Bolsonaro revoga homenagem a médico que expôs ineficácia da cloroquina
Médico Marcus Vinícius foi homengeado na quinta-feira (4/11), mas Palácio do Planalto voltou atrás nesta sexta-feira (5/11)
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) revogou homenagem ao infectologista Marcus Vinícius de Lacerda, autor de um estudo pioneiro no país sobre o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19. O médico havia sido homenageado com a Ordem Nacional do Mérito Científico, ordem honorífica que premia personalidades nacionais e estrangeiras que fizeram contribuições relevantes para a ciência e a tecnologia.
O decreto homenageando o médico e outras personalidades foi publicado na edição de quinta-feira (4/11) do Diário Oficial da União (DOU) e noticiado em primeira mão pelo jornal O Globo. Nesta sexta-feira (5/11), porém, em edição extra do Diário Oficial, o presidente tornou sem efeito a admissão de Marcus Vinícius na classe de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Também foi revogada a homenagem a Adele Schwartz Benzaken, que já foi diretora do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, mas foi exonerada no início do atual gestão.
No decreto publicado ontem, Bolsonaro incluiu a si mesmo na Ordem Nacional do Mérito Científico, o que está previsto no regulamento da condecoração.
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No Twitter, representantes da comunidade médica comentaram a revogação das homenagens:
Pensando que ganhar e desganhar um prêmio desse governo negacionista é melhor do que só ganhar, viu.
— Sabine Boettger Righetti, PhD 💉 (@binerighetti) November 5, 2021
Parece que houve um engano por parte do governo, que deve entender que o prêmio não está a sua altura. Parabéns pelo trabalho excepcional, de qualquer forma.https://t.co/QtaCzlaGXx pic.twitter.com/OMNR5dHfxR
— Atila Iamarino *vacinado e de licença paternidade (@oatila) November 5, 2021
O estudo do médico Marcus Vinícius ganhou repercussão na imprensa internacional, em meados de abril de 2020, porque chamava atenção para os potenciais riscos do uso de cloroquina — remédio usado há décadas no tratamento de malária — em pacientes infectados pelo novo coronavírus. O medicamento era fortemente defendido pelo então presidente dos Estados Unidos Donald Trump e também por Bolsonaro.
Em 17 de abril do ano passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou, em rede social, o rosto e o nome de alguns dos pesquisadores envolvidos na pesquisa, acusando-os de terem provocado a morte de 11 pessoas e serem “comunistas” e “do PT”.
Em razão disso, o médico e outros pesquisadores envolvidos no estudo começaram a enfrentar uma onda de linchamento nas redes sociais, com ameaças de morte e ataques pessoais. Em razão disso, Marcus Vinícius precisou andar com escolta armada.
O médico infectologista, especialista em saúde pública do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), foi presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), entre 2015 e 2017, e coordena desde 2017 o Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema, referência internacional nas chamadas doenças tropicais, em Manaus.