Após STF liberar motoboy, CPI da Covid ouve diretora-presidente da VTCLog
Andréia Lima foi chamada a depor nesta terça (31/8) no lugar de Ivanildo Silva, motoboy da empresa que sacou R$ 4 milhões para a companhia
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouve, nesta terça-feira (31/8), o depoimento da diretora-presidente da VTCLog, Andréia Silva. A empresa é a responsável pelos serviços de logística para o Ministério da Saúde, incluindo transporte e distribuição de vacinas contra a Covid-19.
Antes de ouvir Andréia, os senadores esperavam colher o depoimento de Ivanildo Gonçalves da Silva, motoboy da VTCLog. No entanto, em razão de decisão liminar expedida pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu a ele o direito de não comparecer à oitiva, o colegiado decidiu convocar a presidente da companhia para depor no lugar de Ivanildo.
Com receio de que o motoboy se abstivesse de ir depor, os senadores decidiram antecipar o depoimento de Andréia. A empresária foi notificada da remarcação por volta das 21h30 dessa segunda-feira (30/8).
Na notificação, obtida pelo Metrópoles, os senadores argumentam que, em petição encaminhada pela própria depoente ao colegiado, a empresária se colocou à disposição para prestar esclarecimentos e afirmou ter “plena disponibilidade” para que a oitiva ocorra “em qualquer hora ou data que venha a ser designada”.
Valores suspeitos
A VTCLog entrou no radar da CPI após os senadores desconfiarem dos valores movimentados pela companhia e pelo Ministério da Saúde. O nome da empresa apareceu pela primeira vez quando os parlamentares decidiram investigar os contratos entre a pasta e colaboradores, após as irregularidades que envolveram as tratativas pela venda da vacina indiana Covaxin.
Diante dos indícios de ilicitudes na contratação da companhia, os senadores requereram um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que identificou movimentações suspeitas na ordem de R$ 117 milhões.
Ivanildo, por sua vez, foi convocado após ser constatado que o motoboy teve atuação direta na movimentação dos valores.
“Ele [Ivanildo] chegou a sacar, em diversos momentos, o montante de R$ 4.743.693. A maioria foram saques em espécie e na boca do caixa”, explicou o autor do requerimento de convocação do depoente, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
De acordo com o senador, o relatório encomendado aponta que a empresa teria realizado operações “em que não é possível identificar o destinatário final”. A expectativa, portanto, é de que o trabalhador ajude a esclarecer de onde partiram os milhões de reais sacados pelo motoboy e por qual razão os montantes não foram transferidos, mas sacados, em espécie.
“Chama a atenção a confiança que os donos da VTCLog depositaram em Ivanildo. Com vencimentos que não ultrapassam um teto de R$ 2 mil mensais, Ivanildo chegou a carregar em sua moto R$ 430 mil, no dia 24 de dezembro de 2018, ironicamente, a poucas horas da noite de Natal daquele ano”, ressaltou Randolfe no requerimento.
Outro caso
A comissão acredita que Ivanildo não foi o único trabalhador usado para movimentar as transações milionárias. Na semana passada, outro nome entrou na mira das investigações: o do motoboy Marcio Queiroz de Morais.
Reportagem do Estadão aponta que Morais também teria sacado montantes elevados para a companhia. Ao jornal, ele afirmou que “sacava e levava o dinheiro”. “[O dinheiro era guardado] na mochila. 100 [mil reais], 50 [mil]. Chegou até 200 mil”. Ele, todavia, disse não saber quem recebia os valores. “De lá [da empresa], eu não sei pra quem levava, não, entendeu?”, disse.
Morais contou ter trabalhado para a VTCLog por mais de 20 anos, até 2018, e que sacava os valores em uma agência bancária no Aeroporto Internacional de Brasília e em outra, do Bradesco, no Setor Comercial, e levava o dinheiro vivo para o setor financeiro da empresa.
Segundo o relatório do Coaf em poder da CPI, Morais teria feito, num período de dois meses, saques em dinheiro vivo que totalizaram R$ 450 mil.
Os saques ocorreram entre janeiro e fevereiro de 2018, mesmo ano em que a VTCLog fechou contrato com o Ministério da Saúde para assumir a logística de armazenamento e distribuição de medicamentos e vacinas da pasta.