Após reunião com Bolsonaro, Decotelli nega fraudes e diz que segue ministro
Nomeado, mas ainda não empossado ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli foi chamado ao Planalto. Posse está ameaçada
atualizado
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Nomeado, mas ainda não empossado ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli afirmou, no início da noite desta segunda-feira (29/06), que explicou ao presidente Jair Bolsonaro o que chamou de “detalhes acadêmicos” nas apontadas inconsistências em seus títulos de mestrado (a dissertação teria uma série de plágios), doutorado (negado pela Universidade de Rosário, na Argentina) e pós-doutorado (também rejeitado pela Universidade de Wüppertal, na Alemanha).
“Ele [Bolsonaro] queria saber detalhes sobre a minha vida de 50 anos como professor em todas as entidades do Brasil. Então, ele pegou a estrutura de detalhes, a estrutura de trabalhos no Brasil, Norte, Sul, Leste, Oeste, 40 anos de trabalho na Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, IBMEC. […] Então, ele queria saber esse lastro de vida como professor”, disse o ministro.
“Ele [Bolsonaro] perguntou: ‘Como é essa questão de detalhe acadêmico e doutorado, pós-doutorado, pesquisa de mestrado? Como é essa estrutura de inconsistência?’. Ele queria saber o que é isso, então, eu expliquei a ele”, acrescentou.
De acordo com Decotelli, Bolsonaro teria dito que a questão está “resolvida”.
Ele chamou de “distração de citação” as revelações de que ao menos 11 trechos de sua dissertação haviam sido copiados de outros trabalhos. “O plágio é considerado quando você faz Ctrl C + Ctrl V. Não foi o que ocorreu. […] Não houve plágio.”
O professor ainda negou que Bolsonaro tenha falado em constrangimento por conta das acusações que ele, Decotelli, vem enfrentando desde o fim da semana passada, ao ser escolhido para substituir Abraham Weintraub. “Ele só falou que confia nos projetos para ter um Brasil com oportunidade para todos”, disse. E afirmou aos jornalistas: “O que vocês têm de vida eu tenho mais do que o dobro de tempo de trabalho”.
No fim da longa entrevista, ele afirmou: “Sou ministro, tenho trabalhos e vou ficar trabalhando para corrigir as demandas grandes”. Mas, ao se despedir, com a insistência de perguntas sobre se a posse estava mantida para esta terça, completou: “Vamos aguardar”.
Nos bastidores, no entanto, já se fala em outros nomes para assumir o comanda do Ministério da Educação. O secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim, bem como o secretário do Paraná, Renato Feder, e do educador Antônio Freitas, voltaram a estar no radar do Planalto.
Polêmicas
As polêmicas envolvendo o nome de Decotelli tiveram início na sexta-feira (26/06), um dia após ser nomeado ministro da Educação. Desde então, duas instituições de ensino questionaram qualificações que o agora ex-ministro havia listado no próprio currículo na plataforma Lattes.
O reitor da Universidade de Rosário (Argentina), Franco Bartolacci, chegou a ir nas redes sociais questionar a inclusão do título de doutor indicado pelo ex-ministro.
Em resposta, o Ministério da Educação divulgou um certificado que atestava a conclusão de todos os créditos do doutorado de Decotelli em administração, mas que não provava que ele havia defendido a tese. Sem cumprir essa etapa, o título não pode ser concedido.
A contestação de Bartolacci levou o professor a alterar seu currículo, desta vez, fazendo a ressalva de que não houve, de fato, defesa de tese.
Nesta segunda-feira, a Universidade de Wüppertal, na Alemanha, contestou o pós-doutorado que constava na lista de qualificações de Decotelli. Segundo a instituição, ele não obteve “nenhum título” na universidade.
Além disso, também causou polêmica a constatação de que trechos da dissertação de mestrado de Decotelli continham partes semelhantes a de trabalhos publicados em anos anteriores por outros autores.
Por causa das notícias sobre o caso, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde ele fez o mestrado, informou que vai “apurar os fatos referentes à denúncia de plágio na dissertação do ministro Carlos Alberto Decotelli”.