Bolsonaro deu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, diz ONG
Relatório da organização internacional Artigo 19 também mostra uma queda no nível de liberdade de expressão no Brasil e no mundo
atualizado
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Relatório da organização não-governamental Artigo 19, divulgado nesta quinta-feira (29/7), aponta que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020, ou seja, mais de quatro por dia.
As informações fazem parte do “Relatório Global de Expressão 2021”, com dados de 161 países, obtido pelo jornal O Globo. A ONG Artigo 19 possui escritório em noves países, inclusive no Brasil, e atua na defesa da liberdade de expressão e acesso a informação.
O documento também aponta ataques de Bolsonaro à imprensa e mostra uma queda no nível de liberdade de expressão no mundo em geral e no Brasil: o país obteve apenas 52 pontos numa escala que vai de 0 a 100. O índice é o mais baixo registrado pelo Brasil desde 2010, quando começou a ser calculado pela ONG.
Na América Latina, os melhores resultados foram de Uruguai (92), Costa Rica (89), Argentina (88) e República Dominicana (87).
O documento da ONG aponta que líderes como Bolsonaro e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ajudaram a disseminar informações enganosas e contribuíram para a aumentar o número de casos de Covid-19.
“Em outros casos, a desinformação vem de indivíduos que ocupam posições relevantes — até mesmo chefes de governo, como Jair Bolsonaro — geralmente por meio de contas pessoais, em vez de oficiais, nas redes sociais. Esses indivíduos isolados podem ter um grande impacto na disseminação da desinformação”, diz trecho do relatório.
Em seguida, a ONG critica Trump, que estava no cargo em 2020. “Foi provavelmente o maior impulsionador da ‘infodemia’ de informações errôneas sobre a Covid-19 em língua inglesa“, completa.
A organização também destacou algumas falas de Bolsonaro, como chamar a Covid-19 de “gripezinha”, enquanto “promove discursos antivacinas e anti-isolamento, piorando as taxas de infecção e causando uma crise de informação com discursos altamente polarizados”.
Desde janeiro de 2019, quando assumiu o cargo e ainda não havia pandemia, Bolsonaro fez, ao todo, 2.187 declarações falsas ou distorcidas.
Ataques à imprensa
O levantamento aponta ainda 464 declarações públicas de Bolsonaro, seus ministros ou assessores próximos atacando ou deslegitimando jornalistas.
“Essas atitudes influenciam as autoridades locais e se manifestam em atitudes, assédio e ações judiciais contra jornalistas. Esse nível de agressão pública não era visto desde o fim da ditadura militar. A crescente hostilidade social contra jornalistas e seus efeitos desencorajadores não devem ser subestimados”, diz o relatório.
Além disso, houve 254 violações no Brasil contra jornalistas e comunicadores em 2020, das quais 123 perpetradas por agentes públicos e 20 constituindo casos graves, como homicídios, tentativas de homicídio e ameaças de morte.
Outro problema foi o aumento no uso da Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura militar “como arma contra manifestantes e jornalistas que desafiaram o presidente por sua falta de ação, mesmo com o aumento das evidências do escopo da emergência da Covid-19”.