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Bolsonaro é o adversário mais fraco para 2022, diz Roberto Freire

Presidente do Cidadania vê “tendência de impeachment” e defende que ainda há tempo para a definição de um candidato da terceira via

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Roberto Freire
1 de 1 Roberto Freire - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O presidente nacional do Cidadania, o ex-deputado e ex-senador Roberto Freire, considera que o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), é o candidato mais fraco para se derrotar nas eleições de 2022. Em razão da forma como tem lidado com a pandemia de Covid-19, ele vê chances de o atual mandatário ficar, inclusive, fora da disputa de segundo turno.

Em entrevista ao Metrópoles, Freire afirmou ver agora tendência mais forte de impeachment: “Você tem alguns fatos que estão se avolumando em relação à pandemia. A CPI terá um relatório farto de crimes de responsabilidade, crimes comuns contra Bolsonaro e alguns de seus ministros”.

A respeito das avaliações de demora em definir um nome da terceira via para disputar contra Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Freire alega que ainda há tempo até o pleito.

“Nós vamos assistir ainda muita ida e vinda. Não tem ainda muita coisa para se dizer: ‘Tá tudo definido’. Por isso que é muita precipitação a gente querer agir como se o filme já tivesse terminado, ‘nós vamos agora apenas para a exibição’. Não é bem assim, o filme não foi ainda concluído”, pontuou.

No dia 16 de junho, Freire esteve em um almoço promovido pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). O encontro reuniu representantes de sete partidos: DEM, PSDB, Podemos, MDB, Cidadania, Solidariedade e PV.

Além de Freire e Mandetta, estiveram presentes os presidentes ACM Neto (DEM), Bruno Araújo (PSDB), Renata Abreu (Podemos) e José Luiz Penna (PV), além dos deputados federais Herculano Passos (MDB) e Aureo Ribeiro (Solidariedade). Os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do PSL, Luciano Bivar, foram convidados, mas não compareceram.

As siglas seguem longe de chegar a um nome de consenso. O PSDB, por exemplo, fará prévias em novembro de 2021 para escolher o próximo candidato tucano a presidente da República. Mesmo com as disputas internas, Freire observa o cenário como positivo e diferente de 2018 e alega que o primeiro passo na direção de uma frente única foi tomado.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Houve algum encaminhamento saído do almoço do último dia 16? Com a decisão do apresentador Luciano Huck de não disputar as eleições em 2022 e as divergências entre os partidos de centro e centro-direita, a tentativa de agregar uma candidatura única está escorregando? 

A grande novidade do almoço para agora é que o impeachment voltou a ser uma hipótese muito provável. Você tem alguns fatos que estão se avolumando em relação à pandemia. A CPI terá um relatório farto de crimes de responsabilidade, crimes comuns contra Bolsonaro e alguns de seus ministros. E tivemos mais recentemente uma denúncia gravíssima de um escândalo, de uma roubalheira, que terá o mesmo efeito que tiveram no Brasil o Petrolão e o Mensalão. É quase no mesmo porte, com um agravante: que se trata de uma roubalheira em cima de algo tão fundamental para o Brasil, que é usando a vacina como instrumento.

Impeachment neste momento não iria desestabilizar? Alguns falam em deixar o presidente “sangrando”…

Não, isso é tese de quem não quer fazer impeachment. Não é oposição efetiva a Bolsonaro. E tem mais: impeachment não tem que estar relacionado a eleição, se ela está próxima ou longe, tem de estar relacionado com a prática de crime e se para o país é melhor que se retire um presidente desse quilate e a nação enfrente seus problemas com o mínimo de dignidade, de seriedade, de competência.

O processo não pode acabar por fortalecer o presidente Bolsonaro?

Não, impeachment fortalece? Não fortaleceu o Trump [nos Estados Unidos]. Não tem nada disso, ao contrário. Ele pode até se safar, vamos nos lembrar que isso não fortalece ninguém. Você sofrer um pedido de impeachment, tramitar… Basta ver que ele está perdendo cada dia mais sustentação, porque cresce na sociedade… até mesmo na pandemia, manifestações de rua começam a ocorrer contra ele.

