Bolsonaro diz à ONU que enfrenta a escassez hídrica “com planejamento”
Presidente participou de painel virtual da Assembleia Geral da ONU e disse que o Brasil quer contribuir para transição energética
atualizado
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Durante participação virtual em um painel da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta sexta-feira (24/9), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o Brasil enfrenta a escassez hídrica “com planejamento, seriedade e transparência”.
A declaração do mandatário brasileiro (leia a íntegra no fim do texto) foi gravada e exibida em um painel sobre energia. O evento contou também com a participação dos presidentes Ivan Duque, da Colômbia; Andrzej Duda, da Polônia; e Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal.
“Apesar da situação privilegiada da nossa matriz energética, não estamos de braços cruzados. Queremos contribuir para o desafio coletivo desse processo de transição”, afirmou o chefe do Executivo nacional.
“São tarefas enormes que o mundo tem pela frente: aprofundar a descarbonização nos transportes, ampliar a geração de energia para nossas necessidades de desenvolvimento ou ainda lidar com os desafios climáticos, de que é exemplo a atual escassez hídrica do Brasil, que estamos enfrentando com planejamento, seriedade e transparência”, prosseguiu.
O Brasil vive a pior crise hídrica em 91 anos. As principais bacias hidrográficas que abastecem o país estão secando, em razão do baixo volume de chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia no Brasil.
Especialistas criticaram a demora do governo federal em adotar medidas para sanar a situação. No fim de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a criação da “bandeira de escassez hídrica”. O novo valor será de R$ 14,20 para cada 100 kW/h consumidos e vai durar até 30 de abril de 2022.
Em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pediu esforço da população para reduzir o consumo de energia e também sugeriu que equipamentos, como chuveiros elétricos, aparelhos de ar-condicionado e ferros de passar, sejam usados no período da manhã e nos fins de semana.
A crise hídrica brasileira tem se agravado, e os níveis dos reservatórios apresentam volume útil cada vez mais baixo, o que leva o governo se preocupar com a capacidade de manter a geração no patamar necessário.
Ao todo, barragens de 16 usinas estão com menos de 20% do volume total. Isso significa que 41% dos 39 reservatórios encontram-se com o armazenamento de água abaixo de um quinto da capacidade. Os dados foram analisados pela reportagem do Metrópoles, com base na medição do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
O baixo nível das barragens pode levar a uma situação de estresse elétrico e até mesmo a apagões. O ONS registrou a segunda usina com 0% da capacidade do volume útil – a represa de Três Irmãos, localizada no município de Pereira Barreto, no interior do estado de São Paulo.
Embora a situação seja crítica, o diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Carlos Ciocchi, informou, na quinta-feira (23/9), que o sistema elétrico terá condições de atender à demanda até o fim do ano sem necessidade de racionamento compulsório de energia.
Leia a íntegra do pronunciamento de Bolsonaro à ONU nesta sexta:
“Ficamos honrados com o convite feito ao Brasil para atuar como um dos países campeões em transição energética neste exercício. Respondemos imediatamente a esse apelo.
O Brasil tem, de longe, a matriz energética mais limpa dentre as grandes economias do mundo. Mais de 47% da nossa matriz energética e mais de 80% da nossa matriz elétrica são renováveis. Somos exemplo de transição energética, processo que, no Brasil, teve início nos anos 1970. Nosso país tem longa experiência na promoção de soluções energéticas sustentáveis, a começar pela bioenergia, em que somos referência mundial.
Na transição energética global, para a qual temos dado contribuição significativa, não há receita única. Todas as fontes de energia limpas e todas as tecnologias disponíveis terão papel importante na transição, em linha com as realidades nacionais, regionais e locais. É um processo que inclui fontes como bioenergia, hidroeletricidade, nuclear, solar e eólica, além de fontes de mais baixo carbono, como o gás natural. Inclui também digitalização de sistemas, eficiência energética com novas tecnologias, como o hidrogênio, que vem se consolidando rapidamente no Brasil.
Apesar da situação privilegiada da nossa matriz energética, não estamos de braços cruzados. Queremos contribuir para o desafio coletivo desse processo de transição. São tarefas enormes que o mundo tem pela frente: aprofundar a descarbonização nos transportes, ampliar a geração de energia para nossas necessidades de desenvolvimento ou ainda lidar com os desafios climáticos, de que é exemplo a atual escassez hídrica do Brasil, que estamos enfrentando com planejamento, seriedade e transparência.
Pensando no futuro, o Brasil, em seu papel de líder de transição energética, buscou dar exemplo nesse diálogo de alto nível. Tivemos intensa interação com vários países parceiros. Participamos ativamente de debates técnicos, engajamos o setor privado brasileiro e apresentamos pactos energéticos ambiciosos. Por meio do pacto de biocombustíveis, assumimos o compromisso de reduzir voluntariamente 620 milhões de toneladas de emissões de carbono em 10 anos, considerando apenas o setor de combustíveis e transporte. Cumpriremos essa meta com uma política estabelecida em lei, com etapas definidas por meio de engenhoso mercado de crédito de biocombustíveis, que já vem sendo negociado com sucesso na bolsa de valores de São Paulo.
Em outro pacto, nos comprometemos a aumentar recursos a pesquisa, desenvolvimento, treinamento e geração de conhecimento em hidrogênio em diversas fontes. Nesse setor que se desenvolve rapidamente, o Brasil está posicionado para produzir hidrogênio de forma competitiva e para exportar.
Temos trabalhado ainda para garantir energia para todos os brasileiros de forma limpa e sustentável. Apesar das dimensões continentais, o Brasil é líder em prover acesso à eletricidade, com praticamente 99% da população contemplada. Estamos agora avançando para 100%, com o programa Mais Luz para Amazônia. Estamos levando eletricidade limpa e renovável, com fonte solar, para mais de 100 mil famílias em áreas remotas e isoladas da Amazônia – em sua grande maioria, populações indígenas e ribeirinhas.
No Brasil, sabemos que a transição energética é possível. Sabemos também tratar-se de uma enorme oportunidade de modernizar indústrias, impulsionar a inovação tecnológica, atrair investimentos e gerar empregos.
Estejam seguros de que faremos tudo isso com a determinação de estarmos contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das próximas gerações. Contem com o entusiasmo e a determinação do Brasil nessa empreitada que é de todos.
Muito obrigado.”