Bolsonaro diz que sempre pediu a Moro para que “não o chantageassem”
Presidente reafirmou que jamais interferiu na Polícia Federal e ressaltou que ex-ministro Sergio Moro tinha “propósitos políticos”
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a afirmar que jamais interferiu na Polícia Federal, mas que sempre pediu ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro que não deixasse que o “chantageassem”. A declaração foi feita em entrevista à Jovem Pan, no último sábado (6/11), e divulgada nesta segunda-feira (8/11).
“Eu nunca pedi para ele me blindar. Eu sempre falei pra ele: ‘Não deixe que me chantageiem'”, declarou o chefe do Executivo federal.
Bolsonaro comentava a iminente filiação de Moro ao Podemos, a fim de disputar as eleições presidenciais no próximo ano. O mandatário disse que o ex-ministro sempre teve um “propósito político” para além do cargo no primeiro escalão do governo.
Quando deixou o comando do Ministério da Justiça, em abril do ano passado, Moro acusou Bolsonaro de interferência na PF. A acusação resultou na abertura de um inquérito, no Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o caso.
A demissão do ex-ministro foi motivada pela exoneração de Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF. Valeixo era homem de confiança de Moro e chegou à direção da PF por indicação do próprio ministro. Quando o presidente pediu a troca na diretoria, o então ministro tentou intervir, mas, sem sucesso, acabou pedindo demissão.
“Quando eu falei em trocar o Valeixo, ele resolveu partir para uma troca comigo. [Moro disse:] ‘Você me indica para o Supremo e depois o futuro ministro [da Justiça] troca o Valeixo’. Eu falei: “Tá de brincadeira, né? Eu quero trocar o Valeixo por falta de uma interlocução maior entre nós”, afirmou Bolsonaro na entrevista.
Depoimento à PF e provas
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro depôs à Polícia Federal no inquérito que apura suposta interferência na corporação por parte do chefe do Executivo. O objetivo, segundo Sergio Moro, seria beneficiar aliados e familiares próximos ao mandatário da República, em eventuais investigações.
No depoimento, o titular do Palácio do Planalto alegou que a troca na Diretoria-Geral da PF ocorreu por “falta de interlocução”.
Como provas da denúncia, a defesa de Sergio Moro se embasa em mensagens trocadas com o presidente em um aplicativo e a reunião ministerial de 22 de abril de 2020.
No encontro com ministros, Bolsonaro reclamou que já teria tentado mexer na segurança e não conseguiu. A fala foi gravada e posteriormente liberada para divulgação pelo STF.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro e oficialmente não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe, troca o ministro. E ponto-final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse o presidente, na ocasião.