metropoles.com

“Ainda somos o Brasil colônia”, diz Sônia Guajajara, vice de Boulos

Primeira indígena a compor uma chapa para a Presidência avalia que o país “nunca superou o racismo, o machismo e o colonialismo”

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
WhatsApp Image 2018-09-26 at 14.05.39
1 de 1 WhatsApp Image 2018-09-26 at 14.05.39 - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Primeira indígena a compor uma chapa para disputar a Presidência da República, Sônia Guajajara (PSol), candidata a vice de Guilherme Boulos (PSol), foi a segunda sabatinada na série de entrevistas que o Metrópoles iniciou nesta quarta-feira (26/9) com os postulantes a vice-presidente do país. Ela defendeu o fortalecimento das políticas sociais e disse que o desenho social do país ainda está ancorado no passado.

“O Brasil nunca superou o racismo, o machismo e o colonialismo. Ainda somos o Brasil colônia. Em muitos estados estamos nas mãos de coronéis, cometendo a prática do trabalho escravo. E quando a gente fala hoje de toda essa violência, a gente vê também o avanço do fascismo. É preciso muito mais do que investimento na educação.”

Veja a entrevista:

Para Guajajara, é necessário ampliar os investimentos em programas de transferência da renda, como o Bolsa Família. “Muita gente depende disso para garantir a comida na mesa. É preciso que seja adequado às distintas realidades. O Brasil é um país gigante.”

Na entrevista, Guajajara cutucou a vice do presidenciável Ciro Gomes (PDT), a senadora Kátia Abreu. Para a líder indígena, a senadora não tem uma boa visão de agricultura. Segundo a vice do PSol, o governo ajuda o setor do agronegócio, os grandes produtores, mas tira das mãos do pequeno produtor.

“Temos como solução fazer a reforma agrária, agroecológica e fortalecer o pequeno produtor. Hoje, o Brasil diz que o agronegócio carrega o país, o Brasil isenta o setor empresarial que produz os agrotóxicos”, disse.

Para Guajajara, o Brasil quer entregar os territórios indígenas e quilombolas nas mãos do setor do agronegócio, o que soa como contraditório com o que é colocado pelo governo no exterior ao dizer defender a redução do desmatamento.

Medidas econômicas
A candidata a vice de Boulos prometeu que a eventual gestão de líderes do PSol vai revogar medidas impopulares, como a PEC do Teto dos Gastos, a reforma da Previdência e a terceirização de atividades fins.

“Nosso programa de governo tem como norteador ser contra todo tipo de privatização e terceirização. Não dá para dar [o que é] responsabilidade do Estado nas mãos de alguém que quer apenas o lucro daquilo que é estatal”, criticou.

Segundo Guajajara, é impossível implementar políticas sociais com o limite de investimentos determinado pela PEC 95. Na opinião dela, a emenda constitucional tem de ser revogada. “Ela não representa somente um atraso, mas uma limitação brutal aos investimentos públicos que são exatamente as políticas que deveriam chegar à sociedade. Como se vai investir e melhorar a saúde, educação a pesquisa científica se há um gasto limitado por 20 anos, sendo que a população não para de crescer?”, avaliou.

A líder indígena questionou a falta de investimentos públicos em detrimento ao crescimento da economia do país. “Sempre querem fazer a gente acreditar que é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que vai resolver a pobreza e a miséria. O que a gente vê é uma ausência total desses investimentos, desse crescimento chegar às pessoas”, disse.

Segundo a pessolista, o governo mira o pagamento da dívida externa e deixa a população em segundo plano. “Por que o trabalhador tem que ser penalizado e a dívida pública beneficiada com o PIB brasileiro?”, questionou.

4 imagens
1 de 4

Michael Melo/Metrópoles
2 de 4

Michael Melo/Metrópoles
3 de 4

Michael Melo/Metrópoles
4 de 4

Michael Melo/Metrópoles

A série de entrevistas é realizada em parceria com a Articulação de Carreiras Públicas para o Desenvolvimento Sustentável (Arca). O Metrópoles e a Arca esperam, com a iniciativa, contribuir para que o eleitor tenha o máximo de elementos a fim de melhor definir o seu voto no próximo dia 7 de outubro. Cada entrevista tem meia hora de duração e pode ser acompanha no site e pelo canais do portal nas redes sociais: Facebook, Twitter e YouTube.

Perfil
Sônia Bone de Souza Silva Santos tem 44 anos e é da tribo Guajajara/Tentehar, que habita as matas da Terra Indígena Arariboia, no sudoeste do Maranhão. Formada em letras e enfermagem, ela é pós-graduada em educação especial.

A base de sua militância é o meio ambiente e começou nas organizações e articulações dos povos indígenas no Maranhão (Coapima). Guajajara tem voz no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) e já levou denúncias às Conferências Mundiais do Clima (COP) de 2009 a 2017, além do Parlamento Europeu, entre outros órgãos e instâncias internacionais.

Em 2010, a indígena entregou o prêmio Motosserra de Ouro para Kátia Abreu, candidata a vice na chapa de Ciro Gomes (PDT), à época ministra da Agricultura, em protesto contra as alterações no Código Florestal.

Hora de decidir o voto
Antes de Guajajara, o Metrópoles entrevistou nesta quarta (26) Germano Rigotto (MDB), postulante a vice de Henrique Meirelles (MDB). Depois, no mesmo dia, serão sabatinados a senadora Ana Amélia (PP), postulante a vice na chaça encabeçada pelo tucano Geraldo Alckmin; e Eduardo Jorge (PV), que disputa ao lado de Marina Silva (Rede). Na sexta-feira (28), será a vez de Manuela D’Ávila (PCdoB), vice de Fernando Haddad (PT). No domingo (30), a entrevistada é Kátia Abreu, que concorre ao lado do presidenciável Ciro Gomes, ambos do PDT.

Entre os temas a serem questionados aos candidatos a vice, estão o próprio financiamento do Estado e da infraestrutura necessária ao desenvolvimento do país, reforma da Previdência, gestão territorial, saúde, educação, reforma trabalhista, matriz energética e redução das desigualdades.

Parceira nessa série de entrevistas, a Arca reúne 12 instituições representativas dos servidores de carreiras da administração direta e indireta: ​Associação dos Funcionários do BNDES (Afbndes); Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea); Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho (Aljt); Associação Nacional da Carreira de Desenvolvimento de Políticas Sociais (Andeps); Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema); Associação dos Servidores do CNPq (Ascon); Associação Nacional dos Servidores do MCTIC (Asct); Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN); Associação dos Servidores do Ministério da Cultura (AsMinc); Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor); Indigenistas Associados (INA); e Associação Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon).

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?