Bolsonaro sobre “botar cara no fogo” por Milton Ribeiro: “Exagerei”
Presidente disse, no entanto, que confia no ex-ministro, colocaria a mão no fogo por ele, e que prisão ocorreu “sem materialidade”
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (23/6) que “exagerou” ao dizer que colocaria “a cara no fogo” por Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo, investigado por suposto esquema de liberação de verbas da pasta, mediante propina a pastores evangélicos. Ribeiro chegou a ser preso, mas foi solto nesta quinta (leia sobre o caso mais abaixo). Contudo, o chefe do Executivo federal afirmou que continua a confiar no ex-auxiliar, tanto que colocaria ” a mão no fogo por ele”.
Em março, quando o suposto esquema foi revelado, Bolsonaro saiu em defesa de Milton e disse que as acusações eram uma “covardia”. “O Milton, coisa rara de eu falar aqui, eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele”, declarou o presidente na ocasião.
“Eu falei lá atrás que botava a cara no fogo por ele. Eu exagerei, mas eu boto a mão no fogo pelo Milton. Assim como boto por todos os meus ministros, porque pelo o que eu conheço deles, a vivência, dificilmente alguém vai cometer um ato de corrupção”, disse durante sua transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta.
Veja o momento:
Após prisão de Milton Ribeiro, @jairbolsonaro diz que exagerou ao afirmar que colocava “a cara no fogo pelo ex-ministro, mas que acredita nele.
“Não foi corrupção como em governos anteriores. Foi história de fazer tráfico de influência”, justificou
Leia: https://t.co/PlfJGa8mLr pic.twitter.com/vcPx5FfzlJ
— Metrópoles (@Metropoles) June 23, 2022
Na live, o presidente ainda citou uma movimentação “atípica” na conta bancária de Milton Ribeiro, que foi indício determinante para a Justiça Federal decretar a prisão do ex-ministro da Educação.
Ribeiro teria recebido um depósito suspeito de Arilton Moura, um dos pastores presos na operação que investiga um esquema de corrupção no MEC. Aliados do ex-ministro sustentam que o depósito seria referente à venda de um carro da esposa dele, Myriam Pinheiro Ribeiro, a Victoria Bartolomeu, filha de Arilton.
Bolsonaro defendeu o argumento do ministro de que o dinheiro era referente à venda de um carro, e afirmou que a prisão de Ribeiro ocorreu “sem materialidade”.
“Ué, cada um pode ter R$ 50 mil na sua conta, pode ter R$ 100 mil na tua conta. Se você vender um imóvel hoje, você pode ter R$ 200 mil na sua conta. Qual o problema? É uma movimentação atípica? É. […] Mas ali era compra de um carro. Não tinha materialidade nenhuma para a prisão do Milton”, declarou Bolsonaro.
Prisão de ex-ministro
Ribeiro foi preso na manhã dessa quarta-feira (22/6), em Santos (SP), no âmbito de uma operação da Polícia Federal que investiga suposto esquema de liberação de verbas do Ministério da Educação, mediante propina a pastores evangélicos. Nesta quinta, o ex-ministro foi solto por determinação do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que derrubou a prisão preventiva.
O suposto esquema, no qual o Ministério da Educação teria favorecido indicações de pastores em agendas e direcionamento de recursos, foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
A reportagem também apontou a existência de um “gabinete paralelo” de pastores. O suposto grupo exerceria controle sobre verbas e agenda do Ministério da Educação. Para isso, cobrariam propinas de gestores municipais interessados em obter obras do MEC.
Dias depois, o jornal Folha de S.Paulo revelou um áudio em que Ribeiro diz ter atendido a pedidos do presidente Jair Bolsonaro para favorecer pastores com verbas da pasta.
O “gabinete paralelo” do MEC seria formado por pastores sem cargo no governo. São eles: Gilmar Santos e Arilton Moura. Ambos são integrantes da Assembleia de Deus. Gilmar também preside a Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb).
A atuação incluiria pedidos de propina a prefeitos para facilitar acesso a recursos da pasta. Para agilizar o direcionamento de fundo orçamentário proveniente do ministério, o pastor Arilton Moura teria solicitado, por exemplo, R$ 15 mil e 1 kg de ouro ao prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB).
Na ocasião, Arilton teria mencionado deliberadamente a destinação de recursos, na presença de outros prefeitos. O pastor também teria repassado o número da conta bancária para que os líderes municipais efetuassem as transferências.
Operação da PF
A ordem de prisão, realizada pela Polícia Federal, foi determinada pelo juiz federal Renato Borelli. No mandado de prisão, o magistrado elenca ao menos quatro crimes que teriam sido cometidos por Ribeiro: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência.
A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. Eles são ligados ao presidente Bolsonaro e apontados como lobistas que atuavam no MEC, quando a pasta era comandada por Ribeiro.
Os pastores negociavam com prefeitos a liberação de recursos federais – mesmo sem ter cargo no governo.