Bolsonaro é o primeiro presidente desde FHC que não tem senadores no governo
Atualmente, presidente conta com 5 deputados no primeiro escalão e nenhum nome do Senado. Nos bastidores, senadores se dizem “preteridos”
atualizado
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Jair Bolsonaro (sem partido) é o primeiro presidente em mais de 25 anos que não tem senadores na composição do primeiro escalão do governo federal. É o que mostra um levantamento feito pelo Metrópoles, com base em informações da Biblioteca da Presidência.
Desde que tomou posse, em janeiro de 2019, Bolsonaro já contou com sete deputados e um ex-deputado em seu governo. Desses, dois reassumiram seus mandatos na Câmara — Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG) e Osmar Terra (MDB-RS).
Atualmente, o primeiro escalão do presidente conta com cinco deputados federais: Tereza Cristina (DEM-MS), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Fábio Faria (PSD-RN), João Roma (Republicanos-BA) e Flávia Arruda (PL-DF), sendo os três últimos integrantes do bloco chamado “Centrão”.
O Centrão reúne parlamentares de legendas de centro e centro-direita. Com algumas mudanças pontuais e trocas de nomes, partidos do grupo compõem a base de sustentação desde a redemocratização.
A aproximação de Bolsonaro do bloco teve início em maio de 2020, em uma tentativa do Executivo para barrar a abertura de um eventual processo de impeachment, além de formar uma base estável para aprovar projetos de interesse do governo e barrar eventuais denúncias no Congresso.
Anteriormente crítico ao que chamava de “velha política”, Bolsonaro dizia que não se renderia ao “toma lá, dá cá”, que é justamente a troca de cargos por apoio. O Centrão também participou da base dos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), trocando apoio por cargos.
No ano passado, Bolsonaro passou a admitir que estava negociando com o bloco. Até o momento, no entanto, nenhum senador foi contemplado com um ministério do governo. Na última reforma ministerial, na qual houve rearranjo em seis pastas, o Centrão foi atendido com a indicação da deputada Flávia Arruda para a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política.
A participação de senadores no governo era rotineira em gestões anteriores. No primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, oito senadores assumiram pastas ao longo de quatro anos, enquanto apenas quatro deputados chefiaram os ministérios.
A partir do segundo mandato de FHC e nas gestões Lula, Dilma e Temer, o Executivo passou a dar mais prevalência a políticos vindos da Câmara, mas ainda assim em nenhuma das gestões senadores deixaram de integrar o governo.
O presidente que mais teve deputados integrando o primeiro escalão foi Michel Temer, com 19 parlamentares. Em seguida aparecem o segundo mandato de Lula (13), FHC (11) e Dilma (9).
Já os senadores compuseram mais a gestão de FHC, com 8 e 6 políticos no primeiro e segundo mandato, respectivamente. Na sequência aparecem o ex-presidente Lula, com 5 e 4 senadores durante os dois respectivos mandatos, o primeiro mandato de Dilma (4) e a gestão Temer (3).
Negociações
Oficialmente, senadores negam desconforto, mas nos bastidores avaliam que os representantes da Casa são preteridos.
Ao Metrópoles, aliados do governo no Senado admitem, em caráter reservado, que há uma insatisfação entre parlamentares sobre o assunto. No entanto, explicam que, por ora, os senadores da base governista estão focados em assumir o controle da CPI da Covid-19, que deve ser instalada na próxima semana.
Apesar do foco do Legislativo estar na CPI, interlocutores alegam que o Planalto precisará estar atento às demandas da base quando solicitadas ao Executivo. Para isso, o governo já admite recriar o Ministério do Planejamento e entregá-lo a um senador.
A recriação do ministério é reivindicado, há meses, pelo Centrão. Na gestão de Bolsonaro, a antiga pasta foi incorporada ao Ministério da Economia, que tem como chefe Paulo Guedes, e passou a ter o título de secretaria especial.
A volta do Planejamento também é interpretada por aliados como uma “inabilidade” de Guedes na relação com o Congresso, sobretudo no impasse recente sobre o Orçamento de 2021.
Além do primeiro passo que visa destrinchar o Ministério da Economia, os senadores também miram o Ministério da Educação, hoje comandado pelo pastor Milton Ribeiro, e o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Ricardo Salles.
Nos corredores do Congresso, a gestão de Ribeiro frente ao MEC é vista como “apagada”. Por isso, a pasta passou a ser reivindicada por parlamentares, que também têm interesse nos recursos da pasta.
No caso de Salles, a interpretação de aliados do Planalto é de que o ministro não ficará muito mais tempo no cargo. Apesar do mutirão em defesa do titular do Meio Ambiente feito nas redes sociais ao longo da semana, Salles deve deixar o governo “em breve”, o que abriria caminho para a nomeação de um senador para o cargo.
Indicações nos demais escalões
Apesar de não assumirem nenhum dos 22 ministérios, defensores e aliados do governo lembram publicamente que há indicados de senadores em cargos de segundo e terceiro escalões.
Um exemplo é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação. O atual presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, era chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do Progressistas, partido que compõe a base aliada.
O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), ligado ao Ministério de Desenvolvimento Regional e cobiçado pelo orçamento na casa de R$ 1 bilhão, também está nas mãos de um indicado pelo Centrão. O diretor-geral é Fernando Marcondes de Araújo Leão é um nome ligado tanto ao PP quanto ao PL.