Anderson Torres, secretário de Segurança do DF, é cotado para a PF
Torres já atuou em áreas como inteligência e combate ao crime organizado. Tem boas relações no Planalto, Congresso e com filhos de Bolsonaro
atualizado
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O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, é o nome cotado no Palácio do Planalto para substituir o atual diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Delegado de carreira, Torres tem bom trânsito tanto com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) quanto com aliados do pesselista, incluindo o secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, major reformado da Polícia Militar do DF.
Outro nome cogitado para o cargo é o do delegado Alexandre Ramagem, que atualmente comanda a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Na Polícia Federal desde 2015, ele fez parte do serviço de inteligência da Operação Lava Jato.
A saída de Valeixo já é dada como certa pela corporação. A avaliação é de que o ministro da Justiça, Sergio Moro, encurralado por Bolsonaro, vem sofrendo sucessivas derrotas no governo e perderá de vez o poder de comando se não tiver carta branca para indicar um outro nome para dirigir a PF.
O nome de Anderson Torres enfrenta algumas resistências e não seria uma escolha de Moro. Contudo, Bolsonaro teria dito em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo que “está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar [o diretor-geral, Maurício Valeixo] quando quiser”.
Antes de assumir o cargo na secretaria do governo Ibaneis Rocha (MDB), Anderson Torres foi chefe de gabinete do então deputado federal Fernando Francischini (PSL), atualmente deputado estadual do Paraná. O aliado foi um dos principais defensores do nome de Bolsonaro para disputar a Presidência da República em 2018. Torres mantém ainda boa relação com a área federal e com os filhos do mandatário do país.
Torres já atuou em áreas como inteligência e combate ao crime organizado. “É um nome natural e de total confiança do presidente, que nós apoiamos”, frisou o deputado Felipe Francischini (PSL-PR), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
A insistência de Bolsonaro em mudar o diretor-geral da PF desencadeou uma crise na corporação e se tornou novo foco de desgaste para Moro, que já perdeu o comando do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
A Secretaria de Segurança Pública do DF foi questionada pelo Metrópoles, mas não se posicionou sobre possível ida de Torres para a PF. A interlocutores, o principal nome da SSP negou ter recebido convite oficial da Presidência. O Planalto foi acionado pela reportagem, mas não havia se posicionado até a publicação desta reportagem. No Palácio do Buriti, por sua vez, não há qualquer oposição à ideia de Torres deixar o governo local.
Ao jornal O Globo, Jorge Oliveira confirmou a sondagem e afirmou, inclusive, que o nome de Torres chegou a ser cogitado ao cargo ainda durante o governo de transição.
Desgaste
Valeixo é ligado ao grupo de Leandro Daiello, delegado que permaneceu mais tempo no comando da PF. Ele ficou no posto de 2011 até 2017. Apesar de ter chefiado a corporação durante os dois mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), foi em sua gestão que a PF deflagrou operações que atingiram a alta cúpula petista, como a Lava Jato.
Na prática, a cúpula da PF está alarmada com a interferência do presidente nos trabalhos internos desde que o mandatário da República anunciou a saída do superintendente da corporação no Rio, Ricardo Saadi, no dia 15 de agosto.
Na época, a resistência de Valeixo em aceitar o nome sugerido por Bolsonaro, o do delegado superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, acabou por colocá-lo na mira do presidente. “Se eu não posso trocar o superintendente, posso trocar o diretor-geral”, enfatizou Bolsonaro, na ocasião.
Em sua equipe, Valeixo se cercou de nomes que trabalharam com a Lava Jato – entre os quais, o de Igor Romário de Paula, ex-titular da operação no Paraná. Igor foi nomeado diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor) da Polícia Federal, posto já ocupado por Valeixo. Além dele, foi indicado como diretor executivo Disney Rosseti, ex-superintendente da PF em São Paulo entre 2015 e 2018.
“Essa história de arejar a PF é que não entendemos. Se era para arejar, por que não se falou nisso em janeiro, quando foi trocada a administração da PF? O que deu errado de janeiro para cá? Por que esse movimento agora?”, criticou o presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, em referência à declaração de Bolsonaro de que era preciso dar uma “arejada” no comando da PF. (Com informações da Agência Estado)