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Análise: quanto vale uma palavra do superministro da Economia?

Ao ameaçar pedir demissão do cargo, Paulo Guedes alimenta especulações no mercado financeiro e contribui com a instabilidade do país

atualizado

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Paulo Guedes
1 de 1 Paulo Guedes - Foto: Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Quando um ministro da Economia ameaça pedir demissão, mexe com as expectativas do meio político e do mercado financeiro. Os desdobramentos de um gesto dessa natureza tornam-se ainda mais acentuados nos países em situação de fragilidade, como o Brasil.

Uma palavra dita pelo ocupante desse cargo pode alavancar negócios ou quebrar empresas. Estimular otimismo ou injetar pessimismo. A assinatura tem força para reduzir ou aumentar alíquotas, provocar lucros exorbitantes ou levar os desinformados à bancarrota.

Cada palavra de um ministro da Economia, então, tem valor incalculável. No mundo ideal, o titular da pasta deve medir os atos e as declarações.

Por isso, a afirmação do ministro Paulo Guedes, de que larga o cargo se não obtiver apoio para a reforma da Previdência – publicada pela revista Veja nessa sexta-feira (24/05/2019) –, causou espanto em quem acompanha esses assuntos de perto.

Logo agora, quando a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Previdência entra na fase decisiva para ser votada. Ao expor a possibilidade de jogar a toalha, mesmo que esteja blefando, Guedes se enfraquece junto aos políticos que vão decidir o que fazer com a PEC. Também demonstra, em larga medida, descompromisso com as medidas levadas ao Congresso.

Assim entendeu, por exemplo, o presidente da Comissão Especial que analisa a reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PR-AM). Na opinião do homem responsável por formatar o texto que será levado a plenário, Guedes foi “desrespeitoso” e precisa de “um choque de humildade”.

A soberba do ministro tem potencial para atrapalhar a tramitação da proposta de mudança no sistema de aposentadorias e pensões. Dificulta ainda mais o entendimento entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o Congresso, além de adiar a aprovação da PEC.

Se a relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso piorar mais um pouco, os parlamentares guardam uma alternativa para não ficar mal com a opinião pública. Nesse sentido, eles podem deixar de lado a PEC feita por Guedes e levar a plenário a proposta elaborada pela equipe do ex-presidente Michel Temer. Essa está pronta para ser votada, só falta a decisão política.

A aprovação de uma reforma da Previdência que não seja a formulada por Guedes seria uma derrota do governo Bolsonaro. Demonstraria falta de liderança do presidente e tiraria dele o mérito de – segundo creem – organizar as contas do setor.

Pavio curto
Com seguidas participações em audiências públicas no Congresso, Guedes se tornou conhecido dos brasileiros. Loquaz e de pavio curto, vez por outra perde um pouco as estribeiras, mas cumpre o papel de debater as propostas.

Agora, quando faz birra e ameaça ir embora da Esplanada, ele se distancia do objetivo do cargo e se aproxima do núcleo boquirroto que atrapalha o governo. Desse grupo, fazem parte o astrólogo Olavo de Carvalho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) e o próprio titular do Palácio do Planalto.

Pela importância do Ministério da Economia, o Brasil ficaria mais tranquilo se Guedes não copiasse essa turma.

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