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Análise: Rodrigo Janot parece maluco e, para piorar, ainda bebe

Ao dizer que quis matar Gilmar Mendes, ex-procurador assombra os Três Poderes em Brasília e faz lembrar antigas anedotas sobre bons de copo

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Reprodução/O Antagonista
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1 de 1 janot-bottini - Foto: Reprodução/O Antagonista

Duas notícias sacudiram Brasília no início da noite desta sexta-feira (27/09/2019). Episódio sem precedentes na história recente, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, perdeu o porte de armas, teve a casa e o escritório vasculhados pela Polícia Federal, um revólver apreendido, e foi proibido de se aproximar dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Vistas na TV, as cenas dos agentes no cumprimento da ordem do ministro Alexandre de Moraes (STF) chocaram os brasileiros. Até pouco tempo, no comando do Ministério Público Federal, Janot era responsável por requerer esse tipo de invasão na casa de investigados em processos de grande repercussão midiática.

O outro fato rumoroso da noite de sexta também tem relação com o ex-PGR. Os procuradores da Operação Lava Jato entraram na Justiça com um pedido de concessão de regime semiaberto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A sentença do petista decorre das investigações executadas nos quatro anos que Janot esteve à frente do MPF.

Curioso, o destino. No mesmo dia que Lula recebe um sinal favorável à liberdade – mesmo que parcial -,  Janot passa a ter problemas com a Justiça. Do ponto de vista simbólico, vistos no conjunto, os dois movimentos indicam uma troca de posição no tabuleiro.

Quem só atacava, agora tem de se defender. Quem conhece todas as etapas de uma condenação, começa a ganhar terreno nos tribunais. Pela importância dos personagens, nas próximas semanas, os desdobramentos dos fatos desta sexta vão concentrar a atenção dos brasileiros. 

O início de uma possível decadência de Janot coincide com uma fase de graves contratempos para a Lava Jato. Nesta semana, a força-tarefa de Curitiba – e as outras semelhantes – sofreu três golpes que remodelam o padrão de atuação dos investigadores.

A derrubada de 18 vetos presidenciais à Lei de Abusos de Autoridades, a posse de Augusto Aras na PGR e a decisão do STF de dar mais tempo para as alegações dos réus denunciados por delatores premiados estreitaram os horizontes das operações do MPF e da Polícia Federal.

De tudo o que se viu nos últimos dias, nada se mostrou tão surpreendente e intrigante quanto a entrevista de Janot para a revista Veja. Ninguém entendeu as razões que levaram o ex-procurador a dizer que, ainda no cargo, esteve perto de assassinar o ministro Gilmar Mendes dentro do STF. Na sequência, segundo disse, cometeria suicídio.

Por ser tão inusitada, a situação faz lembrar uma brincadeira comum, entre jovens, décadas atrás. Quando algum amigo fazia algo inadequado, dizia-se “parece doido e ainda bebe”. A chacota, de certa forma, aplica-se a Janot.

Embora nenhuma de suas atitudes tenha relação com o hábito, o ex-procurador tem fama de ser bom de copo. Ainda PGR, ele foi fotografado em um bar com Pierpaolo Bottini (foto em destaque), advogado do grupo JBS. Nada de irregular se soube da conversa, mas a imagem ficou famosa e reforçou o anedotário sobre a relação de Janot com bebidas.

Após esse episódio, o perfil fake “Janot Botequeiro” fez sucesso com tiradas de deboche. Depois da declaração sobre a tentativa de matar Gilmar, por exemplo, a conta postou uma foto em que os então procuradores Janot, Gilmar e outras pessoas dividiam uma mesa com taças de vinho.

Mas não há bebida que explique a inconveniência e a irresponsabilidade das afirmações do ex-procurador à revista. A simples hipótese de que ele quase tenha matado o ministro assombra os Três Poderes em Brasília.

Desde 2013, quando começaram as grandes manifestações contra o governo Dilma Rousseff (PT), o país vive solavancos que testam a estabilidade das instituições. A divisão política e a radicalização ideológica forçam os limites da Constituição de 1988. 

Nesse contexto, a Lava Jato teve papel preponderante para o confronto político que desaguou na eleição do direitista Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República. Com a entrevista, Janot renovou a carga de emoções e absurdos que deixam o ambiente pesado e tornam incerto o futuro do país.

Nada menos que tudo
Entre tantas estranhezas provocadas pelas declarações, em especial, uma dúvida atiça quem tem interesse no caso. O que teria levado Janot a contar esta história para a Veja? Deve-se destacar que ele sonegou os detalhes mais assustadores desse caso na entrevista que concedeu aos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin para o livro Nada menos que tudo, lançado pela Editora Planeta.

Se a intenção era fazer marketing para o livro, como muitos especulam, o ex-procurador provavelmente não imaginava que a ideia teria como consequência a ação de busca e apreensão em sua casa e em seu escritório. Por causa de suas palavras, ele agora enfrenta um processo no STF.

Outra hipótese seria Janot ter-se entusiasmado excessivamente com a entrevista para a revista e, sem travas na língua, falado mais do que devia. Parece ingênua demais, porém, nada impede que tenha ocorrido. 

Há, ainda, quem acredite que o ex-procurador tenha inventado toda a história de tentar matar Gilmar. Por algum motivo mirabolante, nessa linha de raciocínio, ele teria divulgado uma fantasia.

Essa alternativa também é possível. Mas, convenhamos, o sujeito precisaria ter bebido muito para chegar a esse ponto.

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