Bolsonaro reclama da Anvisa: “Impossível falar com o presidente”
Presidente disse que diálogo com agência foi fechado. Diretor-presidente se descolou de Bolsonaro após a CPI da Covid-19
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse, nessa quinta-feira (30/12), que é “impossível” entender-se com o almirante Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Eu não vou falar mais de Anvisa aqui, porque fechou o diálogo. É impossível conversar mais ali com o presidente da Anvisa. Ele tem a opinião dele, tem mandato, e continua lá. Boa sorte para ele, tomara que ele acerte”, afirmou Bolsonaro na última live de 2021, transmitida de Santa Catarina, onde passa férias.
Outrora aliado de Bolsonaro, que o indicou para o comando da agência, Barra Torres se distanciou do mandatário ao longo dos meses. O divisor de águas na relação deles, ambos militares, foi a CPI da Covid-19.
A defesa da vacinação de crianças é um dos pontos de maior divergência entre os dois. Bolsonaro levanta suspeitas sem embasamento sobre os riscos da imunização de crianças, enquanto Barra Torres adota posição técnica.
Na transmissão ao vivo, Bolsonaro ainda voltou a dizer que não vai vacinar sua filha Laura, de 11 anos, e disse não entender a “gana” por vacina.
“Não vou vacinar a minha filha, é questão minha. Conversei com a minha esposa, está alinhada comigo. A minha esposa se vacinou, ela quis se vacinar, foi se vacinar. A nossa filha nós entendemos que ela não tem quase nada a ganhar com a vacina”, disse. A primeira-dama Michelle Bolsonaro tomou a primeira dose do imunizante em setembro, em Nova York, ao acompanhar viagem oficial do presidente aos Estados Unidos.
A imunização do público infantil (de 5 a 11 anos) é tema de uma consulta pública do Ministério da Saúde. A pasta deve realizar uma audiência sobre o assunto em 4 de janeiro e bater o martelo sobre a vacinação no dia seguinte.
Na segunda-feira (27/12), a secretária extraordinária de enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, enviou nota técnica ao Supremo Tribunal Federal (STF) na qual esclarece que nenhuma questão de segurança foi identificada na vacina para crianças maiores de 5 anos, ou seja, o imunizante é totalmente seguro.
O documento é uma resposta ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF, que solicitou manifestação do governo federal sobre a exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A determinação atende a pedido feito ao Supremo pelo partido Rede Sustentabilidade.
Covid-19 em crianças
Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias, segundo dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19. Esse é o grupo etário para o qual a Anvisa aprovou a aplicação do imunizante da Pfizer na última semana.
Os dados também mostram que 2.978 crianças receberam diagnóstico de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Covid-19, com 156 mortes, em 2020. Neste ano, já foram registrados 3.185 novas infecções e 145 falecimentos. No total, o país contabiliza 6.163 casos e 301 óbitos.
Segundo a Conitec, além dos casos de SRAG por Covid-19, até o último dia 27 de novembro, foram confirmados 1.412 casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à Covid-19 em crianças e adolescentes de zero a 19 anos – entre os diagnosticados, 85 morreram.