Bolsonaro veta nome da médica Nise da Silveira no Panteão da Pátria
Na justificativa, o presidente alegou que “não é possível avaliar o trabalho e o impacto do legado da médica no país”
atualizado
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Sob o argumento de que “não é possível avaliar o trabalho e impactos no país” dos trabalhados da renomada médica psiquiatra Nise Magalhães da Silveira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou a entrada do nome da estudiosa no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.
“Não é possível avaliar, nos moldes da lei, a envergadura dos feitos da médica Nise Magalhães da Silveira e o impacto destes no desenvolvimento da nação, a despeito de sua contribuição para a área da terapia ocupacional”, argumenta a Secretaria-Geral da Presidência da República.
Segundo o texto, o presidente de República ouviu as pastas ministeriais e “decidiu vetar a proposição legislativa, pois prioriza-se que personalidades da história do país sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do estado democrático”, completou a justificativa.
O presidente ainda argumenta que o veto “preserva os anseios sociais” do referido “momento político brasileiro”, mas não desmerece as “contribuições no âmbito da saúde mental de Nise Magalhães da Silveira”.
O pedido de inserção do nome de Nise no acervo que reúne 43 herois e heroínas do país foi iniciado pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-PR) e havia sido aprovada no Senado Federal, no dia 27 de abril. Regulado pela Lei nº 11.597/2007, o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves é um memorial cívico destinado a homenagear brasileiros que, de algum modo, serviram a nação brasileira.
Além de ter os nomes registrados no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria ou Livro de Aço, as figuras têm sua trajetória contada no espaço cultural Centro Cultural Três Poderes, na Praça dos Três Poderes, no centro de Brasília.
Reconhecimento mundial
Mundialmente reconhecida por revolucionar o tratamento de saúde mental no Brasil, Nise Magalhães da Silveira (1905-1999) nasceu em Maceió. Psiquiatra renomada, foi aluna de Carl Gustav Jung e começou a atuar no Rio de Janeiro em 1927. Formou-se em medicina em 1926, pela Universidade Federal da Bahia (FMB-UFBA) sendo uma das primeiras mulheres brasileiras a se formar no curso, no país.
Ao começar a atuar na área, durante a década de 1940, Nise rebelou-se contra os métodos manicomiais que eram aplicados em pessoas que possuíam transtornos mentais, como o eletrochoque, a lobotomia e o confinamento, entre outros, hoje extintos.
Por contrariar os métodos tradicionais, a médica foi transferida para a área de terapia ocupacional, na qual desenvolveu métodos mais humanizados para o tratamento dos pacientes. Uma das práticas bem sucedidas elaboradas por Nise diziam respeito aos tratamentos por meio da arte e inserção de animais.
A produção artística de alguns pacientes tratados pela médica chegou até a ganhar reconhecimento pelas probabilidades de recuperação e, pela estética impecável. O Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro e o Museu de Arte Moderna de São Paulo abrigam alguns dos trabalhos.
Veja alguns dos prêmios que a psiquiatra recebeu:
- “Ordem de Rio Branco” no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores (1987)
- “Prêmio Ciccillo Matarazzo Personalidade do Ano de 1992″, da Associação Brasileira de Críticos de Arte
- “Medalha Chico Mendes”, do grupo Tortura Nunca Mais (1993)
- “Ordem Nacional do Mérito Educativo”, pelo Ministério da Educação e do Desporto (1993)
Em 1936, Nise acabou denunciada por envolvimento com o comunismo e foi presa durante 1 ano e 6 meses no presídio Frei Caneca, com o conterrâneo Graciliano Ramos, que a converteu em personagem do livro Memórias do Cárcere. Ao sair da prisão, viveu na clandestinidade por nove anos.
A psiquiatra morreu no Rio de Janeiro em 1999, aos 94 anos. Entre 1971 e 2014, recebeu 29 homenagens, entre títulos, medalhas, prêmios e diplomas. A partir de seu trabalho, outras 16 instituições foram criadas.
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