do sítio em Atibaia
atualizado
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O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarou à Polícia Federal nesta quarta-feira, 17, que o ex-assessor especial do petista no Palácio do Planalto, Rogério Aurélio Pimentel, o procurou e pediu que “deixasse a obra” do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP).
A conversa, segundo Bumlai, ocorreu em 2010. Na ocasião, o pecuarista estava ajudando na ampliação das acomodações do sítio, segundo afirmou, a pedido da então primeira-dama, Maria Letícia. Bumlai depôs no inquérito da Operação Lava Jato que investiga o ex-presidente como real proprietário do Santa Bárbara – o que é negado taxativamente pela defesa de Lula.
Segundo Bumlai, Marisa pediu a ele que os ajudasse na ampliação para que pudesse “passar os finais de semana”. O pecuarista afirmou ao delegado Márcio Anselmo, da PF, que solicitou a um engenheiro da usina da sua família que atendesse o pedido da mulher de Lula. Depois, disse Bumlai, “não teve mais contato com o assunto”. “O engenheiro providenciou tudo.”Muito debilitado por um câncer na bexiga e complicações cardíacas, o pecuarista chegou e saiu da sede da PF em São Paulo amparado por seus advogados, Daniella Meggiolaro e Conrado Almeida Prado.
Ele está em regime de prisão domiciliar, mas o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, determinou seu retorno à prisão fechada no dia 23. Bumlai é réu em ação penal por causa do emblemático empréstimo de R$ 12 milhões tomado por ele junto ao Banco Schahin, em outubro de 2004. O dinheiro foi destinado ao PT. Bumlai diz que foi “o trouxa perfeito do PT”.
Sobre as obras no Santa Bárbara, na PF o pecuarista relatou que “após uns dias, recebeu ligação de Aurélio para deixarem a obra, pois não estava andando a contento”. O então assessor especial de Lula informou que “uma construtora de verdade iria tocar a obra”. De acordo com Bumlai, “tinham pressa na reforma”.
O próprio Aurélio já depôs à PF, no dia 4 de março, na Operação Aletheia – desdobramento da Lava Jato que pegou Lula e o conduziu coercitivamente para uma sala no Aeroporto de Congonhas. Aurélio disse, na ocasião, que exerceu a função de assessor especial desde janeiro de 2003 até 2011 – antes, foi chefe do Almoxarifado da Prefeitura de Mauá, na Grande São Paulo.
Em seu depoimento, Aurélio resumiu a obra – “construção de bloco de quatro suítes, bem como a reforma da piscina” – e revelou ter levado “envelopes com dinheiro” para efetuar pagamentos em um depósito de materiais de construção.
“Não sabe dizer quem pagava pelos custos dos materiais comprados e usados na obra. Chegou por duas vezes a levar envelopes com dinheiro para pagar no depósito de materiais de construção, pelos materiais usados na obra, sendo que recebia os envelopes com o dinheiro da pessoa de Frederico e entregava os envelopes ao responsável pelo depósito”, disse o ex-assessor de Lula, na época.
Defesa
Em nota, os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esclarecem, em relação ao depoimento prestado hoje pelo Sr. José Carlos Bumlai à Polícia Federal, que:
(a) A Operação Lava Jato não pode ter qualquer dúvida sobre a propriedade do Sítio de Atibaia. Desde março, os investigadores dispõem de farta documentação fornecida pelos proprietários – Fernando Bittar e Jonas Suassuna – comprovando, dentre outras coisas, que (i) eles adquiriram a propriedade com recursos próprios e (ii) pagaram com recursos próprios manutenção e reformas no local. A prova sobre a propriedade de um imóvel é documental, e já foi feita pelos donos do sítio;
(b) O ex-presidente, portanto, não é o proprietário do Sítio de Atibaia, que pertence às pessoas que efetivamente constam no título de propriedade arquivado no Cartório de Registro de Imóveis;
(c) O ex-presidente – que é amigo de Jacó Bittar há mais de 40 anos – frequentou o local com seus familiares a partir de 15/01/2011, a convite dos proprietários. Tal fato não é crime, e tampouco existe qualquer elemento concreto que possa vincular uma investigação sobre a propriedade à Operação Lava Jato.