Bolsonaristas veem PTB como opção, mas não descartam volta ao “novo” PSL
O presidente tem dado sinais na direção da sigla de Roberto Jefferson, mas ainda há quem acredite que ele pode voltar ao repaginado PSL
atualizado
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A pouco mais de um ano das eleições de 2022, Jair Bolsonaro intensificou nas últimas semanas as conversas com o PTB de Roberto Jefferson. A vice-presidente do partido, Graciela Nienov, se reuniu na segunda-feira da semana passada (27/9) com Bolsonaro para tratar da possível filiação. Ainda assim, há um grupo de bolsonaristas que acredita que o mandatário do país pode voltar ao PSL, sigla pela qual se elegeu presidente em 2018 e que agora está em fase final nas tratativas para fusão com o DEM.
As executivas nacionais de ambas as legendas já aprovaram a fusão, que deverá resultar na maior bancada da Câmara dos Deputados. O nome União Brasil é quase certo para abarcar a junção. O atual dirigente do PSL, Luciano Bivar (PE), deve assumir a presidência da nova legenda, enquanto o atual comandante do DEM, ACM Neto, será o secretário-geral. Foi com Bivar que Bolsonaro entrou em atrito em 2019.
Apesar da alcunha de independente, o partido decorrente da fusão das duas legendas nasce sob o signo do bolsonarismo. Enquanto o PSL possui raízes bolsonaristas, o DEM flerta com Bolsonaro desde a eleição de 2018.
Oficialmente, as direções de ambos negam até mesmo a possibilidade de aliança com Bolsonaro e defendem que a nova sigla tenha nome próprio para disputar o Palácio do Planalto em 2022. Um dos nomes aventados é o do apresentador de televisão José Luiz Datena, que recentemente trocou o MDB pelo PSL. O caminho, no entanto, ainda está aberto para outros rearranjos.
Mesmo depois da confusão de Bolsonaro com a direção do PSL, que resultou em sua saída do partido em novembro de 2019, grande parte de aliados permaneceu na legenda para não correr o risco de perder o mandato. Foi Bolsonaro o responsável por engrossar o caldo de recursos públicos do partido e torná-lo uma sigla de maior expressão nacional.
Apesar de uma ala resistir frontalmente a Bolsonaro, as conversas sobre eventual retorno do mandatário da República à legenda não pararam de existir, dado que o grosso da base do PSL é composto por aliados do presidente.
“As cúpulas dos dois partidos não são bolsonaristas, nem do DEM nem do PSL, mas as bases são. Pergunto: será que a cúpula vai contra a base? Se for, quem vai sair ganhando são os outros partidos”, pontua o deputado estadual Fred D’Ávila (PSL-SP).
Aliado fiel do governo Jair Bolsonaro, o senador Marcio Bittar (AC) trocou recentemente o MDB pelo PSL. Segundo o senador, o retorno de Bolsonaro à sigla, ainda que em novo formato, é “viável”. “Onde eu estiver, ele é bem-vindo”, reforça Bittar.
Do outro lado da fusão, o DEM conta hoje em seus quadros com alguns bolsonaristas e dois ministros de Estado: os deputados licenciados Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e Tereza Cristina (Agricultura). O PSL atualmente não tem representante na Esplanada dos Ministérios.
Prós e contras
Conta a favor do regresso de Bolsonaro ao PSL — ou ao novo partido União Brasil — o fato de a legenda ter a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral para 2022 e grande tempo de propaganda eleitoral em rádio e televisão para fazer frente ao PT.
Para o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), a maior vantagem do PSL seria o tempo de TV, mas é possível garantir esse tempo por meio de coligações com outras siglas grandes.
“O tempo de televisão eu acho que faz a diferença, é o que seria interessante se ter, mas aí você pode agregar outros partidos que queiram apoiar o presidente, como por exemplo o Patriota, o PSC, o próprio PP. Você vai agregando esses tempos de televisão e dá para construir isso tranquilamente, e o presidente vai ter lá o mesmo tempo da coligação do PT”, considera.
Tadeu é cético sobre a possibilidade de retorno de Bolsonaro à sigla. Ele defende a filiação ao PTB.
“Na política, você não pode falar que nada é impossível, tudo é possível, mas eu diria que as chances são muito remotas”, avalia. “O presidente, na minha concepção, deve se filiar a um partido pequeno, para poder acomodar melhor os deputados que o têm acompanhado. Um partido grande pode trazer problemas nos estados.”
Além das posições contrárias das direções de PSL e DEM, as disputas estaduais já vêm causando desentendimentos, com brigas pela prevalência em cada estado.
Atualmente, o PTB conta com uma bancada de 10 deputados federais e nenhum senador. Somando as bancadas do PSL e do DEM na Câmara (54 e 28 deputados, respectivamente) e no Senado (2 e 6 senadores), o União Brasil contará com 90 dos 594 parlamentares do Congresso.
Na eleição municipal de 2020, o fundo eleitoral — valor destacado apenas em anos eleitorais — do PSL foi de R$ 199,4 milhões. O do DEM foi de R$ 120,8 milhões e o do PTB, R$ 46,6 milhões.
Outros partidos
A dificuldade de Bolsonaro em encontrar um partido reside no fato de que ele quer ter o controle dos diretórios estaduais, demanda que encontra forte resistência nas siglas tradicionais. Além disso, legendas, como o PP, PL e PSD, por exemplo, pretendem concentrar a maior parte dos seus recursos para fazer grandes bancadas no Congresso – ou seja, não têm a intenção de focar na campanha à Presidência da República.
Depois de ter flertado com siglas nanicas, como PMB e PRTB, Bolsonaro segue conversando com grandes legendas do Centrão, como o PP. Para os partidos do bloco, a dificuldade reside nas lideranças locais, em especial do Nordeste, reduto eleitoral de Lula, que repelem uma aliança final com Bolsonaro. Já no caso dos nanicos, a filiação do presidente não seria interessante para seus aliados, que encontrariam parcos recursos para disputar as eleições em 2022.
Dado o caráter imprevisível do presidente, aliados admitiam que sua escolha partidária podia ficar para a última hora — o prazo-limite é março do ano que vem, seis meses antes do pleito de outubro. Bolsonaro, no entanto, pode surpreender e anunciar a escolha até o fim de 2021, para garantir um planejamento de longo prazo.