Bolsonaro deixa hospital, mas agenda de campanha segue com restrições
Liberação médica ocorre em meio a uma série de denúncias contra o presidenciável e polêmicas envolvendo a própria equipe
atualizado
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O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, recebeu alta médica às 10h e deixou o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, no início da tarde deste sábado (29/9). Ele estava internado há 24 dias após ser esfaqueado durante evento de campanha no interior de Minas Gerais, em 6 de setembro. Apesar da liberação, o parlamentar deverá continuar sem compromissos públicos de campanha até o primeiro turno.
Após deixar o hospital, Bolsonaro seguiu, escoltado por policiais militares, para o Aeroporto de Congonhas. De lá, decolou rumo ao Rio de Janeiro, onde vai passar a reta final da campanha para o primeiro turno. De acordo com aliados do postulante ao Palácio do Planalto, a recomendação médica é de repouso. Ele não deve participar do debate entre presidenciáveis que será promovido pela TV Record neste domingo (30).
Inicialmente, o candidato esperava ter alta antes, mas nova infecção frustrou o plano do deputado federal. De acordo com pessoas próximas do presidenciável, o quadro foi constatado depois da retirada de um cateter.
A saída de Bolsonaro do hospital ocorre em meio a uma série de denúncias contra o militar da reserva e polêmicas envolvendo a própria equipe de campanha. Nesta semana, reportagem da revista Veja revelou detalhes de um processo de separação do presidenciável e Ana Cristina Siqueira Valle, a segunda ex-mulher do deputado.
De acordo com a reportagem, a ex-companheira do candidato ao Executivo nacional teria relatado que Bolsonaro ocultou patrimônio pessoal à Justiça Eleitoral em 2006, quando concorreu à Câmara dos Deputados. Além disso, Ana Cristina declarou que o presidenciável furtou um cofre de propriedade dela em outubro de 2007. Joias, R$ 200 mil e US$ 30 mil faziam parte do conteúdo do cofre.
Na sexta-feira (28), a revista Época apontou que a produtora de vídeo contratada por Bolsonaro não funciona no local apresentado pelo político em prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A suposta empresa recebeu R$ 240 mil da campanha do candidato do PSL.
Também nesta semana, uma declaração do candidato a vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, gerou polêmica e virou alvo de protesto por parte de opositores. Em palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, o general criticou benefícios previstos na lei trabalhista, como 13º salário e férias.
Tem algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12 [salários], por que pagamos 13? É complicado
General Hamilton Mourão
Do hospital, Bolsonaro usou o Twitter para tentar contornar a situação. Conforme assinalou o presidenciável, as declarações são “uma ofensa a quem trabalha” e atestam desconhecimento acerca da Lei Maior.
O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição.
— Jair Bolsonaro 1️⃣7️⃣ (@jairbolsonaro) 27 de setembro de 2018
A declaração de Mourão (PRTB) provocou crise entre as siglas da dupla. A equipe de Bolsonaro determinou o cancelamento de todas as agendas públicas de Mourão até o dia 7 de outubro. A fala do general serviu de munição para os adversários. De acordo com assessores do deputado, o impacto do discurso do vice no núcleo da campanha foi mais forte do que o anúncio feito pelo economista Paulo Guedes, conselheiro do presidenciável, de criar dois impostos nos moldes da extinta CPMF.
O ataque
Em 6 de setembro, Bolsonaro foi alvo de uma facada na região do abdômen. O acusado, Adélio Bispo dos Santos, foi rapidamente identificado por apoiadores do postulante ao Planalto e preso em seguida. Ele foi transferido para o presídio federal de segurança máxima de Campo Grande (MS).
Em relatório, a Polícia Federal concluiu que o suspeito agiu sozinho e de forma premeditada. Com base em informações do delegado regional de combate ao crime organizado em Minas Gerais, Rodrigo Morais Fernandes, o agressor já tinha ameaçado Bolsonaro de morte. Os alertas foram feitos via Facebook.
De acordo com os investigadores, Adélio Bispo chegou a Juiz de Fora (MG) vindo de Florianópolis (SC), em 19 de agosto, com o pretexto de conseguir emprego. Trabalhou como garçom por quatro dias em um restaurante da região. Quando soube da ida de Bolsonaro à cidade mineira, ele teria começado a planejar o crime, conforme detalhou o delegado.
Durante sua permanência em Juiz de Fora, Adélio se hospedou em uma pousada, onde a PF apreendeu um computador, quatro celulares e dois chips de telefone. No notebook – que tinha informações de 2017 –, a polícia encontrou projetos de cunho político.
Durante a carreata do presidenciável, Adélio estava em meio à multidão o tempo todo, tentando conseguir acesso ao candidato, o que veio a ocorrer na Rua Halfeld, onde o suspeito se aproximou o suficiente para esfaquear o presidenciável na altura do abdômen. A faca usada no crime foi periciada e os exames encontraram vestígios do DNA de Jair Bolsonaro na arma.
Um segundo inquérito está em andamento. O prazo para conclusão é de 30 dias, podendo ser prorrogado. Nessa diligência, serão trabalhados: dados telemáticos (mensagens trocadas em aplicativos) e telefônicos (conexão e contatos nos últimos cinco anos), correio eletrônico (1.600 mensagens e análise de seis contas) e extratos bancários.
O ataque a Bolsonaro fez a Polícia Federal reforçar as equipes de segurança de outros cinco presidenciáveis. Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) Alvaro Dias (Podemos) passaram a contar com a proteção de até 25 agentes federais.
Desempenho
Bolsonaro é líder nas pesquisas de intenções de voto para o primeiro turno. De acordo com o Datafolha, o deputado tem 28 % de preferência. No entanto, no segundo turno, o candidato do PSL perde para Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O militar é o presidenciável mais rejeitado: 46% dos eleitores negam voto a ele.