Bolsonaro deveria cobrar do Centrão por cargos no governo, diz senadora
Para Soraya Thronicke, partidos com forte presença em ministérios não entregam votos necessários para Planalto formar base no Congresso
atualizado
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Eleita na onda do bolsonarismo e apoiadora do governo, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) avalia que o presidente Jair Bolsonaro deveria cobrar uma “fatura” dos partidos do Centrão que têm cargos no governo. Para ela, legendas com amplos espaços em ministérios não entregam votos necessários para o Planalto formar uma base no Congresso Nacional.
“Se o presidente fizer isto agora com o Centrão, o cara ter ministério e não votar lá dentro, aí vai para o brejo. É uma via de mão dupla. Isso não é corrupção, é governabilidade. Se não andou na linha, tem que tirar”, afirmou Soraya Thronicke.
Como a senhora vê os acordos do governo com o Centrão?
Eu não sei como se divide centro e Centrão, para mim é um bolo só. O DEM ganhou a maior fatia em ministérios, ganhou as duas Casas do Congresso e não entregou a contento. Alguns parlamentares são extremamente fiéis e outros derrubaram medidas provisórias e trabalharam contra. Votam errado, trabalham contra, tentam derrubar tudo na boca pequena e o presidente dá espaço. Para mim, se o presidente fizer isto agora com o Centrão, o cara ter ministério e não votar lá dentro, aí vai para o brejo. É uma via de mão dupla. Isso não é corrupção, é governabilidade. Se não andou na linha, tem que tirar.
Quais partidos não devolvem?
O DEM e o MDB e vários outros partidos que já tinham cargo no governo não devolvem. Não é agora que ele está entregando para o Centrão ou ninguém presta atenção? Onde é que o presidente Bolsonaro tem 120 mil pessoas que ele confia e conhece? Não tem. Aí ele pega a base dele, que era o PSL, e briga com a base. Eu já disse para ele: presidente, não pode levar isso a ferro a fogo. O DEM, na pessoa do Onyx (Lorenzoni, ministro da Cidadania), ajudou na eleição. Para quem é cargo de confiança, tem que exigir a confiança. Confiança é trabalhar dentro das minhas maneiras, e não das suas, e trabalhar para o Brasil, e não para si. Se o cara não entregou, tem que estar fora no outro dia. O MDB tem líder do governo no Senado, no Congresso, tem um naco enorme. Então cadê o governador do MDB? Deveria funcionar assim.
O tamanho desses partidos não dificulta o presidente de ter votos?
Ou é porteira fechada e tem o ministério inteiro ou garante ‘x’ de votos e tem metade do ministério. Tem governador que tem órgãos inteiros no governo, manda, desmanda faz o quer e não dá um voto, por exemplo, Ronaldo Caiado (DEM). Tem espaço até hoje e isso não significa voto nenhum. Se o MDB já tinha lugar, reconduzir o Marun (Carlos Marun, do MDB, no Conselho de Itaipu) não aumentou um voto no Congresso. Isso não refresca. Aí é hora de sentar com o MDB e falar: eu quero mais um fidelíssimo aqui dentro. Ajudar gente sem mandato para nada
Quantos senadores fiéis ao governo existem hoje?
Não dá para contar. Não há uma base fiel no Senado. É conforme a banda toca. Porém, neste momento de isolamento o Senado tem votado quase tudo por unanimidade. Temos conseguido construir, só que isso não é reconhecido pelo governo federal. Eu sou base do governo, só que eu não uma base cega. Eu sou aquela base racional que sabe discutir com o adversário.
O caso Queiroz atrapalha o governo? Há risco para o senador Flávio Bolsonaro?
Politicamente, atrapalha. Tanto é que, antes de qualquer julgamento, querem abrir o processo de cassação contra o Flávio, mas baseado em que? Se for condenado e provado, é outra história. Até agora, é só inquérito. Eu sempre sou técnica na avaliação. Tecnicamente, não há elementos (para abrir processo contra Flávio).