Com relação aos nomes…

Olha, nome não necessariamente precisa estar definido agora, temos tempo. Se eu estou discutindo impeachment, repare: se admito que discutir é uma possibilidade, o cenário que ficam querendo dizer como se já existisse para 2022 completamente desmorona. Bolsonaro impichado, acabou, não tem nenhum desses polos que estão sendo discutidos agora.

Com Lula e Bolsonaro já percorrendo o país em campanha, o centro não se atrasa na definição?

Não, não, isso não tem problema nenhum. Agora, o que o povo quer que percorra o país são vacinas, emprego. Não está decidindo eleição, está muito distante ainda. As pessoas não podem esquecer que muitas vezes, nas vésperas da eleição, quantos ainda estão indecisos? As pesquisas indicam isso. Como é que agora já está se pensando que está tudo definido? É precipitação demais, mas aí tem interesse, né, até porque ambos têm interesse em precipitar, como se já tudo estivesse definido, você não vai mudar nada, é interesse deles. Só que a vida é maior e mais forte do que os desejos de ambos.

Por isso que você tem Lula, por exemplo, participando de gravações, de vídeo dizendo que é contra impeachment, mesmo tendo o seu partido, parcelas significativas pedindo impeachment. Mas ele não quer.

Dos nomes que estão pré-colocados, o senhor avalia algum já se ressaltando em relação aos demais? É possível surgir um outsider de centro?

Ainda é cedo. Desses, você tem só como candidato, já fazendo certa movimentação, o Ciro, como candidato do campo democrático. Mandetta não tem partido nenhum. Como candidato, você pode ter vários, mas eu digo de forma já estruturada, você tem um partido com um candidato, no caso, o PDT. O presidente [Bolsonaro] pode não ter partido, mas claramente está indo para a reeleição, partido aí é detalhe. Mas no caso de Mandetta não é um detalhe. Ele tem se revelado, inclusive, um excelente quadro, mas a gente ainda não pode dizer que é o candidato, porque o DEM está muito saturado. Vão ter um grande trabalho ali para unificar minimamente por um caminho a seguir. Mandetta pode vir a ser, mas hoje você só tem o Ciro, o restante são hipóteses.

É uma hipótese tão grande que, por exemplo, no PSDB você tem três candidatos [João Doria, Eduardo Leite e Tasso Jereissati] e não tem nenhum, porque ainda tem uma prévia.

O trabalho que a gente tem que ter é para saber se podemos ter um programa comum e uma candidatura única. Não é fácil, mas temos tempo. E esse almoço dá um bom sinal de que as pessoas, pelo menos, estão fazendo algo inédito: você estar com vários partidos discutindo não coligação, mas a hipótese de ter uma candidatura única. Então, enquanto ainda é tempo – claro, temos tempo –, vamos lutar por isso.

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O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) é um dos nomes pré-colocados para a disputa presidencial de 2022
Sergio Moro, ex-juiz e ex-ministro
O apresentador e empresário Luciano Huck desistiu de se candidatar à Presidência da República em 2022, assim como ocorreu em 2018
Governador de São Paulo, João Doria (PSDB), já admite abandonar corrida ao Planalto e disputar reeleição no estado
Tasso Jereissati, senador da República.
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O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire (SP)

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O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) é um dos nomes pré-colocados para a disputa presidencial de 2022

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Sergio Moro, ex-juiz e ex-ministro

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O apresentador e empresário Luciano Huck desistiu de se candidatar à Presidência da República em 2022, assim como ocorreu em 2018

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Governador de São Paulo, João Doria (PSDB), já admite abandonar corrida ao Planalto e disputar reeleição no estado

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Tasso Jereissati, senador da República.

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Bacharel em direito, Leite nunca exerceu a advocacia: desde jovem, dedica-se à política

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É possível compatibilizar tantos interesses divergentes?

