Bolsonaro discute com humorista por “rachadinha” e encerra entrevista
André Marinho, filho de empresário que apoiou a campanha de Bolsonaro, questionou o presidente sobre a prática de peculato
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discutiu nesta quarta-feira (27/10) com o humorista André Marinho, filho do empresário e ex-aliado de Bolsonaro Paulo Marinho, durante participação ao vivo no programa Pânico, da Jovem Pan.
Ao fazer sua pergunta, André Marinho citou preocupação com o retorno do PT ao poder e indagou ao presidente se “rachador” tem que ir para a cadeia ou não. Bolsonaro respondeu:
“Ô Marinho, você sabe que eu sou presidente da República, eu respondo sobre meus atos, tá ok? Então, não vou aceitar provocação tua. E você recolha-se aí ao teu jornalismo. Não vou aceitar, senão encerro a entrevista agora. Não vou aceitar. O teu pai é o maior interessado na cadeira do Flávio Bolsonaro. Não vou discutir contigo ou acabo a entrevista agora aqui. O teu pai quer a cadeira do Flávio Bolsonaro, eu decidi com o Flávio indicar teu pai para primeiro suplente, em confiança nele. Não tem mais conversa contigo.”
Paulo Marinho foi um dos empresários que investiram na campanha presidencial de Bolsonaro em 2018. Sua mansão no bairro do Jardim Botânico, no Rio, foi transformada em QG da campanha.
Ele rompeu com o presidente em maio de 2020, quando revelou que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) disse ter recebido informações privilegiadas da Polícia Federal (PF) sobre Fabrício Queiroz, assessor que seria o responsável por operar o esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio. A prática é configurada como crime de peculato.
O empresário é o primeiro suplente de Flávio Bolsonaro no Senado Federal e está filiado atualmente ao PSDB.
Em seguida, André Marinho começou a discutir com o comentarista bolsonarista Adrilles Jorge e disse que o chefe do Executivo só responde a perguntas de “bajuladores” e emendou falando que Bolsonaro é “tigrão com humorista e tchutchuca com o STF”. O bate-boca entre Marinho e Adrilles levou o presidente a encerrar a entrevista sem se despedir.
“Bajulador é teu pai que bajulava o presidente e não recebeu ministério. Você se transformou em oposição porque seu pai não recebeu ministério. Ah, ‘bajulador’… Me respeita, ô cara de pau”, pediu Adrilles.
“O meu pai não chora no banheiro”, provocou André Marinho segundos antes de o presidente desligar a conexão. A frase faz referência a uma declaração recente do presidente, que afirmou estar enfrentando muitos percalços durante a gestão e que “chora no banheiro” de casa.
Durante o bate-boca dos dois comentaristas, Bolsonaro ameaçou deixar a entrevista, que foi concedida por videoconferência, de Manaus (AM), onde cumpre agenda nesta quarta.
“Atenção: se o Marinho entrar novamente… Se o Marinho… Eu vou embora. Se o Marinho entrar… Se entrar na tela mais uma vez, eu vou embora. Se o Marinho entrar na tela mais uma vez, eu vou embora… Tá?”, ameaçou o presidente antes de se levantar. “Acabou, acabou, acabou”, disse ele já longe da tela do computador.
Assista:
Imitação de Bolsonaro
André Marinho ficou conhecido em setembro deste ano após divulgação de um vídeo com imitações de Bolsonaro e outros políticos em jantar com o ex-presidente Michel Temer (MDB), políticos e empresários.
O encontro ocorreu após a ida de Temer a Brasília, quando o ex-presidente ajudou Bolsonaro a escrever uma nota de pacificação com o Supremo Tribunal Federal (STF).
“E essa cartinha que eu recebi? É tua?”, pergunta André a Temer durante a imitação de Bolsonaro. “Achei ela meio infantil, meio marica. Eu estou achando que foi o Michelzinho que mandou para mim”, disse, em referência ao filho de 12 anos do emedebista.
“Cadê a parte que eu combinei contigo de queimar o STF? Cadê a parte que eu combinei de roubar as perucas do [Luiz] Fux [presidente do STF]? Cadê a parte que eu combinei de botar o pau de arara na Praça dos Três Poderes e dar de chicote no lombo de Alexandre de Moraes? Assim não vai dar!”, ironizou o humorista, ao lado do pai.