Análise: que turma é essa que jogou bomba no Porta dos Fundos?
Identificação de um possível suspeito pela polícia pode ajudar a compreender de onde vem a intolerância causadora de violência política
atualizado
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A possível identificação nesta terça-feira (31/12/2019) de um dos autores do ataque contra o Porta dos Fundos fornece uma pista importante para se entender a radicalização atual da política brasileira. Se confirmar a descoberta, a Polícia Civil do Rio de Janeiro terá oportunidade de mapear as relações dessa turma.
Do suspeito, Eduardo Fauzi Richard Cerquise, sabe-se que é empresário, filiado ao PSL, possui conexões com milícias e integralistas, tem perfil violento e se interessa por cristianismo e islamismo. Pesam contra ele mais de 20 ocorrências criminais por ameaça e agressão.
Esse é o cidadão que, segundo as investigações, participou do atentado com coquetéis molotov na madrugada do dia 24 de dezembro. Pelo contexto, o crime seria uma reação ao programa Porta dos Fundos que insinuou uma experiência homossexual de Jesus Cristo.
Goste-se ou não da peça humorística, as bombas atiradas contra a produtora representam uma afronta à liberdade de expressão assegurada pela Constituição. Quem se sente ofendido por uma manifestação artística tem caminhos legais e pacíficos – na Justiça – para reivindicar eventuais direitos.
Caso se confirme a identidade de um dos criminosos, a polícia terá mais chances de chegar aos outros responsáveis pelas bombas. A revelação dos nomes permitirá aos brasileiros conhecer um pouco do ambiente onde se formam as pessoas que recorrem à violência para protestar contra um programa de humor.
A partir das ligações pessoais e políticas dos criminosos, será possível compreender melhor de onde vem e a quem interessa esse ódio. Além de servir para punir os culpados, a compreensão das conexões talvez ajude a estancar a onda de intransigência que contamina o país.
O atentado da véspera do Natal representa um passo a mais na escalada da intolerância no país. A fúria contra o Porta do Fundos se soma aos ataques aos terreiros de religiões de matriz africana e à agressividade das discussões nas redes sociais.
Neste sentido, resta torcer para que em 2020 o ódio político seja menos nocivo para o Brasil do que foi no ano que passou.