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Bolsonaro desencorajou vacinação em ao menos 20 ocasiões

O próximo grupo a ser vacinado contra a Covid-19 no Distrito Federal é o de pessoas a partir de 66 anos, no qual o presidente se encaixa

atualizado

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Quantas vezes o Bolsonaro disse que não iria se vacinar – Crédito: Arte Metrópoles
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Com o começo, neste sábado (3/4), da vacinação contra a Covid-19 em idosos a partir de 66 anos no Distrito Federal, chega a vez do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que completou 66 anos em 21 de março. O chefe do Executivo federal, no entanto, já reiterou mais de 20 vezes que não se imunizaria.

Na última quinta-feira (31/3), por exemplo, Bolsonaro falou sobre a possibilidade em sua live semanal:

“Depois que o último brasileiro for vacinado, se estiver sobrando uma vacina, eu vou decidir se me vacino ou não. Esse é o exemplo que chefe tem que dar, igual no quartel”. No entanto, segundo fontes de dentro do Palácio do Planalto já existe data, hora, local e até médico designado para aplicar a 1ª dose do imunizante no braço presidencial, segundo informou o jornal Valor, na sexta-feira (2/4).

Três membros do alto escalão do governo federal já se vacinaram: o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB); o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o conselheiro de Bolsonaro e atual ministro do GSI, Augusto Heleno. Bolsonaro é o único presidente do G20 – grupo que reúne as economias mais ricas do mundo – a ter negado, repetidas vezes, a hipótese de se vacinar.

Do clã Bolsonaro, além da mãe do chefe do Executivo, Olinda Bolsonaro, de 93 anos, Fernanda Bolsonaro, esposa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também se imunizou na sexta-feira (2/4). A resistência de Bolsonaro se dá, principalmente, pela disputa política promovida pela Coronavac com o governo de São Paulo, João Doria (PSDB).

Segundo a Agência Brasília, até 7 fevereiro, o Instituto Butantan entregou 162.560 mil doses da Coronavac à capital federal, fora a nova remessa recebida nesta quinta-feira (1º/4), que proporcionará a nova fase de imunização. Atualmente, a Coronavac é a vacina mais aplicada no Brasil.

Julho e agosto

A primeira vez em que Bolsonaro ventilou a possibilidade de não se vacinar, porque, segundo ele, já tinha contraído e vírus e estava “safo”, foi em julho de 2020, ainda no auge da primeira onda da Covid no Brasil.

“Eu não preciso tomar porque já estou safo”, disse Bolsonaro em uma transmissão ao vivo, em 30 de julho.

Em uma briga política com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Bolsonaro jogava indiretas sobre a origem do imunizante, desqualificando a eficácia contra o vírus, mesmo antes do registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) .

“Não é daquele outro país não, tá ok, pessoal?”, ironizou. E seguiu defendendo a vacina da AstraZenca/Oxford, desenvolvida em parceria com a Fiocruz: “E o que é mais importante nessa vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país, [é que] vem a tecnologia pra nós”.

Bolsonaro chegou até a afirmar que havia “ganhado” de Doria quando os testes com o imunizante foram suspensos pela morte de um dos voluntários. “Pode ser tudo”, inclusive “efeito colateral da vacina”, sugeriu Bolsonaro sobre a causa da morte do voluntário. Pouco depois, foi esclarecido que a morte não teve qualquer relação com o imunizante.

No fim de agosto, o mandatário mudou o tom e disse que, quando a vacina fosse aprovada pela Anvisa, ela seria oferecida a todos – mas nenhum brasileiro seria obrigado a se vacinar. Em 1º de setembro, a Secretaria de Comunicação do governo federal corroborou o discurso e emitiu uma nota afirmando que, apesar do governo ter investido bilhões na produção de vacinas, não imporia a imunização. “Obrigação definitivamente não está nos planos”, registrou.

Ao mesmo tempo que ferrenhamente defendia a cloroquina como tratamento precoce – mesmo sem comprovação científica de eficácia –, o presidente seguiu reafirmando que o governo não obrigaria ninguém à imunização. Na época, em outubro, o Brasil já alcançava os 150 mil mortos.

Setembro a dezembro

No dia 21 de outubro Bolsonaro declarou, enfaticamente, que não compraria “uma só dose” da Coronavac.

“A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá”, afirmou Bolsonaro, sem ter provas sobre a afirmação, em uma de suas lives semanais.

