Análise: veto de NY a Bolsonaro alerta para ameaças ao meio ambiente
Cancelamento de jantar com presidente no Museu de História Natural demonstra temor internacional com as ações do governo brasileiro
atualizado
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Assim como acontece em outras áreas do governo, os brasileiros ainda não têm noção das consequências da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) para o meio ambiente do país. Os sinais emitidos até agora, no entanto, apontam para o confronto com os setores identificados com as causas ecológicas.
Nessa segunda-feira (15/04/19), Bolsonaro sofreu o primeiro impacto de suas posições sobre as questões ambientais. Pelo Twitter, o Museu Americano de História Natural de Nova York anunciou a desistência de sediar o jantar em que a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos fará uma homenagem ao presidente.
Antes da decisão do museu, na sexta-feira (12), o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, deu uma declaração demolidora contra o capitão. Disse que Bolsonaro é “perigoso” não apenas pela homofobia e pelo racismo, mas também pelos efeitos sobre o que se passará com a Amazônia “daqui para frente”.
O vexame do cancelamento do jantar em uma das principais instituições científicas mundiais dá uma medida dos estragos esperados no meio ambiente durante o atual governo. Diante da possibilidade de recepcionar um presidente que questiona o aquecimento global, o museu fechou as portas para Bolsonaro.
Na montagem do governo, o capitão escolheu o advogado Ricardo Salles para comandar o Ministério do Meio Ambiente. Nos três meses e meio à frente da pasta, o ministro criticou a política de criação de áreas protegidas, reclamou do “excesso” de demarcações de terras indígenas e contestou a fiscalização ambiental.
Demissão no ICMBio
A postura de Salles encontra resistência fora do ministério e, também, entre integrantes da equipe que ele montou. Nesta segunda (15), o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Adalberto Eberhard, pediu demissão depois que o ministro anunciou a decisão de investigar agentes da instituição.
Outro movimento do governo contra as causas ambientais foi a manifestação de Bolsonaro, na semana passada, contra a queima de máquinas flagradas em ações de fiscalização. Pela lei atual, esses equipamentos podem ser destruídos. O governo quer restringir essa prática.
Ainda é cedo para saber como ficará o meio ambiente depois da administração atual. Mas, dentro do ministério, cresce a impressão de que Salles entrou disposto a desfazer as políticas protecionistas implementadas pelos últimos governos.
Para desalento dos ambientalistas, a sensação é que o ministro tem um plano consistente para inverter as prioridades da pasta, por exemplo, com medidas favoráveis ao agronegócio. Observadores atentos dos movimentos internos da pasta notam que Salles demonstra capacidade para implementar suas ideias.
Nessa linha, do ponto de vista de Bolsonaro, o escolhido para o Meio Ambiente se mostrou mais eficiente do que os nomeados, por exemplo, para os ministérios da Educação, Ricardo Vélez, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Sentido contrário
Vélez perdeu o cargo na última semana depois de demonstrar completo desconhecimento dos assuntos da pasta. Sem liderança entre os diplomatas e sem prestígio com Bolsonaro – que o preteriu no encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump –, Araújo também não tem envergadura para comandar o Itamaraty.
Ricardo Salles demonstra ser diferente. Pelo que fez até agora, ele aparenta ter preparo para implantar as propostas do governo Bolsonaro. O problema é que, do ponto de vista de especialistas e de instituições, como o Museu Americano de História Natural de Nova York, ele avança em sentido contrário aos interesses do meio ambiente.