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Análise: petróleo provoca a maior instabilidade externa para Bolsonaro

Ataques na Arábia Saudita têm potencial para complicar a economia brasileira e desafiam presidente a evitar repetição da crise dos anos 1970

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Os ataques às instalações petrolíferas na Arábia Saudita abalaram o mercado mundial de combustíveis e criaram expectativa sobre como o Brasil vai enfrentar a situação. Ainda não se pode antecipar os reflexos do atentado na economia do país, mas desde logo se constata tratar-se da maior instabilidade externa para o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Até agora, as turbulências internacionais mais relevantes para o Brasil foram a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a crise com a França em torno das queimadas na Amazônia. Esses fatos, porém, tendem a ter reflexos menores na realidade do país.

Para se ter uma ideia da gravidade da crise, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Combustíveis (ANP), Décio Fabricio Oddone da Costa, afirmou que os ataques no Oriente Médio equivalem a uma espécie de 11 de setembro no mercado do setor. Referia-se, claro, ao atentado contra as Torres Gêmeas de Nova York, em 2001.

Na primeira reação, a Petrobras anunciou que, por enquanto, o fato não se desdobrará em aumento nos preços dos combustíveis para os consumidores brasileiros. A estatal vai acompanhar a evolução do mercado internacional antes de tomar medidas de impacto no comércio desses produtos no mercado interno.

Para Bolsonaro, este é um desafio com potencial para interferir decisivamente nos rumos de seu governo. O atentado será analisado esta semana, por exemplo, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que avaliará a taxa de juros no Brasil.

Uma das preocupações decorrentes da destruição das instalações na Arábia Saudita está relacionada à inflação. A redução da oferta de petróleo no Oriente Médio exerce pressão sobre os preços internacionais e, como consequência, pode onerar o bolso dos brasileiros.

Caso os derivados de petróleo passem a custar mais para os consumidores, as consequências serão imediatas na economia do país. Um dos segmentos mais vulneráveis e sensíveis aos preços dos combustíveis são os transportes rodoviários.

No ano passado, os caminhoneiros pararam o país por alguns dias e acuaram o governo Michel Temer (MDB). Agora, pela gravidade dos fatos, essa crise pode ser ainda maior.

Mesmo que outros países produtores aumentem a oferta de petróleo, o mercado levará algum tempo para se estabilizar. Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisarão necessariamente tomar decisões que vão interferir na bomba dos postos.

Pelo funcionamento do mercado, não se deve esperar redução dos preços. Mais fácil haver elevação.

Na América do Sul, um dos prováveis efeitos será um impacto positivo na economia da Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do mundo e dependente das exportações do produto. A queda nas cotação internacional da última década contribuiu em grande parte para a grave crise vivida pelo país. Agora, Nicolas Maduro ganha fôlego na briga para se manter no poder e, também, para negociar apoio internacional ao seu governo.

Por último, vale fazer um paralelo entre o impacto dos ataques na Arábia Saudita com a crise do petróleo da década de 1970. Na época, a elevação dos preços internacionais do produto atingiu fortemente a economia brasileira. Esse episódio jogou o país no período conhecido como década perdida e foi decisivo para apressar o fim da ditadura.

Curioso observar que o presidente da República era o general Ernesto Geisel, ex-presidente da Petrobras. Mesmo com esse emprego no currículo, o penúltimo presidente do governo militar foi incapaz de prever o furacão que implodiu os efeitos do período conhecido como Milagre Econômico.

Agora, cabe ao capitão Bolsonaro conduzir o Brasil na turbulência que chega do Oriente Médio.

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