Claro, claro. Sem nenhum problema, até porque, por exemplo, uma das coisas básicas é que você não tem e não deve ter — claro, a gente tem que pensar o Brasil do século 21 para frente — nenhuma das grandes contradições entre esquerda e direita que nós tivemos no século 20, que é o século de Lula, de Bolsonaro, de todos nós, políticos mais tradicionais, e de uma sociedade do capitalismo industrial. Temos que discutir o Brasil dessa nova sociedade que está aí, a sociedade do conhecimento, sociedade da internet, da robotização, automação, da inteligência internacional. Ou seja, uma sociedade digital, que é outra coisa. Então, as contradições dessa nova sociedade não podem ficar nos dividindo como nos dividia. O diálogo é outro entre as forças políticas. Tem que entender como é isso e como tratar o Brasil nessa nova realidade do mundo.

Você tem uma coisa interessante, incrível, mas é importante salientar: se você pegar Bolsonaro e Lula, os movimentos que apoiam esses dois coincidem, por exemplo, naquilo que é fundamental no mundo de hoje – eles coincidem em serem contra a globalização. Um pela direita e outro pela esquerda, mas ambos contra esse processo. Você tem, concretamente, de pensar a economia não mais restrita a uma fronteira nacional, porque isso não está mais existindo. São cadeias produtivas globais, e, se você não entrar nisso, você perde o bonde da história.

Nós estamos discutindo hoje, como questão fundamental, o 5G. Se você for discutir com essa política mais atrasada, que é contra a globalização, é capaz de ficar discutindo protecionismo da indústria nacional, questões que foram do século passado e não têm mais nada a ver com o futuro. Aí você encontra os dois campos que parecem ser tão antagônicos muito juntos.

É possível driblar essa polarização, porque em 2018 foi exatamente assim…

Não foi. A polarização só surgiu no segundo turno da eleição. No primeiro turno não tinha nada disso. As pessoas se dividiram sem nenhuma preocupação. Em 2018, ninguém sentou para discutir que não deveríamos ter aquele número de candidatos que tivemos. A polarização só começou a surgir ao final da campanha e no segundo turno, que é normal em qualquer segundo turno você ter isso (uma bipolarização). O processo se encaminhou para isso também depois, no governo de Bolsonaro. Mas, antes da eleição, nada. Alckmin, Marina, Ciro, Amoêdo… É uma quantidade imensa de candidatos no mesmo campo.

Em 2018, o Cidadania (à época ainda PPS) ficou neutro no segundo turno…

Neutro, não, [recomendou] votar nulo, mas deixou para a consciência de cada um. O partido não participou da campanha de nenhum dos candidatos.

Em um eventual novo cenário…

Não, não vou discutir. A pergunta que eu faço: se Lula e Bolsonaro não forem para o segundo turno, em quem eles votarão? A única coisa que eu posso dizer a você é que não tem comparação entre o que o PT representa do ponto de vista do respeito à democracia, mesmo com todos esses desvios que eles têm, mas eles não se comparam ao fascista que é Bolsonaro.

O senhor vê mais chances de Bolsonaro ficar de fora do segundo turno do que o PT?

Eu não sei, porque, por exemplo, Lula não está enfrentando nenhuma oposição. Não sei na campanha como é que vai ser, até porque ninguém vai deixar de falar o que significou seu governo do ponto de vista moral e ético. Eu não sei qual será o peso disso. Eu imagino que talvez seja mais fácil termos no segundo turno o Lula e não o Bolsonaro, mas isso é apenas uma ligeira impressão, que eu até não gosto muito de dizer, porque não significa nada.

Mais fácil pelas circunstâncias?

Mais fácil no sentido de que eu acho que está se… É como se ele [Bolsonaro] estivesse se desmontando. Bolsonaro perde substância, ele é muito tosco. Ele é muito ausente de qualquer convivência civilizada e humana. Isso está se refletindo nessa pandemia cada vez mais.

Teve um estudo que o Pedro Hallal apresentou na CPI que demonstra, de forma objetiva, analisando o que aconteceu aqui e no mundo, com o desenrolar das ações e omissões do governo, que se tivéssemos um outro presidente no país, que não negasse a ciência, não negasse recomendações sanitárias contra o vírus, que acreditasse na vacina como grande antídoto à Covid, nós poderíamos ter aproximadamente 100, 120 mil brasileiros que poderiam ter continuado vivos. O Brasil tinha essa capacidade, porque tinha recursos e condições de ter essa vacina para o momento em que Reino Unido e Estados Unidos começaram a aplicar. Se nós não tivéssemos nos atrasado, poderíamos ter evitado 100, 120 mil brasileiros mortos, se tivesse começado antes a vacinação. E isso está sendo comprovado. Então, mostra uma desídia criminosa do Bolsonaro.

