Após ataque a Bolsonaro, PSL e PRTB divergem sobre rumos da campanha
Decisões acerca do futuro da coligação não encontram consenso entre as siglas. Caciques querem ampliar o diálogo para unir a chapa
atualizado
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Nem mesmo a facada que atingiu Jair Bolsonaro e mexeu no rumo das eleições 2018 foi capaz de unir a coligação Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos (PSL/PRTB), capitaneada pelo presidenciável do PSL. Internado desde sexta-feira (7/9) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, o militar da reserva está impossibilitado de unir caciques dos dois partidos, que andam divergindo frequentemente a respeito dos rumos da campanha do líder das pesquisas eleitorais para o Palácio do Planalto.
De um lado, está o PSL, partido ao qual Bolsonaro se filiou em março para concorrer à eleição presidencial de outubro. Do outro, o PRTB, que cedeu o vice na chapa, general Hamilton Mourão, e clama por mais espaço e voz na composição. As siglas não estancaram a sangria causada pelo atentado ao candidato em Juiz de Fora (MG) e estão com discursos desalinhados, inclusive acerca da necessidade de participação ou não do vice nos debates eleitorais nas emissoras e o cumprimento de agendas públicas.
Pelo PSL, o presidente em exercício, Gustavo Bebianno, tem coordenado as ações de Bolsonaro país afora. Ele estava acompanhando o amigo e deputado federal nas agendas e segue em São Paulo junto a outros membros do partido. Nesta semana, a previsão era visitar três cidades do Nordeste (Recife, Maceió e Salvador), plano impedido pelo atentado ocorrido no interior mineiro. Bebianno, com quem Bolsonaro tem passado boa parte do tempo, é uma das principais vozes na campanha.
Eduardo e Flávio Bolsonaro, filhos do presidenciável, também exercem função importante e ficaram extremamente abalados com o ataque ao pai. No entanto, como concorrem a cargos eletivos em 2018 – Eduardo a deputado federal por São Paulo e Flávio a senador pelo Rio de Janeiro –, ambos foram orientados a se concentrarem em seus compromissos. Vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro não vai disputar o pleito de outubro e está responsável pelas gravações do pai, a serem divulgadas nas redes sociais do candidato.
Na segunda-feira (10), Eduardo e Flávio estiveram em Brasília para encontro com o diretor da Polícia Federal (PF), Rogério Galloro, com o objetivo de tratar da segurança do pai nas eleições: pediram, inclusive, mais proteção à família. No mesmo dia, reuniram-se com militares envolvidos na campanha de Bolsonaro para sinalizar qual seria o papel de Mourão, reforçando a sua importância na corrida eleitoral – entendimento que não é seguido por todos os integrantes do PSL.
Por outro lado, na terça-feira (11), apoiadores do presidenciável e membros do PRTB se reuniram em Brasília sem a presença de figuras do PSL. O encontro, que teve a presença do general Hamilton Mourão e de figuras importantes da campanha, como os generais da reserva Oswaldo Ferreira e Augusto Heleno, foi usado para discutir propostas de governo da coligação e os próximos passos de Mourão.
Ato independente
Uma demonstração da falta de alinhamento entre os partidos foi o ato independente do PRTB em manifestar o interesse de consultar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a respeito da possibilidade de o general Mourão participar de debates televisivos no lugar do cabeça de chapa. A indicação de que Bolsonaro dará entrevista a um jornalista dentro do hospital, fato não confirmado pelo PSL, também reforça o ruído entre as siglas.
Nessa quarta-feira (12), depois da ação voluntária, o PRTB informou que o partido entregou uma procuração ao PSL para requisitar o pedido de substituição temporária de Bolsonaro por Mourão no TSE. A formalização, no entanto, só será feita após os líderes da campanha avaliarem a necessidade. De acordo com o PRTB, essa decisão será tomada conjuntamente pelas siglas. “A saúde de Jair Bolsonaro e os interesses patrióticos estarão sempre em primeiro plano”, pontuou a legenda.
Presidente nacional do PRTB, Levy Fidélix admitiu não ter conversado com Bebianno acerca da reunião realizada por seu partido, na terça (11), em Brasília, mas disse acreditar ter chegado a hora de as siglas unirem forças. “[Os grupos] vão sintonizar e esse momento chegou. É a hora correta e adequada para tal, juntar forças. Temos de fazer [isso], não pode ficar descasalado”, afirmou Fidélix, incomodado com a desunião das legendas.
Mais do que um sobrenome
Um indício de que a construção da campanha não deve ser reduzida a um sobrenome foi dado pelo general Augusto Heleno, responsável pela área de segurança do programa de governo da chapa, ao dizer que Eduardo e Flávio são importantes, mas que a campanha não se trata de uma “ação em família, uma quermesse de igreja”.
Em dúvida quanto à ida de Mourão aos debates, Heleno levanta a questão da hierarquia dentro da coligação. “A campanha [do Jair Bolsonaro] vem de muito tempo e muitos se agregaram recentemente. Então, obviamente, existe uma antiguidade na campanha que fatalmente será respeitada”, avisa um dos personagens centrais e mais próximos de Bolsonaro.
Ainda conforme pontuou Heleno, as reuniões em Brasília são menos de exposição e mais para reflexão. De acordo com o general, nesses encontros não são tomadas decisões e que sempre há consultas ao outro lado [PSL] quanto aos temas tratados. “Eles [PSL e PRTB] têm de se entenderem em relação à continuidade da campanha, onde ela vai acontecer…. Isso naturalmente vai ter de ser trabalhado”, acrescenta o militar.
A reportagem tentou contato com Gustavo Bebianno para comentar as diferenças entre os partidos e os próximos passos da campanha, mas ele não se manifestou até a publicação da matéria.
Opções anteriores
A opção por Mourão como vice na chapa não era a primeira de Bolsonaro. Antes dele, o ex-paraquedista do Exército Brasileiro sonhou em ter o senador Magno Malta (PR) ao seu lado. Depois, sondou a advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O astronauta Marcos Pontes e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, atual chefe da Casa Imperial do Brasil, também tiveram os nomes ventilados. O general da reserva Augusto Heleno ainda foi cotado para o posto de nº 2 da coligação, mas acabou impedido pelo partido ao qual se filiou – o PRP – de aceitar o convite.
Sobrou, então, para o general Mourão o papel de vice de Bolsonaro. Embora a dupla tenha bom relacionamento, Mourão divergiu publicamente de Bolsonaro em assuntos como o acolhimento de venezuelanos no Brasil, ao qual ele é favorável, e até ideias radicais dos apoiadores da candidatura do deputado federal.