Análise: quando a economia patina, qualquer “pibinho” anima o governo
Aliviado por evitar recessão técnica, Bolsonaro comemora crescimento de 0,4% no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses do ano
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) comemorou o crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre de 2019, comparado ao mesmo período do ano passado. Parece pouco e, de fato, esse é um índice pífio para um país com 12% de desempregados.
Mas, como as últimas previsões eram ainda mais pessimistas, o governo sentiu um alívio típico dos desesperados. Essa sensação de desafogo se explica, principalmente, porque o Brasil entraria em recessão técnica caso o trimestre tivesse apresentado crescimento negativo, como aconteceu nos primeiros três meses do ano (-0,1%).
Assim, o aumento de 0,4% em relação ao período de janeiro a março deu fôlego para o governo propagar um discurso de satisfação com o resultado obtido. Como acontece com um carro atolado, basta um pneu aluir um pouquinho para animar quem empurra. Quando a economia patina, qualquer “pibinho” serve para alegrar os governantes.
As melhores notícias para o governo saíram da indústria, setor que cresceu 0,7% no segundo trimestre em relação ao primeiro. As áreas de transformação (2%) e construção (1,9%) puxaram o PIB para cima.
No caso da agropecuária, o movimento foi para trás (-0,4%) na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre de 2019. Ainda assim, houve crescimento de 0,4% em relação ao mesmo período de 2018.
Esse resultado positivo, no entanto, está ancorado na retração provocada pela greve dos caminhoneiros em 2018. Mesmo assim, serviu como estímulo para quem esperava ainda menos. A previsão era que esse índice ficasse em 0,2% ou 0,3%.
A queda mais sentida no segundo trimestre se deu na agropecuária, com uma redução de 0,4% sobre o período de janeiro a março. Apesar do recuo, os produtores rurais mantêm a esperança de melhora dos índices no governo Bolsonaro.
Os representantes do agronegócio estiveram entre os segmentos que mais deram apoio à eleição do presidente. A bancada ruralista atua em sintonia com o governo e festeja, por exemplo, a flexibilização da posse de armas na área rural. Agora, os congressistas do setor têm esperança de que Bolsonaro consiga tirar o setor do atoleiro. Esperam, por exemplo, que o governo privatize portos e conclua ferrovias, medidas que ajudariam nas vendas para o exterior. Contam, também, com a aprovação das reformas da Previdência e tributária para mudar o ambiente na economia.
Nessa rota, a postura de Bolsonaro na condução da crise com países europeus provocada pelas queimadas na Amazônia joga contra os interesses dos exportadores instalados na região Norte. Mesmo assim, os ruralistas demonstram tolerância com eventuais perdas. Afinal, apostaram na eleição do presidente e ainda faltam mais de três anos de governo.
Por enquanto, o “pibinho” alcançado no primeiro semestre pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mostra-se suficiente para acalmar setores aliados de Bolsonaro – mesmo que as projeções para o ano de 2019 nem cheguem a 1%. Os próximos resultados vão indicar se os índices continuarão subindo – ou se não passam de voos de galinha, como se costuma dizer no mundo rural.