Alguém vai imaginar que em 2022 a gente já esqueceu toda essa tragédia? Não, infelizmente, não. Ninguém vai perder a memória não.

Mesmo se a economia melhorar?

Não sei se vai melhorar, não. Se melhorar, tudo bem, é até melhor. A gente não pode torcer para que não melhore. Mas olhe, a gente já disputou eleição e derrotou governos tendo a economia que não estava tão ruim quanto está agora. Eu acho que é possível ele [Bolsonaro] perder, cada vez mais, sustentação, apoio. Ele é irresponsável demais. Aquele riso dele é um escárnio, é uma pessoa desequilibrada. ‘Ah, ele tá com Covid’. Aquilo dali… O que é isso? Você rir da tragédia de um ser humano, um brasileiro? Esse cara passou esse tempo todinho e não foi a um hospital. O Brasil vivendo uma tragédia dessa e isso não é nada para ele, é como se não estivesse existindo. Ele comete dois atos criminosos de tirar a máscara de duas crianças. Eu não acredito… Se você me perguntar, a gente tem que ter cuidado, porque a gente não sabe o que vai acontecer. Mas, por conta disso, eu acho que ele seria o adversário mais fraco. E pode ficar de fora [do segundo turno].

No almoço, o PDT não esteve presente…

É porque, quando foi marcado, o Lupi tinha outro compromisso, mas ele confirmou que vai ao próximo que tiver. Não tem data ainda, parece que estão discutindo uma palestra, uma outra conversa, um outro tipo de encontro. O importante é que foi dado um primeiro passo. Agora, próximos passos… Não dá para se definir como é que nós vamos chegar, o importante é que a gente está caminhando. Isso é o que dá expectativa de que podemos ter um bom desenlace nesse nosso segundo encontro.

O Lupi acusou o PT de estar “tomando o PSB por dentro” devido à migração de quadros do PCdoB para o PSB. O senhor tem algum posicionamento a respeito dessa movimentação?

Também o PSol, né? Olhe, isso é um arranjo que está um pouco no campo que já era mais ou menos esperado. É uma disputa que está acontecendo no campo da esquerda, com o Lula tentando atrair aquilo que, há algum tempo, inclusive na campanha municipal, parecia que caminhava, que era uma possível aliança do PDT com o PSB. Houve até movimentos que geraram problemas internos, de retirada de candidaturas, como por exemplo, lá em Recife, em que o PDT retirou o candidato para apoiar o PSB, imaginando que aquilo iria ajudar na formação da aliança. E o Lula está disputando com isso também para ver se o PSB vem. Então, nós vamos ter movimentos como esse, mas não sei como isso vai dar.

Por outro lado, você tem Ciro e o PDT admitindo essa participação no campo democrático, exatamente dando uma certa abertura para setores mais de centro e até centro-direita. Tenta representar isso. São articulações normais. Nós vamos assistir ainda muita ida e vinda. Não tem ainda muita coisa para se dizer: ‘Tá tudo definido’. Por isso que é muita precipitação a gente querer agir como se o filme já tivesse terminado, ‘nós vamos agora apenas para a exibição’. Não é bem assim, o filme não foi ainda concluído.

Perfil 

Roberto Freire, 79 anos, tem longa trajetória no Legislativo, tendo sido deputado federal por São Paulo e senador por Pernambuco por vários mandatos. Em 1989, foi candidato a presidente pelo PCB. No Executivo, foi ministro da Cultura durante parte da gestão Michel Temer (MDB), entre novembro de 2016 e maio de 2017.

O Cidadania é o sucessor do Partido Popular Socialista (PPS). A mudança no nome foi aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2019. A sigla reúne atualmente sete deputados federais e dois senadores.

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