Bolsonaro diz que “ninguém vai se safar” de eventual crise alimentar
Presidente não citou conflito entre Rússia e Ucrânia, mas guerra gera preocupação sobre dependência do Brasil na importação de fertilizantes
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez um alerta nesta quinta-feira (17/3) sobre a segurança alimentar mundial. Segundo ele, se uma crise no setor ocorrer, “todo mundo está ameaçado nessa guerra” e “ninguém vai se safar”.
O chefe do Executivo não citou o conflito entre Rússia e Ucrânia, que já dura 22 dias e despertou debates sobre a dependência do Brasil em relação à importação de fertilizantes.
“A guerra que se pode realmente começar – se começar, eu peço a Deus que não aconteça –, mas matará mais gente do que a primeira e a segunda guerras mundiais juntas, que é a guerra que trata simplesmente dos nossos alimentos. Segurança alimentar”, afirmou Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto.
Segundo o presidente, caso o conflito entre os dois países “se aprofunde”, faltará o “básico”. “Nós ficamos sem gasolina, sem televisão, sem zap [WhatsApp], sem Corinthians, sem Palmeiras, um montão de coisa, mas não ficamos sem comida. Se essa guerra se aprofunda, se medidas drásticas começam a ser adotadas de um lado ou de outro, faltará o básico para nós.”
“Todo mundo aqui está ameaçado nessa guerra, não vai sobrar para ninguém. Ninguém vai se safar. Todos vão pagar essa conta. E nós temos que tomar decisões”, prosseguiu.
Em seu discurso, Bolsonaro ainda voltou a defender o projeto de lei que libera garimpo em terras indígenas. No início do mês, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), anunciou a criação de um grupo de trabalho para debater a proposta. O texto deve ser apreciado pelo plenário na primeira quinzena de abril.
“Vamos aprovar o PL que trata de exploração mineral em terra indígena. Por que não? O índio vai sofrer também. Se faltar fertilizantes aqui, num primeiro momento, cai a produtividade. Num segundo, falta alimento. E não é só para nós, não. Nós alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas mundo afora”, disse o presidente.
A ideia ventilada pelo governo é que a exploração das regiões permitiria a extração de potássio – matéria-prima para a produção de fertilizantes. Com isso, segundo Bolsonaro, o Brasil deixaria de ser dependente da importação de adubos de outros países.
Segundo um estudo feito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no entanto, apenas 11% das regiões em que possivelmente existem jazidas de potássio ficam em terras indígenas. Além disso, o levantamento mostrou que as reservas de potássio já existentes no Brasil têm autonomia para sustentar o país até 2100, não sendo necessária, portanto, a exploração de terras indígenas.
Programa nacional de fertilizantes
Em meio ao temor de que o conflito entre Rússia e Ucrânia afete a agricultura brasileira, o governo federal lançou um programa para estimular a produção nacional de fertilizantes.
O Brasil depende, em parte, do fornecimento da Rússia para disponibilizar o material à agricultura nacional, e a guerra no Leste Europeu dificulta a importação do produto. A Rússia fornece 23% dos fertilizantes importados pelo Brasil.
Fertilizantes químicos são usados pelos agricultores para aumentar a produtividade do solo. De acordo com o Ministério da Agricultura, o Brasil é o quarto consumidor mundial de fertilizantes e importa cerca de 80% do volume utilizado na produção agrícola. Entre 2020 e 2021, a importação brasileira de fertilizantes da Rússia cresceu 22%.