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Bolsonaro mente ao dizer que Coronavac “não está comprovada cientificamente”

Ao defender tratamento precoce contra a Covid-19, presidente desacreditou o imunobiológico e levantou suspeita sobre o contrato de compra

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Após quatro dias internado, Bolsonaro deixa hospital em São Paulo
1 de 1 Após quatro dias internado, Bolsonaro deixa hospital em São Paulo - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

A vacina Coronavac contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, foi alvo de suspeitas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O chefe do Palácio do Planalto afirmou que o imunobiológico não tem eficácia científica comprovada.

Nesta sexta-feira (23/7), em entrevista à Rádio Grande FM, de Dourados, em Mato Grosso do Sul, Bolsonaro, ao defender o tratamento precoce, prática que não tem eficácia científica contra a Covid-19 e é condenada por médicos, disse que a vacina não tem funcionalidade garantida.

“Vacina como a Coronavac ainda não tem… não está cientificamente comprovada. Como é que pode alguém querer obrigar alguém a tomar algo que não está comprovado cientificamente? Por outro lado, o tratamento precoce, como temos aí o deputado de Mato Grosso do Sul, ele defende o tratamento precoce. E digo mais: é obrigação do médico buscar uma alternativa para alguém que está sofrendo, e não usar o protocolo Mandetta [referindo-se a Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde], que é o vá para casa, quando sentir falta de ar, procure o médico”, salientou.

A Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, com tecnologia da farmacêutica chinesa Sinovac, passou por testes e teve o uso aprovado, após comprovadas a segurança e a eficácia, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por organismos internacionais.

Além disso, Bolsonaro insinuou que o contrato de fornecimento com o Butantan pode ter irregularidades. É a segunda vez em dois dias.

“Há dois dias eu tenho falado que recebemos proposta da Sinopharm para vender a vacina Coronavac diretamente da China por US$ 5 a dose, enquanto o Butantan nos cobra US$ 10. Alguma coisa está acontecendo. Então, nós oficiamos o nosso querido Butantan para explicar”, frisou.

Bolsonaro diz ter determinado apuração do caso na Controladoria Geral da União (CGU), no Ministério da Justiça e no Tribunal de Contas da União (TCU), além de pedir explicações ao Ministério da Saúde.

“Não quero acusar o Butantan de fazer nada errado, aguardamos a planilha de preços deles, sempre negada para nós. Quem sabe justifique nós pagarmos US$ 10 naquilo que nos foi oferecido por US$ 5. Essas questões duvido que a CPI apure”, ironizou.

Ao todo, o Ministério da Saúde já distribuiu 164,1 milhões de doses da vacina. As secretarias de Saúde já aplicaram 126,6 milhões, entre primeira, segunda e dose única.

Nesse contexto, a Coronavac é a segunda vacina mais usada no país. Somente ela representa 38,6% das doses aplicadas, atrás apenas da AstraZeneca, com 47,3%. A Coronavac foi a primeira a ser aplicada no Brasil, em 17 de janeiro.

Nessa quinta-feira (22/7), em entrevista ao grupo Banda B, parceiro do Metrópoles no Paraná, o chefe do Palácio do Planalto já havia questionado o Instituto Butantan.

“Em poucos dias, acreditamos que o TCU possa nos dar resposta sobre contrato. Deixo bem claro: não estou acusando de corrupção, de desvio de nada, apesar de ter uma preocupação sobre o que acontece no Butantan”, salientou.

Em resposta, o governo de São Paulo, liderado por João Doria (PSDB), afirmou que o presidente Jair Bolsonaro “delirou” ao levantar suspeitas “sem provas” em relação ao preço da vacina contra a Covid-19. O Butantan divulgou nota em defesa da vacina e negando qualquer irregularidade (leia a íntegra no fim da reportagem).

Vacinação

Segundo Bolsonaro, a campanha de imunização contra a Covid-19 deve ser concluída em novembro, ou seja, com todo o público-alvo imunizado com duas doses ou dose única, no caso da vacina Janssen.

“O Brasil saiu na frente nas negociações. Alguns me acusam de terem atrasado. Em dezembro, começou a vacinação no mundo e no mês seguinte começou no Brasil. Assumi certas posições para nos blindarmos”, ponderou.

Bolsonaro afirmou que o modo de contratar e pagar evitou corrupção no governo. “A vacina passou a ser também um grande negócio. A indústria farmacêutica está aí. Fiz promessa de que só compraria se Anvisa aprovasse. Também determinei que só se paga depois que chegar. Isso foi cumprido pelos meus ministros da Saúde e evitou corrupção no meu governo”, defendeu.

CPI

O presidente comentou brevemente sobre a CPI da Covid-19 no Senado, que investiga possíveis omissões e corrupção na condução do controle da pandemia no país.

“Primeiro acusam a gente de ter um gabinete, um ministério paralelo. Oras bolas, eu converso com todo mundo”, disse. “Uma CPI que depois vai também para o lado de apurar contratos inexistentes. E buscam todo o tempo desgastar. Você pode ver: uma das últimas ações deles foi fazer um arrazoado de perguntas, vieram aqui, não falaram comigo, ficaram fazendo um Carnaval na imprensa para eu responder rapidamente vários questionamentos da CPI. Eu não vou respondê-los, eu não vou respondê-los, eu não tenho essa obrigação. E outra: poderiam me pedir uma audiência, eu conversaria com eles. Nós sabemos qual a intenção de Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues”, criticou.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) é relator da CPI. Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente.

Veja a íntegra do comunicado do Butantan:

“É de conhecimento do Butantan que no início do mês de julho o consórcio COVAX Facility ofertou vacinas ao Ministério da Saúde. A quantidade, de apenas 500 mil doses, faz parte de um lote de 20 milhões de vacinas, a preço de custo, destinado a mais de 100 países em altíssima vulnerabilidade.

A negociação entre o Butantan e o Ministério da Saúde passou por todas as etapas legais, incluindo a apresentação da planilha de custos da vacina para as equipes técnicas do Governo Federal, em reunião no mês de outubro de 2020. O valor final das vacinas ofertadas pelo Butantan inclui todas as despesas ordinárias diretas e indiretas, incluindo o preço pago à SinoVac, os custos de importação (taxa de administração, frete, seguro do produto, tributos e impostos), os custos de produção (envase, recravação, rotulagem e embalagem), custos dos testes de qualidade, administrativos e regulatórios, armazenagem e transporte. O Butantan, portanto, se responsabiliza por todas as etapas que se referem à vacina, e entrega o produto pronto no armazém do Ministério da Saúde.

O Instituto Butantan mantém vários canais abertos com a sociedade civil, órgãos públicos e de controle, respondendo a todos os questionamentos desde o início do processo, com o intuito de colaborar com o aumento da transparência tão necessária neste momento do país.”

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