Assessor de Salles interferiu em multas do Ibama, diz Polícia Federal
Leopoldo Penteado Butkiewicz, desde janeiro de 2021, estaria atuando de forma direta no órgão. Segundo testemunha, ele reclamou de multas
atualizado
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Um assessor do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, interferiu no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que editou em fevereiro de 2020 norma que facilitou a exportação de madeira não licenciada.
A mudança na norma desencadeou suspeitas internacionais sobre a regularidade de exportações brasileiras. O caso é investigado pela Polícia Federal, que nesta quarta-feira (19/5), cumpriu 35 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, no Pará e em São Paulo, no âmbito da Operação Akuanduba, que apura supostos crimes ambientais.
No inquérito do caso, os investigadores apontam que Leopoldo Penteado Butkiewicz atuou em decisões do Ibama.
Por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Leopoldo e Eduardo Bim, presidente do Ibama, foram afastados.
“De acordo com o informado pela testemunha, desde janeiro de 2021, outro agente público investigado nos autos (Leopoldo Penteado Butkiewicz), por ser assessor especial do atual Ministro de Meio Ambiente, passou a atuar de forma direta no Ibama”, destaca trecho do inquérito.
Assessor
Leopoldo é o atual assessor especial do ministro Ricardo de Aquino Salles, tendo exercido, anteriormente, na mesma gestão, a função de secretário-adjunto da Secretaria de Qualidade Ambiental.
A testemunha informou que desde 2015 — período em que atua na área de infrações ambientais— nunca tinha visto um assessor direto do ministro do Meio Ambiente atuar dessa forma. Segundo o depoimento, Leopoldo teria dados ordens diretamente ao depoente e intercedido em favor de autuados.
A Polícia Federal, com base em material obtido no celular da testemunha, localizou diversos diálogos onde a atuação do assessor “exorbita claramente a esfera de suas atribuições”, segundo a Polícia Federal.
Um servidor do Ibama relatou, em depoimento, que o assessor acessou processos sobre madeira ilegal no sistema eletrônico do órgão e lhe ordenou “levantar o embargo” e “dar prosseguimento”.
De acordo com o inquérito, a situação se configuraria “patrocínio direto de interesses privados de autuados perante
a administração pública”.
Leopoldo, Salles e Bim tiveram, com outros 20 investigados, sendo pessoas físicas e jurídicas, sigilos fiscal e bancário quebrados, apreensão de celulares e computadores.