Benedita chama Sérgio Camargo de “capitão do mato a mando de Bolsonaro”
Candidata à Prefeitura do Rio, ela teve nome retirado da lista de Personalidades Negras da Fundação Palmares. Camargo diz que vai à Justiça
atualizado
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A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) reagiu à retirada de seu nome da lista de Personalidades Negras da Fundação Zumbi dos Palmares, decisão tomada pelo presidente da fundação, Sérgio Camargo na quarta-feira (30/9).
Em manifestação nas redes sociais nesta quinta-feira (1º/10), a candidata petista à Prefeitura do Rio de Janeiro chamou Camargo de “capitão do mato”, referindo-se aos serviçais de uma fazenda, durante o período escravagista, encarregados da captura de escravos fugitivos.
“Ainda hoje fui surpreendida por uma decisão arbitrária do capitão do mato que preside, a mando de Bolsonaro, a Fundação Palmares, que deveria preservar a memória e a cultura do povo negro, mas está fazendo o contrário”, disse Benedita.
Benedita também denunciou uma série de ataques racistas que vem sofrendo desde o último domingo e avisou: “Eles não vão me calar e eu não vou recuar”.
Ataques coordenados estão acontecendo desde domingo, com acusações infundadas e conteúdo racista. Mas eles não vão me calar e eu não vou recuar. Sou uma mulher forte e a luta nunca para. ✊🏿 pic.twitter.com/swQbuFX6LZ
— Benedita da Silva (@dasilvabenedita) October 1, 2020
Camargo, por sua vez, anunciou nas redes que vai à Justiça contra a candidata do PT por considerar que o xingamento configura uma injúria racial.
“Benedita da Silva me chama de ‘capitão do mato’, expressão que, no entendimento da Justiça, configura injúria racial. Levarei as declarações da deputada à análise do meu advogado”, comentou o presidente da Fundação Palmares em seu perfil no Twitter.
Benedita da Silva me chama de “Capitão do Mato”, expressão que, no entendimento da Justiça, configura injúria racial.
Há precedente. Ciro Gomes foi condenado por usar o mesmo insulto racista contra Fernando Holiday.
Levarei as declarações da deputada à análise do meu advogado. pic.twitter.com/wCyYKE6k3S— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) October 1, 2020
Na defesa de que Benedita teria sido racista em relação a ele, Camargo cita ainda o episódio envolvendo Ciro Gomes (PDT-CE) e o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), em 2018. Holiday processou o ex-ministro após ser chamado de “capitãozinho do mato nazista” e “traidor da negritude”, em uma entrevista. Em janeiro deste ano, a juíza Ligia dal Colletto Bueno, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível de São Paulo, determinou a penhora de bens de Ciro para garantir o pagamento da indenização por danos morais de R$ 38 mil ao vereador paulista.
Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, as secretarias nacionais de Mulheres e de Combate ao Racismo do PT repudiaram a conduta de Camargo e ressaltaram que Benedita da Silva foi a primeira mulher negra a ocupar uma vaga na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, foi a primeira deputada federal Constituinte, senadora e governadora negra. Além disso, é autora do projeto que institui o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra.
Leia a íntegra da nota:
As Secretarias Nacionais de Mulheres e de Combate ao Racismo do PT vêm a público externar seu repúdio à conduta autoritária e a tentativa de apagamento da memória de importantes narrativas do povo negro pelo atual governo, desta vez usando a Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão nascido junto a redemocratização do Brasil e símbolo da resistência do povo negro.
No último dia 30 de setembro, o atual presidente da FCP anunciou a retirada do nome da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) da lista de personalidades negras da Fundação, deste modo Benedita figura ao lado de Nelson Mandela e Zumbi dos Palmares, que também foram retirados da lista.
Benedita é atualmente uma das principais candidatas na disputa eleitoral à prefeitura do Rio de Janeiro, de modo que , este ato – em meio ao processo eleitoral – representa mais uma vez o uso da máquina pública para desgastar a imagem de quem se demonstrou a principal adversária política nesta disputa.
Ressalta-se que Benedita da Silva já tem seu nome gravado na história do País, pois sua luta e trajetória no movimento negro, de mulheres e no partido a levaram a ser a primeira mulher negra a ocupar os mais altos cargos eletivos, como ser a primeira mulher negra a ser vereadora na cidade do Rio de Janeiro, a primeira deputada federal Constituinte, senadora e governadora negra. Além disso, foi a autora do projeto que institui o 20 de novembro como dia da Consciência Negra.
Deste modo, nos manifestamos pela urgência da demissão do atual presidente e pelo restabelecimento do papel histórico da FCP na defesa e preservação da cultura e memória do povo negro.