Bolsonaro critica Argentina no Mercosul: “Deixou de corresponder”
Chefes de Estado do bloco reuniram-se nesta quinta-feira para marcar a transferência da presidência pro tempore da Argentina ao Brasil
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou, nesta quinta-feira (8/7), a presidência pro tempore do Mercosul da Argentina. O chefe do Executivo e o ministro de Relações Exteriores, Carlos França, participaram, por videoconferência, da 58ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados, presidida pelo mandatário argentino, Alberto Fernández.
O encontro marca o encerramento da presidência de turno da Argentina e o início da presidência do Brasil. O cargo é exercido durante o período de seis meses, de forma alternada entre os quatro países do bloco.
“Para avançar a passos certos e seguros, precisamos ter clareza de onde estamos. O semestre que se encerrou deixou de corresponder às expectativas e necessidades de modernização do Mercosul. Devíamos ter apresentado resultados concretos nos dois temas que mais mobilizam nossos esforços recentes: a revisão da tarifa externa comum e a adoção de flexibilidades para as negociações e acordos comerciais com parceiros externos”, disse Bolsonaro.
Em discurso na abertura, Fernández defendeu os consensos entre os países do bloco e disse ter identificado 75% de coincidências nas posições. “Não é um número baixo, é uma base importantíssima”, afirmou.
Fernández ainda defendeu que os integrantes do Mercosul negociem em conjunto com outros países e blocos: “Nossa posição é clara, cremos que o caminho é o cumprir o tratado de Assunção. Negociar juntos com terceiros países ou blocos e respeitar a figura do consenso, com base na tomada de decisões em nosso processo de integração”.
Divergindo novamente do argentino, Bolsonaro criticou o que chamou de “apego a visões arcaicas de viés defensivo” e defendeu a conclusão de acordos comerciais pendentes e o avanço de novas negociações.
“A persistência de impasses, o uso da regra do consenso como instrumento do veto e o apego a visões arcaicas de viés defensivo terão um único efeito que consolidar sentimento de ceticismo e dúvida quanto ao verdadeiro potencial dinamizador do Mercosul”, afirmou Bolsonaro.
“Senhoras e senhores, o Brasil tem pressa. Os ministros e negociadores do Mercosul já estão cientes de nossa sede por resultados. Precisamos lançar novas negociações e concluir os acordos comerciais pendentes. Ao mesmo tempo em que trabalhamos para reduzir tarifas e eliminar outros entraves ao fluxo comercial entre nós e com o mundo em geral”, prosseguiu o mandatário brasileiro.
Um dos acordos que o bloco tenta firmar, com a União Europeia, encontra-se estagnado por questões ambientais vinculadas ao desmatamento da Amazônia.
Além de Bolsonaro e do chanceler brasileiro, o secretário-executivo do Ministério da Economia, Marcelo Guaranys, também participou da reunião, representando o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na quarta-feira (7/7), houve uma reunião do Conselho Mercado Comum (CMC), que, juntamente à cúpula dos chefes de Estado, marca a transmissão da presidência pro tempore.
Assista à fala completa do presidente:
30 anos de Mercosul
O Mercosul completou 30 anos em 2021. A cúpula presencial alusiva à data foi cancelada em razão da pandemia de Covid-19. Em seu lugar, foi realizada uma reunião por videoconferência com os chefes de Estado. O bloco é composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além de Estados associados.
Desde que o tratado de Assunção foi assinado, o volume do comércio entre os países quintuplicou. O Mercosul é um das seis maiores blocos econômicos do mundo.
Com as divergências entre Jair Bolsonaro e o peronista de centro-esquerda Alberto Fernández, especialistas analisam que o bloco ficou paralisado, pois depende da vontade política de seus governos devido à falta de instituições. Os chefes de governo não se encontraram pessoalmente nenhuma vez em dois anos.