Ataques de Bolsonaro ao TSE se assemelham a “guerra civil”, dizem governadores
Chefes do Executivo do Pará, do Espírito Santo e de Minas Gerais afirmam que os embates criam instabilidade entre os poderes
atualizado
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Governadores de três estados criticam o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por sucessivos ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No centro dos embates, está as insinuações do chefe do Palácio do Planalto de irregularidades na urna eletrônica e a defesa da volta do voto impresso.
Nesta quarta-feira (4/8), os governadores do Pará, Helder Barbalho (MDB) — foto em destaque —, do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), estiveram em Brasília em um evento da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). Zema subiu o tom e afirmou que os embates se assemelham a uma “guerra civil”.
Na saída do encontro, eles repudiaram Bolsonaro pelas falas que, segundo eles, fazem mal à democracia e desestabilizam a relação entre os poderes, além de tirar o foco do combate à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Barbalho foi categórico ao defender o modelo de voto brasileiro como referência mundial.
“Devemos fortalecer esse modelo e o TSE. Compreendo que o Brasil pode aprimorar o uso da tecnologia, mas tenho absoluta confiança na credibilidade no processo eleitoral brasileiro. Devemos apostar na relação harmônica entre os poderes”, frisou.
O governador do Pará acrescentou. “O Brasil deve ter foco nos verdadeiros adversários: combate ao desemprego, à desigualdade social, a busca pela Justiça em favor da população e o combate da pandemia para construir um futuro melhor”, concluiu.
Estabilidade institucional
Na mesma tendência, o governador do Espírito Santo rechaçou o uso do voto impresso. “É muito ruim para a democracia brasileira. Os países só prosperam quando existe estabilidade institucional. Infelizmente, desde o primeiro momento do governo do presidente Bolsonaro tem havido confrontos entre o Poder Executivo e as demais instituições”, ponderou.
Para Casagrande, os embates com o Congresso, com o Supremo Tribunal Federal (STF) e mais recentemente com o TSE prejudicam o andamento do país e afugenta investimento externo.
“Esse tipo de comportamento é muito ruim para a democracia brasileira. Isso cria instabilidade interna e externa. Nós estamos em um ambiente de confronto permanente. É o estilo do presidente Bolsonaro, mas é um estilo que não agrega para o país”, salientou.
O governador de Minas Gerais lamentou a situação atual entre os poderes. “Isso não coloca arroz, feijão e carne no prato do brasileiro e também não coloca vacina no braço. Vejo isso semelhante a uma guerra civil. Precisamos de união e diálogo”, pontuou.
Ele acrescentou: “É a hora de trabalharmos por reformas e por um Brasil do futuro. E não ficarmos com polêmicas desnecessárias. Sou favorável ao voto existente que me elegeu, elegeu governadores e outros presidentes”, argumentou.
Zema ironizou a defesa do voto impresso. “Não imprimo a minha conta bancária extrato do cartão de crédito e 99% da população não faz isso. O meio digital veio para ficar e existe auditoria digital para isso. Querer imprimir voto é o mesmo que querer usar papel carbono.”
Entenda o caso
A Câmara dos Deputados discute uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para que, “na votação e apuração de eleições, plebiscitos e referendos, seja obrigatória a expedição de cédulas físicas, conferíveis pelo eleitor, a serem depositadas em urnas indevassáveis, para fins de auditoria”. O projeto é fortemente defendido pelo governo.
Sem votos favoráveis na comissão especial, a apreciação da PEC foi adiada por aliados de Bolsonaro para depois do recesso parlamentar e está prevista para ser votada na próxima quinta-feira (5/8).
O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, tem sido alvo de ataques de Bolsonaro, que voltou a ameaçar a realização de eleições em conversa com apoiadores na última terça-feira (3/8).
Na segunda-feira (2/8), o TSE aprovou, por unanimidade, a abertura de um inquérito administrativo e o envio de notícia-crime ao STF para que o chefe do Executivo nacional seja investigado por fake news.
O inquérito, proposta do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, aponta que “a preservação do Estado Democrático de Direito e a realização de eleições transparentes, justas e equânimes demandam pronta apuração e reprimenda de fatos que possam caracterizar abuso do poder econômico, corrupção ou fraude, abuso do poder político ou uso indevido dos meios de comunicação social, uso da máquina administrativa e, ainda, propaganda antecipada”.