Bolsonaro estreia no cenário internacional sob os olhares do mundo
Otimista quanto aos resultados da viagem ao Fórum Econômico Mundial, o presidente tem que lidar com o problema doméstico do filho Flávio
atualizado
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Em sua primeira viagem internacional como presidente do Brasil – para Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial –, Jair Bolsonaro (PSL) se prepara para enfrentar os olhares do mundo. Ao mesmo tempo, tenta lidar com o problema doméstico provocado pelas movimentações bancárias “atípicas”, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do filho Flávio.
A primeira parte do script traçado por Bolsonaro e equipe para esta semana parece ir muito bem. Na chegada a Davos, em rápida declaração aos jornalistas, o presidente da República foi enfático: o Brasil mudou. “Nós queremos mostrar que o Brasil está tomando medidas para que o mundo restabeleça a confiança em nós”, destacou.
A fala faz parte da estratégia traçada pela atual gestão federal para ganhar a confiança dos investidores estrangeiros que participam do Fórum Econômico Mundial com a apresentação de uma pauta de cunho liberal.
Para o pronunciamento que fará no evento global, nesta terça-feira (22/1), Bolsonaro disse que está tudo pronto, embora não tenha entrado em detalhes. “Será muito curto, objetivo, claro. Foi feito e corrigido por vários ministros para dar um recado mais amplo sobre nossa chegada ao poder”, foi o que adiantou o presidente.
Segundo interlocutores, o primeiro pronunciamento de Bolsonaro ao mundo não passará de 30 minutos. De acordo com sua agenda oficial, o discurso está confirmado para ter início às 15h30.
Outra pauta destacada pelo presidente é o agronegócio, área cujos investimentos, acredita, voltarão a crescer, graças à perda do viés ideológico da gestão federal brasileira. “A questão do agronegócio é muito importante para nós. Nossa commodity mais importante”, disse.
Caso Coaf
Mas se essa parte do roteiro está ensaiada à exaustão e bem azeitada com ministros e assessores, o mesmo não pode ser dito do “caso Coaf”, uma vez que o senador eleito Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente, ainda não respondeu totalmente a todos os questionamentos levantados pelas suas movimentações financeiras e pelo montante de dinheiro que circulou na conta do ex-assessor Fabrício Queiroz.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, que ocupa interinamente a Presidência da República, fez uma observação nessa segunda (21), na saída do Palácio do Planalto, que ilustra bem o momento: “[O caso Coaf] Não afeta o governo. Pode preocupar o presidente como pai em relação ao filho. Todos nós nos preocupamos com nossos filhos, que talvez é isso aí, apesar de ele não ter me dito nada a respeito”.
Porém, Mourão procurou demonstrar que o presidente está bastante confiante nessa estreia internacional. “Bolsonaro vai mostrar que não é Átila, o huno”, observou o vice. A referência de Mourão é ao líder da tribo bárbara dos hunos – que aterrorizava o Império Romano no século 5. Átila é conhecido com um dos líderes guerreiros mais violentos da história. “O discurso do presidente vai ser em cima das reformas da área econômica que devem ser feitas, principalmente a reforma da Previdência”, disse o general.
O tema Coaf, contudo, é espinhoso e as recentes atitudes do Palácio do Planalto para evitar que o caso respingue no chefe do Executivo reforçam a tese. O próprio presidente teria sido “proibido” de comentar o assunto. O Metrópoles apurou que a “lei de silêncio” foi estendida ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que acompanha Bolsonaro na viagem a Davos.
No entanto, a falta de explicações concretas e convincentes de Flávio Bolsonaro e do ex-assessor Fabrício Queiroz têm irritado não só Moro como também o núcleo militar mais próximo ao presidente. Para eles, cabe ao senador eleito apresentar logo as provas de defesa e desanuviar os primeiros dias de governo de seu pai.
Sem coletiva
Coincidência ou não, a coletiva de imprensa do presidente Bolsonaro que estava agendada para esta terça em Davos “sumiu” da programação oficial do Fórum Mundial. A entrevista, que havia sido incluída pelos próprios organizadores do evento em seu site oficial, não aparece mais na agenda prevista para o dia da estreia internacional de Bolsonaro.
O Palácio do Planalto informou que a programação do presidente para esta terça (22) prevê uma “declaração à imprensa” às 16h. Do roteiro, consta que Bolsonaro fará o pronunciamento, seguido por falas dos ministros Ernesto Araújo, Relações Exteriores; Sérgio Moro; e Paulo Guedes, Economia. Esse formato não inclui a abertura de perguntas para jornalistas.
Se não poderá falar a respeito de Flávio Bolsonaro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tem carta branca para fazer explanações, em Davos, sobre a área em que se notabilizou: o combate à corrupção, “que prejudica o lucro das empresas e não afeta apenas governos”.
As linhas gerais da mensagem de Moro, de acordo com sua assessoria, são de que negócios limpos são bons para os resultados positivos de empresas e de que a corrupção, por outro lado, destrói a globalização e a torna injusta.
Três pilares da economia
Já o superministro da Economia, Paulo Guedes, também terá um papel de protagonismo e falará ao mercado e às principais economias do mundo sobre os planos do novo governo. O discurso deverá ser alinhado com o de sua posse e baseado em três pilares: reforma e modernização da Previdência; privatização, concessões e vendas de ativos imobiliários; além de reforma administrativa e enxugamento da máquina pública para uma melhor governança.
Este terceiro ponto vai ao encontro da intenção do novo governo de diminuir a importância e o peso do Estado na economia brasileira.
Como se percebe, tudo anda conforme previsto e Bolsonaro se aquece para estrear no cenário mundial, apesar do frio de -11ºC que faz em Davos. No calor tropical, no entanto, o temor é de que as movimentações financeiras de Flávio Bolsonaro esfriem os ânimos em torno da nova gestão do pai.