Bolsonaro deixa Planalto como líder da direita para 2024 e 2026
Sem cargo político pela primeira vez em 34 anos, Jair Bolsonaro terá a missão de ajudar o PL a crescer nas eleições municipais de 2024
atualizado
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Jair Bolsonaro (PL) deixa, neste 31 de dezembro de 2022, o comando do Palácio do Planalto após quatro anos à frente da Presidência da República. Apesar de ter sido derrotado nas urnas e se tornar o primeiro presidente a tentar a reeleição e fracassar, ele deixará o comando do Executivo federal com direitos assegurados a todos os ex-presidentes, além de um espaço assegurado na legenda pela qual tentou ser reeleito, o Partido Liberal (PL).
Pela primeira vez em 34 anos, Bolsonaro não terá um cargo político. Para além dos benefícios do cargo que ocupou e da aposentadoria a que tem direito pela Câmara dos Deputados, ele deve assumir o posto de líder da direita para as próximas eleições. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, acertou que o partido bancará as despesas de Bolsonaro a partir de 2023. Ele será convidado para ser presidente de honra da sigla. O PL deve ainda pagar um salário mensal para o futuro ex-presidente.
Oposição
A ideia é de que o capital político acumulado permita que Bolsonaro atue como a “principal liderança política da oposição” durante o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em transmissão ao vivo na última sexta-feira (30/12), horas antes de embarcar para um período sabático nos Estados Unidos, Bolsonaro sinalizou que seguirá firme na oposição ao PT. Ele disse que o governo de Lula já começa “capenga”, mas que não irá “jogar a toalha” e “deixar de criticar” a nova gestão. E ainda afirmou que o “mundo não vai acabar no dia 1º de janeiro”, data em que tem início o governo Lula.
A primeira missão de Bolsonaro já como ex-presidente será ajudar o PL a crescer nas eleições municipais de 2024. Dono das maiores bancadas no Congresso Nacional, o partido não teve bom desempenho nas eleições de prefeitos em 2020, quando elegeu apenas 345 políticos municipais — sexta maior quantia entre os demais partidos e nenhuma capital na lista.
A intenção é de que Bolsonaro promova lideranças locais do PL, mantendo a imagem em evidência no cenário nacional e se cacife para uma eventual candidatura em 2026, quando poderá concorrer novamente ao Palácio do Planalto. Para isso, o futuro ex-presidente deve fazer um “giro pelo Brasil”, a pouco mais de um ano e meio das eleições municipais.
“É preciso organização e preparo. Ele é um importante líder para os prefeitos”, destacou um auxiliar próximo a Bolsonaro.
Apatia
Nos últimos dois meses aliados se queixaram da apatia de Bolsonaro, que evitou se manifestar e fazer grandes gestos desde que perdeu o pleito. Antes ativo nas redes sociais, o presidente não reeleito interrompeu as tradicionais lives — fez apenas uma, nessa sexta-feira (30/12), pouco antes de embarcar para os EUA — e reduziu substancialmente as interações com seguidores. Também deixou de receber apoiadores pessoalmente, e as reuniões com autoridades passaram a ser apenas a portas fechadas.
Com isso, políticos aliados passaram a rever a expectativa de que Bolsonaro seja o líder natural da oposição a Lula nos próximos anos.
De acordo com apuração do colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, Valdemar Costa Neto está assustado com a fragilidade de Bolsonaro e esperava que ele já tivesse reagido e voltado a se comunicar.
Estratégia do PT para enfraquecer Bolsonaro
Para evitar um eventual retorno ao cenário presidencial em 2026, o Partido dos Trabalhadores, de Lula, vai insistir em tornar Jair Bolsonaro inelegível. A ideia, segundo interlocutores, é dificultar a volta do líder da direita, a exemplo de Donald Trump, nos Estados Unidos. Em novembro, o republicano, que tem Bolsonaro como grande admirador, anunciou a pré-candidatura à Casa Branca para as eleições norte-americanas de 2024.
A estratégia do PT é insistir em uma série de ações apresentadas pela chapa Lula-Alckmin, durante as eleições, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A coligação acusa Bolsonaro, o filho Carlos Bolsonaro, assessores e aliados de conduzirem um “ecossistema de desinformação”, com o intuito de influenciar e manipular o resultado das eleições de 2022.
Em outubro deste ano, o ministro Benedito Gonçalves, do TSE, determinou que Bolsonaro, Carlos e pessoas próximas ao presidente se manifestassem sobre o suposto esquema de fake news nas redes sociais. A Corte, porém, ainda não bateu o martelo sobre a cassação eleitoral dos investigados, solicitada pelo PT na ação. Se deferida, o atual presidente e aliados podem ficar inelegíveis por oito anos, ou seja, ficam impedidos de disputar as eleições de 2024 e 2026.