Na mesma época, os debates do Superior Tribunal Federal sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 começaram a efervescer. No mesmo dia 21, Bolsonaro disse, mais uma vez, que era contra a obrigatoriedade e que a população brasileira não seria “cobaia”. “Eu não tomo a vacina. Não interessa se tem uma ordem, seja de quem for, aqui no Brasil. Eu não vou tomar”, pontuou

Ainda em uma indireta ao STF – que mais tarde definiria que quem não tomar a vacina deve ser sancionado (com punições como perda de benefícios públicos ou acesso a concursos públicos, por exemplo) –, Bolsonaro afirmou que não via porque ter pressa para a vacina.

“Nós queremos é buscar solução para o caso. Pelo que tudo indica, todo mundo diz que a vacina que menos demorou até hoje foram quatro anos, não sei por que correr em cima dessa”, disse. À época já havia 43 milhões contaminados no mundo e mais de 1,1 milhão de mortos. No Brasil, mais de 157 mil óbitos.

A partir de novembro e dezembro o mandatário abrandou o discurso e começou a afirmar que, compraria qualquer vacina, contanto que fosse previamente aprovada pela Anvisa.

“Eu não vou tomar vacina, se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. E ponto final. Alguns falam que eu estou dando um péssimo exemplo. Ou é imbecil ou idiota que tá dizendo que eu dou péssimo exemplo, eu já tive o vírus. Eu já tenho anticorpos. Pra que tomar vacina de novo?”, argumentou Bolsonaro, por duas vezes seguidas, na terceira semana de dezembro.

Jacaré e efeitos adversos

Ainda em dezembro, quando o Ministério da Saúde finalmente começou a negociar com a farmacêutica Pfizer/BioNTech para a aquisição de doses, Bolsonaro levantou uma tese que um dos efeitos adversos da vacina, poderia ser a transformação em um réptil.

“Se você virar um jacaré, é problema seu, se se transformar em Super-Homem, se crescer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles (Pfizer) não têm nada com isso”, disse Bolsonaro.

A preocupação do presidente alegadamente se deu por conta do imbróglio sobre uma cláusula de isenção de responsabilidade da Pfizer em relação a possíveis efeitos colaterais da vacina. O Ministério da Saúde, inclusive, veiculou uma nota afirmando que “as doses oferecidas ao Brasil seriam mais uma conquista de marketing” da farmacêutica.

Para finalizar o ano, Bolsonaro tentou isentar o governo da responsabilidade e disse que o interesse em imunizar a população tinha que partir das próprias farmacêuticas. “O Brasil tem 210 milhões de habitantes. Então, o mercado consumidor de qualquer coisa é enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender pra gente? Por que que eles, então, não apresentam a documentação na Anvisa?”, disse.

Janeiro a março de 2021

Logo no início de janeiro, Bolsonaro decidiu fazer uma enquete com apoiadores no Palácio do Alvorada e concluiu, sem provas concretas, que “menos da metade da população tomaria a vacina”.

“A vacina emergencial não tem segurança ainda e ninguém pode obrigar alguém a tomar algo que você não tem certeza das consequências”, sugeriu.

Poucos dias depois, durante uma live, ele voltou a negar a eficácia da vacina contra o vírus.

“Ninguém vai ser obrigado a tomar vacina. Não quer tomar, não tome, é um direito teu, afinal de contas é algo emergencial, não temos comprovação”, disse.

Desde o início da vacinação dos idosos, grupo que mais morria por Covid-19, o número de internações e óbitos pela doença caiu significativamente. No Distrito Federal, por exemplo, segundo dados da Secretaria de Saúde (SES), em janeiro, último mês sem imunização, foram 101 mortes em decorrência do novo coronavírus entre octogenários ou cidadãos ainda mais velhos na capital. Em fevereiro, esse número caiu para 77.

A mesma observação foi feita em São Paulo, que, entre janeiro e fevereiro, teve uma queda de 70% no número de idosos com mais de 90 anos que morreram em decorrência da Covid-19.

Referindo-se à Coronavac, o presidente afirmou em janeiro que precisaria vacinar apesar quem ainda não contraiu o vírus:

“A vacina é pra quem não pegou ainda, e essa vacina daí é 50% de eficácia”, disse. Não há conclusões científicas de que quem pegou a Covid-19 uma vez está imune.

A reportagem do Metrópoles questionou a assessoria de imprensa da presidência se Bolsonaro iria ser vacinado, mas até a última atualização desta matéria não obteve resposta.

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