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Bolsonaro embarca para Moscou em meio à crise entre Rússia e Ucrânia

Presidente fará quarta viagem à Europa desde 2019. Diferentemente dos antecessores, mandatário brasileiro deixou de visitar países da África

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José Dias/PR
Chegada de Bolsonaro ao Aeroporto Ciampino em Roma
1 de 1 Chegada de Bolsonaro ao Aeroporto Ciampino em Roma - Foto: José Dias/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) embarcou, no fim da tarde desta segunda-feira (14/2), rumo a Moscou, na Rússia, onde terá agenda com o mandatário do país, Vladimir Putin, e empresários. A previsão é que o voo dure cerca de 16 horas.

Antes do embarque, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), participou de solenidade de transmissão de cargo, na Base Aérea de Brasília. Mourão deve comandar o Palácio do Planalto de forma interina até a próxima sexta-feira (18/2), para quando está previsto o retorno de Bolsonaro ao Brasil.

A viagem do chefe do Executivo federal ocorre em um momento em que Rússia e Ucrânia vivem crise militar na fronteira entre os dois países. A instabilidade entre as nações se dá, sobretudo, em razão de a Rússia querer barrar a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que é liderada pelos Estados Unidos. Segundo o presidente norte-americano, Joe Biden, Putin está na “iminência” de invadir o país vizinho. Cerca de 100 mil soldados estão posicionados na fronteira com o país ucraniano.

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que pode desencadear um conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível guerra

Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito

Agustavop/ Getty Images
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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local

Pawel.gaul/ Getty Images
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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km

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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia

Andre Borges/Esp. Metrópoles
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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país

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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro

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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta

OTAN/Divulgação
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Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território

AFP
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Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território

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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado

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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles

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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Vinícius Schmidt/Metrópoles

De acordo com o Itamaraty, o objetivo da viagem é focar na relação comercial entre Brasil e Rússia. Após a visita ao país russo, Bolsonaro ainda visitará a Hungria em 17 de fevereiro.

Agenda de Bolsonaro na Rússia

De acordo com o cronograma da viagem, o presidente Jair Bolsonaro só deve chegar a Moscou na terça-feira (15/2). Ele e parte de sua comitiva devem ficar hospedados no Four Seasons – hotel cinco estrelas localizado na Praça Vermelha, principal cartão-postal de Moscou.

Na manhã de quarta-feira (16/2), o chefe do Executivo brasileiro deve se reunir com Vladimir Putin, no Kremlin, sede do governo russo. O encontro será seguido de pronunciamento dos dois presidentes e almoço.

À tarde, Bolsonaro deve se encontrar com o presidente da Duma de Estado, o equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil. Na sequência, o mandatário ainda participa de entrega de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido – nome que recebem os monumentos em homenagem aos soldados que morreram em tempos de guerra sem que os seus corpos tenham sido identificados.

No fim do dia, o presidente brasileiro ainda se reunirá com empresários. O encontro deve ser realizado no Four Seasons, mesmo hotel onde Bolsonaro deve ficar hospedado.

Visita à Hungria

Bolsonaro embarca para a Hungria na manhã de quinta-feira (17/2). No país, o titular do Palácio do Planalto deve se reunir com o líder ultranacionlista, Viktor Orbán.

Durante a visita, o governo brasileiro ainda tentará articular o aumento de exportações de recursos na área de defesa para o país europeu. A Hungria foi uma das nações que assinou contrato para compra da aeronave militar KC-390, da Embraer.

Viagens presidenciais ao exterior

Em três anos e quase dois meses de mandato, o presidente Jair Bolsonaro realizou um total de 24 viagens ao exterior, tendo visitado 17 países. No mesmo período do primeiro mandato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez 85 deslocamentos para fora do país, alguns aos mesmos países em ocasiões diferentes. Já nos três primeiros anos da gestão Dilma Rousseff (PT), a mandatária fez um total de 52 deslocamentos.

A redução no número de viagens internacionais se deve, em grande medida, à pandemia de Covid-19, que levou países de todo o mundo a impor medidas de restrição de circulação. Muitos dos eventos que regularmente levam presidentes a viajar, como reuniões de cúpula do Mercosul e sessões da Organização das Nações Unidas (ONU), foram realizados de forma virtual em 2020 e 2021.

O antecessor direto de Bolsonaro, Michel Temer (MDB), que assumiu a cadeira presidencial de forma interina em maio de 2016, após início do processo de impeachment de Dilma, fez 26 viagens internacionais ao longo de todo o período em que ficou na Presidência da República — cerca de dois anos e meio.

Considerando os dois últimos presidentes com mandatos regulares, Dilma teve uma média de 14 viagens por ano em seu primeiro mandato, enquanto Lula, o presidente que mais viajou ao exterior, fez, em média, 24 viagens internacionais. A média atual de Bolsonaro está em 8 viagens por ano.

Antes da pandemia, no primeiro ano de mandato, Bolsonaro fez apenas 14 viagens ao exterior. O número é inferior ao do primeiro ano da primeira gestão Lula (33) e ao dos 12 primeiros meses de mandato de Dilma (18). Supera apenas as seis viagens realizadas por Temer em 2016 (quando foi presidente interino por três meses, de maio a agosto).

A primeira agenda internacional de Bolsonaro como presidente da República foi para Davos, na Suíça, por ocasião do Fórum Econômico Mundial. A agenda costuma ser protocolar e geralmente conta com a presença de chefes de Estado, o que possibilita a realização de encontros bilaterais em meio ao fórum.

Em 2020, com a pandemia, o mandatário brasileiro só foi a três países — todos antes da pandemia. O ritmo de viagens internacionais pouco se recuperou em 2021, foram apenas sete deslocamentos.

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Bolsonaro e Mohammed bin Rashid Al Maktoum
Bolsonaro se encontra com o emir de Dubai, Mohammed bin Rashid Al Maktoum
Com Eduardo Bolsonaro e tradutores, presidentes Bolsonaro e Donald Trump conversam no Salão Oval da Casa Branca, em março de 2019
Bolsonaro em pronunciamento à imprensa, ao lado de Trump, no Jardim da Casa Branca
Bolsonaro e Trump em jantar nos Estados Unidos em março de 2020
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Bolsonaro durante reunião bilateral com o emir de Dubai, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, em novembro de 2021

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Bolsonaro e Mohammed bin Rashid Al Maktoum

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Bolsonaro se encontra com o emir de Dubai, Mohammed bin Rashid Al Maktoum

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Com Eduardo Bolsonaro e tradutores, presidentes Bolsonaro e Donald Trump conversam no Salão Oval da Casa Branca, em março de 2019

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Bolsonaro em pronunciamento à imprensa, ao lado de Trump, no Jardim da Casa Branca

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Bolsonaro e Trump em jantar nos Estados Unidos em março de 2020

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Presidente Bolsonaro janta com Donald Trump em resort pessoal do ex-presidente americano, em Mar-a-Lago, na Flórida

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Chegada de Bolsonaro à Embaixada do Brasil na Itália

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Bolsonaro chega a Anguillara Vêneta

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Planejamento para 2022

Assim como ocorreu com os antecessores, espera-se que no ano em que busca a reeleição Bolsonaro não faça muitas viagens internacionais. O foco deste ano deve ficar na agenda interna.

Em 2022, já foi feita uma viagem ao Suriname, e estão previstos ao menos mais oito roteiros fora das fronteiras brasileiras (veja detalhamento abaixo).

Bolsonaro mantém viagem à Rússia e diz que espera convite de Biden

Veja a previsão de viagens em 2022:

  1. Rússia (Reuniões bilaterais) – 14 a 17 de fevereiro
  2. Hungria (Reuniões bilaterais) – 17 de fevereiro
  3. Davos, Suíça (Fórum Econômico Mundial) – 22 a 26 de maio
  4. Los Angeles, Estados Unidos (9ª Cúpula das Américas) – 6 a 10 de junho
  5. Lima, Peru (Visita de Estado ao presidente Pedro Castillo) – junho
  6. Paraguai (Mercosul) – 6 de julho
  7. Bali, Indonésia (Cúpula do G20 / Visita de Estado ao presidente Joko Widodo) – 30 e 31 de outubro
  8. Nova York, EUA (77ª Assembleia Geral da ONU) – setembro

Mudança de rota

Diferentemente de seus antecessores, Bolsonaro deixou de visitar países da África e reduziu sensivelmente o número de compromissos pela América Latina. Assim como antecessores, o atual mandatário do Brasil tem dado preferência a nações cujos líderes têm algum tipo de alinhamento político-ideológico.

Se Lula se dedicava a muitas agendas bilaterais com Bolívia e Venezuela, por exemplo, Bolsonaro buscou os Estados Unidos de Donald Trump quatro vezes entre 2019 e 2020.

Quando Trump deixou a Presidência, Bolsonaro chegou a ir uma vez aos EUA, em setembro de 2021, por ocasião da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Porém, não teve encontro bilateral com o novo presidente americano, o democrata Joe Biden, que derrotou Trump em dezembro de 2020.

Ainda estão previstas mais duas viagens aos EUA em 2022. Emirados Árabes Unidos e Catar aparecem na sequência de países mais visitados. Além da proximidade com ditaduras do Golfo Pérsico, Bolsonaro também justifica a proximidade com a Rússia afirmando que Putin é, sim, um líder conservador.

Na outra ponta, entre os países não visitados por Bolsonaro nos últimos dois anos, estão nações amigas da América Latina, como a Argentina, e o maior parceiro comercial do país, a China.

Parceira histórica do Brasil, a vizinha Argentina só foi visitada pelo chefe do Executivo federal brasileiro duas vezes, ambas em 2019, quando o presidente ainda era o direitista Mauricio Macri. Bolsonaro não foi à Argentina nenhuma vez desde então. Para a posse do kirchnerista Alberto Fernández, mandou em seu lugar o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB).

Outro parceiro estratégico deixado de lado foi a China, que só foi visitada uma vez em outubro de 2019. O país asiático tem o maior fluxo de comércio com o Brasil, mas o bolsonarismo apresenta uma série de resistências ao país asiático, controlado pelo Partido Comunista.

Uma série de desconfortos diplomáticos já foram provocados por bolsonaristas, entre eles ministros de Estado e os próprios filhos do presidente da República.

Agronegócio reclamou com Lula de relação de Bolsonaro com a China

África excluída

Bolsonaro não visitou nenhuma nação africana desde que assumiu o cargo nem manifestou intenção de incluir países da região em roteiros futuros.

Temer visitou a África duas vezes. No primeiro mandato, Dilma esteve naquele continente 7 vezes no primeiro governo, mas nenhuma no segundo (ela foi afanada do cargo em maio de 2016).

Entusiasta das relações com o continente africano, Lula visitou 19 países no primeiro mandato e 14 no segundo.

Antártida e Oceania também ficaram de fora do roteiro presidencial — o primeiro continente só entrou no radar de Lula em seu segundo mandato, e o segundo foi esnobado pelos três ex-presidentes.

 

Procurada pela reportagem para se pronunciar a respeito dos números e comparações com governos anteriores, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) não se manifestou.

Veja o histórico de viagens dos últimos quatro presidentes:

 

 

 

 

 

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